Imagine o setor bancário como uma grande construção feita de peças interconectadas, onde cada bloco representa um sistema, um processo, uma regra regulatória ou uma necessidade de segurança. Tradicionalmente, construir essa estrutura exigia um trabalho meticuloso e muito tempo. No entanto, as novas exigências do mercado impõem aos bancos o desafio de reformular sua construção, tornando-a mais ágil, escalável e adaptável às constantes mudanças.
Historicamente, os bancos construíram suas operações com soluções monolíticas que, embora eficazes no passado, hoje funcionam como grandes blocos rígidos e pouco flexíveis. Assim como uma construção na qual os componentes não podem ser facilmente rearranjados sem comprometer a estrutura, esses sistemas são difíceis de expandir e adaptar às novas demandas do mercado. Esse cenário cria uma barreira significativa à inovação e à agilidade, que são essenciais para a competitividade no setor bancário.
Entre os principais desafios enfrentados pelas instituições financeiras, estão o volume massivo de dados, que exige tecnologias robustas para gerar insights relevantes; a escala das operações, que demanda sistemas com alta disponibilidade, segurança e qualidade; e a manutenção de relacionamentos de longo prazo, que exige uma experiência multicanal consistente. Movimentos como fusões, aquisições e parcerias estratégicas ampliam a necessidade de integrar rapidamente diferentes ambientes tecnológicos. Além disso, os riscos financeiros e cibernéticos constantes exigem soluções ágeis para garantir a competitividade e a confiança dos clientes.
Low-code: a peça que muda o jogo
Para se manterem competitivos, os bancos precisam reformular seu "LEGO bancário" com soluções mais flexíveis e adaptáveis. É aí que o low-code faz toda a diferença. Essa abordagem permite criar soluções personalizadas rapidamente, transformando estruturas rígidas em sistemas dinâmicos e escaláveis. Como um componente versátil que se encaixa facilmente em qualquer parte da construção, essa tecnologia oferece eficiência e inovação contínua, permitindo que os bancos respondam rapidamente às demandas do mercado.
Diante desse cenário desafiador, é essencial que os bancos adotem abordagens mais ágeis e adaptáveis. O low-code surge como uma solução estratégica para essa necessidade. Isso facilita a criação, manutenção e evolução das aplicações, permitindo que os bancos integrem novos serviços com agilidade – como encaixar peças de LEGO. O Gartner prevê que, até o final deste ano, 70% dos novos aplicativos serão desenvolvidos com pouco ou nenhum código.
Essa flexibilidade é ainda mais evidente quando um banco precisa adicionar uma nova funcionalidade ou integrar um serviço de uma fintech recém-adquirida. Com low-code, é possível integrar esse novo componente no ecossistema existente sem a necessidade de reconstruir toda a arquitetura digital. O resultado? Redução de tempo e custos de desenvolvimento, além de uma capacidade incomparável de adaptação em um mercado em constante transformação.
O encaixe perfeito para a inovação
Os benefícios desta arquitetura vão além da agilidade no desenvolvimento – eles trazem um novo patamar de eficiência para a construção bancária. Uma das principais vantagens é a personalização e adaptação. Com interfaces visuais e catálogos de componentes pré-construídos, as plataformas low-code permitem que desenvolvedores combinem estes componentes e criem soluções sob medida para as necessidades de negócios com rapidez e eficiência. Isso é essencial em um mercado onde os clientes exigem experiências personalizadas e fluidas, possibilitando ajustes rápidos em interfaces de aplicativos, adição de novos serviços digitais e integração de funcionalidades de IA generativa para aprimorar a experiência do usuário.
Além da flexibilidade, esta abordagem também reduz significativamente os custos operacionais. Ao centralizar o desenvolvimento em uma plataforma única, os bancos economizam em licenciamento de software e treinamento de equipes, além de simplificar a manutenção, a atualização e a evolução das aplicações. Isso reduz o tempo de suporte técnico e aumenta a eficiência operacional. Essa tecnologia está redefinindo o setor bancário, onde agilidade e inovação são cruciais para a competitividade.
A construção vai além das peças
Apesar dos benefícios, a adoção do low-code não está isenta de desafios. Um dos principais é a escolha da plataforma certa. O mercado oferece diversas soluções de plataformas Low-Code, e nem todas oferecem o mesmo nível de flexibilidade, segurança ou suporte para integrações complexas. A escolha inadequada pode resultar em custos elevados de licenciamento e dificuldades para adaptar a plataforma às necessidades específicas da instituição financeira.
Por isso, é sempre fundamental verificar o histórico da plataforma escolhida, seus investimentos em inovação, o tamanho do seu ecossistema e os casos de usos específicos para o setor financeiro. Quanto à adoção, a melhor estratégia é sempre pensar grande, começar pequeno e escalar rapidamente, utilizando uma abordagem gradual e constante do uso desta tecnologia para resolver os diversos problemas das áreas de negócios.
O futuro do setor bancário é sob medida
Assim como o LEGO evoluiu para conjuntos mais sofisticados, o low-code também está em constante transformação. A integração com inteligência artificial generativa permite automações mais avançadas e customizadas, criando experiências digitais hiper personalizadas, como assistentes virtuais que compreendem as necessidades financeiras dos clientes em tempo real. Além disso, ela facilita a integração com serviços de terceiros, ampliando a oferta de produtos financeiros, e aumentando a fidelização dos clientes.
Essa arquitetura está transformando o setor bancário ao possibilitar o desenvolvimento ágil de soluções e a flexibilidade necessária para acompanhar as mudanças do mercado. No entanto, o sucesso dependerá de uma abordagem estratégica que supere barreiras culturais e escolha as plataformas adequadas. Para se destacar em um mercado competitivo, os bancos devem considerar o low-code como peça-chave em sua estratégia de inovação. Aqueles que souberem integrar essa tecnologia com estratégias inovadoras estarão mais preparados para se adaptar rapidamente às mudanças do setor.
Leandro Torres, CEO da Smart Coding Lab.