A pandemia provocou uma mudança de hábitos sem precedentes em nossa história, sendo que o trabalho remoto ganhou mais relevância. Atualmente, com a evolução da vacinação, estamos começando a avaliar como será o retorno aos escritórios e demais ambientes compartilhados – de forma segura e que ao mesmo tempo possibilite o contato entre as pessoas.
O desejo de uma expressiva parcela da população é voltar ao ambiente agitado do escritório, onde basta apenas olhar para o lado para falar diretamente com um colega, ou conversar enquanto tomam um café. No entanto, enquanto o risco da Covid-19 ainda é real, não há como retornar sem adaptar o espaço de trabalho a essa realidade. Felizmente, a tecnologia pode nos ajudar a remodelar os ambientes de trabalho, gerando, simulando e recomendando diversas adaptações que possibilitem um retorno gradual e mais seguro para todos.
Projetar espaços considerando o distanciamento social demanda a capacidade de considerar inúmeros fatores e analisar diversos dados sobre o comportamento das pessoas nos espaços físicos, sejam eles escritórios, escolas, hospitais, estádios ou atrações turísticas. Softwares que utilizam Inteligência Artificial (IA) e que são alimentados por imagens captadas por scanners 3D podem ser grandes aliados, sendo capazes de reproduzir os espaços digitalmente e propor alternativas de design, considerando parâmetros como a distância entre pessoas, mobilidade e circulação de ar, por exemplo.
O objetivo principal é simular a utilização dos espaços projetados digitalmente, com o objetivo de minimizar o risco de exposição e transmissão do vírus, por exemplo, reduzindo a proximidade, frequência e duração das interações sociais. O trabalho é desafiador e inúmeras variáveis podem influenciar seu resultado: as atividades que os ocupantes realizam e a maneira como se comportam; o limite de distância social, pois agentes infecciosos com distintos padrões de transmissão e gravidade podem exigir maior separação; além de padrões esperados de movimentação e do impacto de condições que podem afetar a mobilidade, como por exemplo a previsão de utilização por portadores de necessidades especiais. Isso afeta, além da configuração espacial, elementos periféricos que podem incluir mobiliário, divisórias, entre outros.
Nesse sentido, destaco dois projetos da Autodesk que foram capazes de redefinir espaços públicos e possibilitar o retorno seguro das pessoas. Um deles é o nosso novo escritório em San Francisco, nos EUA. Desenvolvido com base em todos os protocolos de segurança da Covid-19, este espaço flexível – que teve como ponto de partida uma pesquisa com os próprios funcionários para entender melhor comportamentos e padrões de utilização de espaços – buscou criar um senso de comunidade e colaboração, ao mesmo tempo em que ajuda a manter os funcionários saudáveis, seguros e inspirados. Com sua capacidade reduzida em 30% para apoiar o distanciamento físico adequado, ele se tornou referência para medidas sanitárias em nossas instalações ao redor do mundo.
Outra iniciativa muito interessante foi um trabalho conjunto com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), que está planejando diversas adaptações em seu espaço físico para a volta às aulas. Foi realizada a modelagem 3D do local, uma análise visual dos espaços, e depois a utilização de IA através de aplicação específica. Dessa forma, foi possível simular o impacto de cada alteração em seu campus, que estão sendo implementadas visando estabelecer um retorno gradual e seguro para todos os cursos, de acordo com a eficiência demonstrada por essas simulações.
A pandemia certamente terá um impacto profundo sobre como os escritórios e demais espaços públicos serão projetados e operados no futuro. Vamos superar essa crise e começar a explorar um mundo recheado de novas possibilidades, repensando o design sob a ótica da saúde e do bem-estar. Podemos afirmar que não há limites para a criatividade humana e sua expansão tecnológica – e que isso cria a resiliência que nos move a superar desafios e avançar rumo a uma sociedade cada vez mais sustentável, saudável e colaborativa.
Sylvio Mode, presidente da Autodesk Brasil.