Fraude: a filha predileta da falta de governança

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Infelizmente, a fraude é um fato social que existe desde os tempos mais remotos. Ela é endêmica. Trata-se da prática de um subterfúgio para alcançar um fim ilícito. Em nosso país, ela é um mal que se alastra de uma forma avassaladora nas mais diversas áreas. Desde as redes sociais até as grandes corporações. Reais ou virtuais.

Só em golpes online, brasileiros tiveram um prejuízo estimado de R$ 551 milhões no ano passado, segundo estudo da plataforma de venda online OLX e da AllowMe, ferramenta de prevenção à fraude e proteção de identidades digitais. Segundo o Mapa da Fraude 2022, produzido pela ClearSale, empresa de soluções antifraude e score de crédito, há registros de 5,6 bilhões de tentativas de fraude no varejo eletrônico.

São situações que atingem a população em geral, cujas consequências têm se tornado um verdadeiro problema social que vai do prejuízo financeiro até o constrangimento e estresse que, geralmente, levam a problemas graves de saúde. Isso sem falar nos casos ocorridos nas redes sociais.

Segundo a Serasa Experian, com base em dados de 2023, um brasileiro é vítima de fraude a cada 9 segundos.

Fraudes corporativas minam o caixa e o faturamento de empresas, causando prejuízos enormes aos seus ecossistemas produtivos e de suprimentos, além de colocar em risco suas próprias sobrevivências, como pudemos ver recentemente aqui no país, com um grande grupo varejista.

Muito se fala das consequências das fraudes e como o cidadão pode evitá-las. É claro que a gente pode tomar cuidados essenciais para evitar cair em golpes mais evidentes, mas me parece muitas vezes uma responsabilização exagerada de quem, na verdade, é vítima de ações cuja sofisticação é invisível ao cidadão comum.

Pelo lado das empresas, no sentido de proteger suas operações mais do que proteger a vítima, existe uma forte tendência de atuação, visando evitar a consumação do ato criminoso. Daí a grande popularidade das soluções antifraude, gestão de identidade, entre outras. São ações necessárias e importantes, mas que, infelizmente, não são suficientes para quebrar a cadeia perversa que tem na execução da fraude: a ponta do iceberg. Apesar do aumento do uso destas soluções pelo mercado, os números da fraude só aumentam a cada ano. O que pode ser feito?

A base da solução desse problema está na governança. Não somente a corporativa, mas seus desdobramentos nos cuidados com a segurança da informação e governança de dados. Privacidade e Proteção de Dados é uma disciplina fundamental. Se as organizações de todas as naturezas (principalmente aquelas que têm no uso de dados pessoais a base de suas operações), se preocupassem realmente com o ESG como dizem, muitas das causas raiz das fraudes seriam eliminadas.

Como exemplo, deixo aqui uma sugestão simples que, se fosse aplicada, poderia evitar muitos efeitos colaterais. Cumprir leis é uma prática essencial da governança corporativa, o G do ESG, já privacidade e proteção de dados é um objetivo de controle contido no S da sigla. Para aqueles que não sabem ou a ignoram, a LGPD é uma Lei, a Geral de Proteção de Dados. Basta cumpri-la de verdade, que darão um passo enorme no combate à fraude.

Deixo, contudo, uma pergunta ao leitor neste caso específico. Por que organizações falam tanto em ESG, mas acreditam que cumprir a LGPD é tão somente criar um arcabouço jurídico de proteção legal para se defender de possíveis demandas judiciais de titulares "oportunistas", ao invés de observar pelo menos o seu capítulo VII – Artigos 46º a 51º – que demonstra e propõe o que realmente precisa ser feito?

A fraude é a filha predileta da falta de governança. Um olhar atento ao nosso ambiente empresarial –  do primeiro ao terceiro setor – vai mostrar porque as fraudes só crescem em nosso país.

Enio Klein, influenciador e especialista em vendas, experiência do cliente e ambientes colaborativos com foco na melhoria do desempenho das empresas a partir do trabalho em equipe e colaboração. CEo da Doxa Advisers e professor de Pós-Graduação.

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