Cabe ao CEO sempre tomar as decisões mais significativas de uma empresa e recentemente muitos deles estão usando a I.A. para contribuir com elementos para que essa decisão seja tomada de forma estratégica. Nesse sentido não há dúvida de que a inteligência artificial está reconfigurando o cenário corporativa em todos os setores – da saúde ao varejo, da manufatura à logística. Contudo, o elemento mais intrigante dessa transformação é a forma como ela está redirecionando o processo de tomada de decisões nas organizações, um aspecto que nos leva a questionar a dicotomia fundamental entre o julgamento humano e as sugestões orientadas pela I.A.
Com toda sua habilidade de analisar quantidades maciças de dados e extrair insights valiosos, a I.A. promete transformar a tomada de decisão em algo mais preciso e eficiente. Mas, quando a I.A. e a "intuição" humana não concordam, a quem deve ser dada a palavra final?
No setor financeiro, por exemplo, as empresas estão usando a I.A. para detectar fraudes de cartão de crédito. Através da I.A. é possivel detectar anomalias sutis em padrões de transações que um analista humana pode facilmente ignorar. No entanto, quando um cliente contesta o alerta de fraude, é a sabedoria humana, ancorada na interação pessoal e na compreensão do comportamento humano, que pode prevalecer.
A discussão fica mais intrigante quando consideramos as implicações em larga escala. O que acontece quando as recomendações de IA divergem da humana em questões estratégicas de negócios? Por exemplo, a IA pode sugerir uma estratégia de produtos e market share baseada em análise de dados e previsão de mercado, mas os líderes humanos, com experiência e compreensão dos fatores qualitativos, podem ter uma opinião diferente.
Na minha visão a chave nesse contexto se chama simbiose. É estranho pensar nesse mecanismo de sobrevivência, mas a IA e os seres humanos devem trabalhar juntos, aproveitando o poder dos dados e da intuição, respectivamente.
No livro "Human + Machine" o diretor de tecnologia da Accenture, Paul Daugherty, discute a ideia de "reimaginar o trabalho" aonde IA e humanos colaboram, resultando em um desempenho superior em comparação a qualquer trabalhando isoladamente. Importante mencionar também que mesmo que uma empresa ou CEO decida baseado em I.A. é fundamental que haja transparência sobre como o algoritmo foi criado e quais mecanismos são usados para reforçar o aprendizado.
Os Conselhos de Administração trarão em suas pautas o tema da construção de algoritmos mais complexos que serão usados para decisões que podem mudar o rumo das empresas. Serão reuniões mais técnicas, fundamentais para que todos concordem com as "chaves" a serem inseridas nos algoritmos.
O CIO/CDO deverá também ter a habilidade de conduzir isso de forma executiva junto aos conselhos. Caberá a esses profissionais trazer transparência para que o board possa tomar a decisão.
Em curto prazo também veremos auditorias especializadas em I.A. analisando os algoritmos usados para tomar decisões, principalmente as financeiras. Isso se chama "explicabilidade" e a União Europeia já saiu na frente nesse sentido criando alguma regulamentação.
A inteligência artificial é tão eficaz quanto os dados em que é treinada. Portanto, é vital considerar a qualidade e a representatividade dos dados utilizados. Dados de baixa qualidade ou tendenciosos podem levar a I.A. a tirar conclusões erradas ou injustas. Além disso, o viés na inteligência artificial não é apenas um problema de dados – pode ser introduzido durante o design do algoritmo ou a fase de interpretação.
As lideranças devem investir no treinamento e na educação de seus times para que eles possam entender e interagir efetivamente com a IA. Ao mesmo tempo, as empresas devem garantir que a IA seja transparente e compreensível. Veremos em todos os PDIs de quase todos os times uma amplitude maior de conhecimento e de treinamento sobre I.A., desde algo simples como desenvolver bons prompts até possibilidade de desenvolver pequenos códigos para serem executados em planilhas ou em outros tipos de documentos.
A adoção da I.A. no local de trabalho não apenas transformará a maneira como o trabalho é feito, mas também o próprio mercado de trabalho. Embora haja temores de deslocamento de empregos devido à automação, a I.A. também criará novos empregos e demandará novas habilidades. As empresas precisam investir no treinamento e na educação de seus funcionários para prepará-los para a economia baseada em I.A. permitindo que eles se adaptem e prosperem nesta nova realidade.
No final, a questão não é se a I.A. ou o humano deve ter a palavra final. A questão é como podemos orquestrar o pensamento humano e da IA para alcançar a melhor decisão possível.
No final não se trata de substituir e sim de impulsionar.
Willian Domingues, CIO da Paschoalotto.