O último ano forçou as empresas a acelerarem projetos de transformação digital e se tornarem mais centradas em dados para aprimorar sua vantagem competitiva. A resposta das empresas à pandemia também deu destaque à crescente barreira analítica – a diferença entre as empresas que podem rapidamente levantar insights orientados por dados e automatizar processos em resposta a grandes eventos globais, e aquelas que não podem.
Os dados continuam a ser um dos ativos mais importantes de qualquer empresa, mas para muitas que ainda tentam extrair valor de seus dados, os benefícios da análise permanecem fora de alcance. Para as empresas que desejam cruzar a barreira analítica e mitigar mais imprevistos, uma série de mudanças organizacionais deve ocorrer para garantir a proteção e a utilização adequada de seus dados. Estas mudanças, no entanto, exigem algumas modificações estruturais importantes.
Com um fornecimento infinito de dados disponíveis para as empresas, o papel do Chief Data Officer (CDO) como agente de mudança tornou-se de vital importância para as organizações que procuram se manter competitivas e desenvolver uma tão necessária cultura de dados. O CDO garante que os padrões de dados apresentados aos tomadores de decisão não só sejam entregues de uma forma que possa ser compreendida, mas também fornecem insights com base neles, fornecendo as ferramentas corretas para tornar esse objetivo uma realidade.
Muitas empresas mais adiantadas nessa área já designaram um CDO para supervisionar sua transformação digital. Esse executivo toma decisões relativas a investimentos em equipes de dados e capacidades analíticas. Seu objetivo é direcionar a força de trabalho e garantir que todos estejam na mesma jornada. Ao fornecer soluções analíticas que transformam e qualificam pessoas que trabalham com informação em conhecedores de dados, estes colaboradores – individual e coletivamente – podem impulsionar a transformação organizacional.
Pensando nisso, a prioridade para um CDO cruzando a barreira analítica é democratizar os dados em toda a organização. No mundo dos negócios, escala é essencial. Fornecer acesso aos dados a apenas três analistas em uma base de 300 funcionários não fará com que uma empresa se torne digital. Ajuda, é claro, mas a influência dessas pessoas será inevitavelmente limitada. O CDO precisa trazer todos nesta jornada, democratizando os dados necessários, fornecendo acesso a uma plataforma centralizada e ampliando a inteligência humana para que a análise possa ser transformada em um ativo que ajude a informar as equipes e departamentos em qualquer parte da empresa. Isto ajudará as equipes a tomar melhores decisões em tempo real e – o mais importante – responder com agilidade a eventos inesperados.
A segunda prioridade é treinar a força de trabalho existente e desenvolver sua alfabetização de dados. É necessário abrir o mundo da análise de dados para toda a força de trabalho, adotando uma abordagem de ensino centrada no ser humano e proporcionando um espaço para que todos explorem e aprendam sobre o tema. Para ter sucesso, a alfabetização digital deve ter como objetivo equipar pessoas que não são cientistas de dados ou analistas experientes com ferramentas inteligentes que lhes permitam trabalhar da mesma forma para entregar os mesmos resultados. Uma vez segmentadas, estas equipes de ciência de dados podem então atuar como guias e, quando ambos os grupos falam a mesma linguagem de análise de dados, podem extrair tendências e descobrir insights para tomar decisões mais rápidas, melhores e mais informadas.
Esta abordagem sempre ativa de requalificação ajuda a amenizar a lacuna de habilidades de dados no mercado de trabalho. Até 2024, a Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação vê uma escassez de 260.000 profissionais no mercado.
Assim sendo, a terceira prioridade para o CDO deve ser incentivar esta cultura de dados dentro da companhia. Os colaboradores estão fazendo as perguntas certas sobre os dados para permitir a transformação? As equipes se sentem capacitadas a usar a análise para mudar os processos atuais de uma forma que gere valor? Aqueles mais próximos de um processo sabem onde os problemas existem, e ao amplificar a inteligência humana para obter o melhor da ciência e análise de dados, eles têm o contexto e podem ver o impacto comercial de resolver essa questão através dos dados.
Por fim, o CDO deve ter como prioridade o investimento no ecossistema de dados da organização. A democratização dos dados e a requalificação dos trabalhadores, para que possam analisá-los, será insuficiente se esses dados forem de má qualidade. A quantidade e complexidade dos dados disponíveis de várias fontes está aumentando a cada dia, e a empresa de pesquisa IDC estima que 90% de todos os dados criados são "dark data" – informações desestruturadas e inacessíveis. Portanto, os CDOs devem gastar tempo e dinheiro limpando os dados e os processos de engenharia para coletar os dados corretos para assim gerar insights empresariais executáveis.
Com estas prioridades encaminhadas, é hora de começar a atravessar a barreira analítica, identificando o problema e capacitando a equipe para resolvê-lo. Quais processos são menos eficazes e, como uma transformação liderada pela análise de dados pode beneficiar o negócio? Consideremos o transporte de mercadorias, por exemplo. Esta é uma área de negócios que foi significativamente impactada não apenas pela Covid-19, mas também pelo bloqueio do Canal de Suez no início deste ano.
Uma grande indústria provavelmente terá milhares de produtos para enviar, e cada produto tem centenas de peças que devem ser gerenciadas para garantir que não haja interrupção na produção. Os tempos de envio padrão para todas as peças são inseridos manualmente no sistema e, com base tanto na previsão da demanda quanto na velocidade de produção, os pedidos são feitos para garantir que as peças cheguem antes de se esgotarem. Tudo funciona sem problemas até – de repente – a cadeia de fornecimento ser interrompida e os tempos de expedição começarem a mudar.
Uma vez que este processo se mostra insuficiente, como então o fabricante se adapta e se recupera? Isto poderia ser feito manualmente por uma equipe de pessoas, mas levaria muito tempo e o trabalho precisaria ser refeito se os tempos de envio mudarem novamente. Uma alternativa é a criação um modelo analítico simples que monitore os tempos de expedição em tempo real, atualizando automaticamente o sistema com os dados corretos.
Este é um dos exemplos, mas o mesmo pensamento pode ser aplicado a qualquer função dentro da empresa. Estas transformações individuais de dados elevarão a jornada geral de transformação digital e eventualmente ajudarão a empresa a escalar a barreira analítica.
O CDO é a chave para esta transformação. Para ter sucesso, o CDO assegura que os dados fluam através da empresa e que todos os trabalhadores tenham acesso de modo igual às habilidades e recursos necessários para analisá-los. Se integrado corretamente, o negócio terá passado para o lado certo da barreira analítica e estará preparado para qualquer evento inesperado, devido à flexibilidade e resiliência das equipes e da estratégia colocada em prática.
Marta Clark, Vice-presidente LATAM da Alteryx.