Já é uma brincadeira em diversas rodas de conversa de marketing, dizer que o confinamento realizou a transformação digital de empresas mais rápido do que qualquer CMO/CTO conseguiu fazer. Não vamos seguir a conversa nesse caminho. O ponto agora é entender o quanto essa transformação de fato ocorreu, o que irá deixar como legado e como afeta grandes empresas.
Multinacionais com áreas fortes de marketing e tecnologia já discutem sobre, e se preparam para essa transformação há anos. Mas permanece a dúvida: Como empresas e negócios tradicionais reagiram à essa tendência? Afinal, me parece muito mais desafiador aplicar uma mudança tecnológica e cultural em uma siderúrgica ou na indústria química, do que em uma empresa de bens de consumos, ou em um varejo.
O que temos observado entre clientes e no mercado é que a transformação digital, como qualquer outra palavra da moda, tem algumas características perigosas: Efeito Manada ("vou fazer porque todos os meus concorrentes estão fazendo") e Confusão no Conceito (Digitalizar um catálogo e criar um site é um passo no caminho, mas não é a transformação digital).
Na visão da Simplex, a transformação digital tem pilares principais que devem ser tratados com a mesma importância. O uso de tecnologia como método, a exploração de canais digitais como pontos de contato, a simplificação e automação de processos e uma larga transformação cultural. Esta última, requer mais tempo e energia do que as anteriores.
Nos últimos 5 meses (sim, já são 5 meses) vivemos essas conversas e questionamentos, e a seguir, listo quais as armadilhas e como evitá-las. Já caímos em algumas delas, por isso considero essa lista especialmente valiosa:
Demanda de profissionais
– Com o aumento repentino dos investimentos em tecnologia (por vezes migrado de áreas off-line) vemos o aumento da demanda por profissionais, inflacionando cargos e salários. O problema aqui está em acreditar que contratar uma pessoa de um mercado ou de uma empresa já digitalizada irá resolver o problema. E não vai. Inflacionar salário, colocar alguém junior em um cargo mais sênior ou cobrir uma oferta, pode gerar frustração de todos os lados. A minha dica é buscar talentos internos, focar em treinamento e criar um processo de transformação em conjunto com quem já tem experiência – Agências e consultorias podem ajudar nesse caminho.
Excesso de tecnologia
– Percebemos também que muitas empresas, de uma hora para outra, querem fazer tudo ao mesmo tempo. Contratar tecnologias de CRM, banco de dados, big data, HR Analytics, trabalho remoto… Isso também não funciona. Além de custar caro gera ineficiência, e forçar um time a se adaptar a diversos processos novos ao mesmo tempo nem sempre é a melhor ideia. Nossa sugestão é que se avaliem as tecnologias e o motivo de cada aquisição. Tal atitude pode economizar muito tempo e dinheiro.
Conflitos conceituais
– Por último, deixamos a questão dos conflitos que observamos, sobretudo entre áreas diferentes com intenções parecidas. Em todas as empresas existem áreas que possuem grande sinergia (marketing e tecnologia ou RH e financeiro, por exemplo) e áreas parecidas as vezes tem problemas em comum. Observei que em vários momentos, na ânsia pela rápida digitalização da empresa, áreas diferentes tentaram resolver o mesmo problema com abordagens diferentes, e aí a história é sempre a mesma: dificuldade na adoção, gastos desnecessários e consumo elevado de tempo. Para isso, o caminho é sempre avaliar as mudanças culturais e de tecnologia de forma global, mapear todos os processos e atividades, tentando buscar sinergias.
Este longo e difícil momento do mundo e do mercado exige energia e criatividade. Aqui dividimos com os leitores algumas dicas que gostaríamos de ter recebido há 5 meses! Se você está no caminho, ouça com carinho! De qualquer forma, acreditamos que todo o processo de inovação e evolução vem dessa forma: observando, catalogando e aprendendo com as dificuldades! Boa jornada!
João Lee, cofundador da startup brasileira Simplex, especialista em plataformas digitais de Analytics e CRM, atuou, desde 2009, em grandes marcas de varejo, dentre as quais a CNOVA Brasil, onde foi o responsável pelo desenvolvimento da área de Web Analytics. Lee é graduado pela ESPM-SP em Comunicação Social.