Estratégia ou fascínio? Como escapar da hipnose social na era da IA

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A hipnose, frequentemente associada a palcos e terapias alternativas, também pode ser compreendida como um fenômeno social que nos afeta de formas sutis e cotidianas. Segundo um estudo divulgado na imersão em Inteligência Artificial, que participei pela StartSe University, em Palo Alto (CA), cerca de 16% da população mundial é hipnotizável sem permissão, ou seja, essas pessoas podem ser influenciadas de maneira quase automática, sem consciência plena do que está acontecendo. Isso nos leva a uma reflexão intrigante: será que somos todos mais suscetíveis à hipnose do que gostaríamos de admitir?

Seja diante de paixões pessoais, como o futebol, ou em contextos de comportamento coletivo, como em manifestações ou brigas de multidão, a "hipnose social" parece estar presente em nossas vidas constantemente. Mas, e quando ampliamos essa perspectiva para o mundo dos negócios, especialmente para a Inteligência Artificial? Estaríamos também sendo "hipnotizados" pelo avanço acelerado e perspectivas, sem nos questionarmos criticamente sobre a direção que estamos tomando?

No cotidiano, é fácil perceber como interesses específicos podem servir de gatilho para uma espécie de hipnose social. No futebol, por exemplo, torcedores frequentemente defendem seus times ou atletas com argumentos irracionais, ignorando fatos ou lógicas contrárias. Nesses momentos, o foco não está na busca pela verdade, mas sim em sustentar a visão que reforça sua identidade como torcedor.

Também podemos observar os comportamentos das multidões que, sob influência do coletivo, agem de forma impulsiva, "seguindo o fluxo", sem reflexão individual. Esse fato mostra como, em momentos de forte apelo emocional, a racionalidade pode ser substituída por forças externas.

Os exemplos acima citados são pequenas amostras de como somos influenciáveis. Não estamos falando de uma hipnose com pêndulos ou comandos diretos, mas de uma forma mais sutil, em que interesses, emoções e o contexto coletivo assumem o controle das nossas ações e decisões.

No universo da Inteligência Artificial, vivemos uma era de promessas revolucionárias: do trabalho às relações pessoais, passando pela ciência, saúde e até mesmo pela arte. É fácil ser "hipnotizado" pelo fascínio da tecnologia e nos deixar levar pelo entusiasmo — ou dependência — sem questionar as implicações mais profundas.

No cenário global, países como Índia e Emirados Árabes estão adotando abordagens distintas em relação à IA. Construíram universidades e centros de IA acessíveis a todos, investindo na formação de estudantes, profissionais e líderes de todos os níveis, visando integrar a IA de forma ampla, para que obtenham o melhor retorno que ela pode dar.

Já em outros locais, como aqui no Brasil, ainda prevalece uma visão mais limitada e imediatista, centrada em questões menos estratégicas, como por exemplo, na "engenharia de prompts". Embora útil no curto prazo, essa visão pode levar a um mercado superficial que depende mais de comandos pré-definidos do que de um entendimento profundo sobre como a IA realmente funciona e como pode ser aplicada de forma estratégica.

O que preocupa é que essa postura reflete um movimento de "nivelamento por baixo". Estamos sendo conduzidos por uma "hipnose social" em direção ao uso superficial da IA, enquanto outros países investem em infraestrutura, conhecimento avançado e aplicação estratégica. Dessa forma, corremos o risco de perder representatividade internacional.

Muitas empresas e profissionais seguem tendências sem refletir criticamente, simplesmente reagindo às demandas impostas pelo mercado global. O risco é criar dependência de tecnologias desenvolvidas por outros países, nos afastando da inovação.

A boa notícia é que podemos reverter esse cenário. Para isso, é necessário:

1. Incentivar o pensamento crítico: Não basta apenas aprender a usar a IA; é essencial entender o "porquê" e o "para quê". Precisamos de uma abordagem estratégica que vá além do imediato.

2. Investir em educação avançada: Políticas públicas e iniciativas privadas devem priorizar o ensino de IA em todos os níveis, desde as escolas até a capacitação de líderes e profissionais experientes. Isso inclui a criação de universidades e centros de pesquisa dedicados. Esse raciocínio vale para empresas também.

3. Fomentar a colaboração: Empresas, governo e academia precisam unir forças para construir um ecossistema robusto de inovação tecnológica, onde o Brasil possa competir de igual para igual com outras nações.

4. Ultrapassar o imediatismo: Devemos abandonar a visão de curto prazo e adotar estratégias que tratem o conhecimento, como um ativo planejado.

Se a hipnose social nos torna vulneráveis, também nos oferece a oportunidade de despertar. Reconhecer nossa suscetibilidade a influências externas é o primeiro passo para retomar o controle. No contexto da Inteligência Artificial, isso significa olhar além do fascínio inicial e investir no que realmente importa: educação, autonomia e estratégia.

Enquanto outros países estão criando bases para liderar a revolução da IA, cabe a nós, brasileiros, decidir se queremos ser espectadores, usuários de ferramentas ou protagonistas dessa transformação. Afinal, se a multidão só segue, alguém precisa guiar o caminho. Que sejamos nós!

Ricardo Villaça, CAIO – Diretor de Inteligência Artificial da DRL AI.

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