A terceirização das áreas de recursos humanos no Brasil evolui em busca da maturidade. Não se trata mais, simplesmente, de terceirizar serviços de folha de pagamento, opção a que durante muitos anos esteve restrita a atividade dos provedores de serviços de outsourcing. As mais modernas formas de terceirização abrangem agora a maioria dos processos transacionais de RH, envolvendo não só a folha de pagamento, como também controle de freqüências dos empregados, procedimentos para contratações e desligamento de funcionários, declaração de rendimentos para imposto de renda, ajustes às mudanças na legislação, vale transporte, vale alimentação, salário família etc.
Ao mesmo tampo, os modelos de negócios comportam desde o aluguel de aplicativos, conhecidos como ASP (Application Service Providers), a contratação de provedores para processamento de serviços remotos, até avançadas soluções de BPO (Business Process Outsourcing), já com cases de sucesso no exterior, que, além de abarcar todos os processos transacionais, inclui também a oferta terceirizada de infra-estrutura de tecnologia para processamento das aplicações, como redes, servidores e sistemas de armazenamento de informações.
"A experiência de BPO já contabiliza exemplos vencedores no mercado internacional, mas o grande desafio no Brasil é convencer as empresas a aceitarem a possibilidade de entregar o processamento de suas aplicações transacionais de recursos humanos a parceiros de negócios. Isso seria quebrar paradigmas que existem atualmente nesse mercado. Muitas empresas não estão acostumadas a ver parceiros em todas as áreas de RH", avalia Rodolfo Eschembach, líder de consultoria para organizações e talentos da Accenture, empresa global de tecnologia, consultoria e outsourcing.
Onda do BPO
A venda de serviços terceirizados na área de RH deve impulsionar uma nova onda de crescimento de BPO, inclusive voltado para o mercado internacional, avalia estudo da IDC. Segundo a consultoria, esse crescimento começa a impactar no mercado de trabalho e deve ampliar as operações dos principais provedores locais e internacionais como Accenture, ADP, KPMG, HP/EDS, IBM, Pricewaterhouse&Coopers e CPMBraxis.
Apesar do cenário bastante promissor para o avanço do outsourcing de RH no Brasil, os analistas insistem que é preciso, antes de tudo, que algumas barreiras sejam superadas pelos provedores de serviços. A principal delas é de ordem cultural, já que muitas empresas continuam cultivando o temor de que com a terceirização passarão informações críticas para provedores que podem estar abrigando em seu elenco de clientes, também, empresas concorrentes.
Apoio à rápida expansão
Com grandes contratos fechados na Europa, alguns dos quais clientes globais que devem estender os efeitos das ações para suas subsidiárias no Brasil, a Accenture se prepara para realizar projetos de BPO, igualmente, em grandes empresas brasileiras. A consultoria já conta com uma rede de 53 delivery centers, centros especializados em outsourcing, um dos quais implantado em Barueri (SP), que sustentam um a estratégia de atuação centrada em operações de serviços de RH na casa dos clientes (in house). O alvo são empresas de segmentos industriais, governo, finanças e telecomunicações, informa Eschembach. "O que os clientes esperam é que os processos terceirizados ocorram muito bem, nas mãos dos parceiros, e eles possam tocar tranqüilamente, sem interrupções, a parte mais estratégica da área de RH. Com isso, podem se dedicar efetivamente a desenvolvimento de seus negócios, com um crescimento rápido e com qualidade", afirma o executivo.
Adesão crescente
Pesquisa realizada em 2007 pela Associação Brasileira de Provedores de Outsourcing em Recursos Humanos (ABPO) indica que é cada vez mais elevado o índice de adesão das médias e grandes empresas à terceirização de processos de RH. "O amadurecimento cada vez maior do mercado brasileiro mostra que as empresas buscam não só ampliar os serviços de outsourcing de RH, como também contratar mão de obra necessária à execução das rotinas, agregando metodologia, software, hardware, infra-estrutura de hospedagem de aplicações e rede de comunicações", diz Renato Morcelli, diretor de marketing da ABPO.
Negócio fértil
As estimativas da ABPO são de que, só em 2006, o setor, incluindo os escritórios de contabilidade, movimentou no País mais de 700 milhões de reais, equivalente a 340 milhões de dólares. A maior parte da receita foi proveniente da terceirização processos transacionais de recursos humanos, conhecida como BPO, com 74% do total, seguida do modelo ASP, com 20,8% das vendas.
Projeções da entidade indicam que o mercado de terceirização de serviços de RH deve passar de um valor estimado de 840 milhões de reais em 2007, para 1,5 bilhão de reais em 2011. A participação dos negócios com serviços BPO no total do faturamento deve sair dos 12,3% registrados em 2006 para 34,6% dentro de três anos.
Mais segurança
Várias empresas brasileiras decidiram apostar na terceirização dos serviços de RH com objetivo de diminuir a burocracia nos processos internos e aumentar a segurança das informações. É o caso da Sodexho Pass, prestadora de serviços no segmento de cartões e vouchers de benefícios, pertencente ao grupo Sodexho, que contratou a ProPay, para terceirização dos processos de negócios que envolvem administração de pessoal, folha de pagamento e gestão de benefícios, além da criação de um portal de RH e controle de ponto de 350 funcionários.
"Com o portal, os gerentes podem formular relatórios, solicitar promoções, verificar freqüência, enfim, extrair informações de maneira rápida e integrada, diminuindo a burocracia nesses processos", conta Ariel Santana, gerente de informática da Sodexho Pass.