No universo da cibersegurança, onde os desafios tecnológicos se somam às ameaças constantes, aprendi que o essencial é o profissionalismo e a capacidade de se preparar para o inesperado – independentemente de gênero. Desde o início da minha trajetória, nunca me defini pelo simples fato de ser mulher. Ao invés disso, foquei em construir uma carreira sólida, alicerçada em objetivos claros e na busca incessante por conhecimento e excelência. Foi fácil? Não. Passei por algumas situações difíceis? Sem dúvida. Errei algumas vezes? Claro que sim, faz parte. Mas para mim, ser mulher ou homem não deveria influenciar a percepção de competência; é o desempenho que conta, e o mercado de TI precisa reconhecer isso. E neste mês em que celebramos a Mulher, gostaria de falar sobre como nós construímos uma identidade profissional.
Sempre acreditei que o diferencial está em se colocar como uma pessoa dedicada, que estabelece metas e trabalha com afinco para alcançá-las. Não se trata de adotar um modelo distinto por ser mulher, mas sim de demonstrar que a qualidade do trabalho e a paixão pelo que fazemos são universais. No entanto, não podemos ignorar que vivemos em uma sociedade machista, onde, historicamente, as mulheres carregam um peso extra de obrigações e cobranças. Essa sobrecarga muitas vezes afeta o julgamento que as empresas fazem e, consequentemente, o reconhecimento de nossas capacidades. Herança de uma realidade onde o homem deveria ser responsável em prover e a mulher de cuidar da casa e dos filhos. Hoje a metade dos lares brasileiros tem uma mulher como responsável financeira e na grande maioria, também com os cuidados domésticos.
O peso das expectativas
As mulheres frequentemente se veem diante de sacrifícios e de uma autocrítica exacerbada. Existe uma relação de parceria necessária para que possamos avançar sem o ônus de tentar ser perfeitas em tudo. Reconhecer nossas limitações e, ao mesmo tempo, valorizar nossas conquistas é fundamental. É preciso, inclusive, que as mulheres aprendam a se julgar com mais compaixão, pois a cobrança interna pode ser tão desafiadora quanto os obstáculos externos. A vida é feita de escolhas, e cada decisão pavimenta o caminho para uma nova geração que, felizmente, começa a demonstrar evoluções significativas na forma como se posiciona no mercado de trabalho.
O Posicionamento
Sinto, diariamente, a falta de mais mulheres em ambientes estratégicos da cibersegurança. Uma pesquisa realizada em 2021, a Woman in Technology, apontou que as mulheres ocupam menos de 20% dos cargos das áreas de tecnologia no Brasil. É crucial que nós nos posicionemos de forma assertiva e mostramos nossa propriedade – independentemente do cargo ou da posição hierárquica. Se não nos posicionarmos, corremos o risco de sermos ofuscadas pelas próprias inseguranças e, pior, de ver nosso potencial subestimado. O desafio de ser questionada até mesmo pela própria equipe, por vezes, se converte em uma oportunidade para reafirmar nossa resiliência e competência. Cada crítica, cada desafio, é um convite para aprimorarmos nossa liderança e consolidarmos nossa identidade profissional.
O Caminho
A cibersegurança é um campo que exige atualização constante, inovação e, sobretudo, coragem para enfrentar o inesperado. Enquanto profissionais, precisamos demonstrar que nosso valor não é determinado pelo gênero, mas sim pelo compromisso com a excelência e a capacidade de transformar desafios em oportunidades. O mercado tem que entender que o futuro depende de um posicionamento mais forte, onde o mérito e a competência prevaleçam sobre estereótipos ultrapassados.
Convido minhas colegas e futuras líderes a se posicionarem com propriedade e a acreditarem que, ao romper barreiras e superar expectativas, estamos não apenas fortalecendo nossas carreiras, mas também contribuindo para a evolução de um setor que precisa, urgentemente, abraçar a diversidade como um dos seus maiores ativos.
Isabel Silva, Security Business Development Director da Add Value.