Pesquisadores e professores da área de comunicação alertaram na semana passada para os rumos dos testes com o sistema de rádio digital. Em carta divulgada pela internet, eles enumeram sete ?preocupações? com o processo de escolha do novo modelo, entre elas a falta de metodologia nos testes e a baixa eficiência de transmissão no padrão americano In Band – On Channel (Iboc), defendido pela Associação Brasileira de Emissores de Rádio e Televisão (Abert).
Em relação aos testes, além de cobrar a padronização de critérios, os professores afirmam que não estão sendo testados recursos de interatividade e mecanismos que favoreçam a integração do rádio com outras mídias. ?O que pode significar a perda da possibilidade de intensificar a participação dos ouvintes na programação das emissoras?, diz o documento.
Os professores e pesquisadores acompanham, voluntariamente, testes de emissoras cadastradas pela Anatel. Há dois anos, cerca de 20 emissoras testam dois modelos de rádio digital, o norte-americano Iboc e o europeu Digital Radio Mondiale (DRM). As experiências devem subsidiar a escolha do modelo a ser adotado no Brasil. No entanto, até agora, a Anatel disse não ter elementos para realizar uma análise técnica dos modelos.
No documento, também não faltaram críticas ao modelo Iboc. ?Os pesquisadores observaram problemas de interrupções abruptas do sinal digital em locais onde havia fios de alta tensão (rede elétrica), prédios e túneis, forçando o aparelho receptor a transmitir no modelo analógico, com atraso que pode chegar a oito segundos?, diz o texto.
O professor Luiz Artur Ferraretto, da Universidade Luterana do Brasil, explica que com esse atraso, chamado de delay, o brasileiro pode até ter que mudar o hábito de assistir jogos de futebol acompanhado de seus aparelhos de rádios. ?Nos testes realizados, esse delay significa que o sujeito verá o gol na frente dele no estádio e ouvirá o grito de gol depois de seis ou 12 segundos?, disse. Para ele, não existe a necessidade de migrar de tecnologia antes de ter certeza da qualidade dos novos sistemas.
Os pesquisadores também destacaram que devido aos custos do processo de digitalização, rádios educativas e comunitárias podem ter dificuldades para fazer a transição, já que 50% das emissoras provavelmente terão que trocar os transmissores a válvula por modulares e adequar à produção radiofônica, com a troca de equipamentos do estúdio, por exemplo.
Outra preocupação diz respeito ao modelo proprietário de tecnologia do Iboc. Diferentemente do sistema europeu (DRM), o norte-americano pode obrigar os radiodifusores a pagarem royalties à empresa Ibiquity, que administra o modelo. A sociedade civil também alerta para os altos custos da digitalização. Porém, o Ministério das Comunicações já sinalizou com financiamento público para a transição.
Com informações da Agência Brasil.