Diante da falta de evidências concretas de que o celular não causa danos à saúde humana, dois pesquisadores sugeriram ao governo que se faça campanhas de orientação da população para usar moderadamente o celular. O assunto foi debatido nesta terça-feira, 18, em audiência pública realizada pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados.
"Considerando as incertezas existentes quanto aos efeitos da radiação, caberia ao governo esclarecer, em invés de impor regras. Caberia desencorajar o uso por crianças de até 16 anos e desencorajar o uso desnecessário do celular. Uma campanha desse tipo seria altamente recomendável", afirma o pesquisador Osório Chagas Meireles, engenheiro elétrico e professor de Física da USP. O pesquisador mostou que a radiação provoca calor nas célular humanas, o que leva a um aumento no metabolismo e pode levar a erros na reprodução celular. "Telefone celular deveria ser como cartão de crédito. Usar moderadamente".
O neurocirurgião Julio Thomé de Souza, do Hospital Federal de Ipanema (MG), reconhece que os estudos que associam o aparecimento de tumores no cérebro com o uso do celular são inconclusivos, mas recorre à sua experiência pessoal para também recomendar cautela. Segundo ele, há 20 anos ele fazia de três a quatro operações para retirada de tumores no cérebro por ano e hoje opera cerca de 40 casos anualmente. "Pode-se atribuir esse aumento à melhoria no diagnóstico ou a radioatividade cósmica, mas na população rural a incidência é menor", sustenta. Ele afirma que a Ciência também comete erros, que com o tempo vão sendo identificados. No passado, não se acreditava, por exemplo, que o raio X pudesse causar câncer ou que o cigarro fizesse mal à saúde. O efeito da radiação do celular nas ciranças seria ainda mais nocivo, segundo ele. Nas crianças, a radiação chega a atravessar todo o cérebro, enquanto que no adulto ela para no osso temporal.
A falta de evidências concretas que associem o uso do celular com o aparecimento de tumores também é argumento daqueles que têm uma posição mais cética sobre o assunto. O professor do Centro de Estudos em Telecomunicações da PUC do Rio de Janeiro, Gláucio Siqueira, afirma que faz frequentemente medições da potência das transmissões eletromagnéticas em várias cidades do Brasil e elas estão abaixo do índice recomendado pela OMS. Além disso, a radiação emitida pela estação radiobase (ERB) é menor do que a das torres de TV e rádio, que precisam de uma potência maior porque estão mais distantes. "As pessoas têm medo de morar embaixo da ERB, mas a radiação nesses pontos é muito baixa. Existem 7,5 bilhões de pessoas no mundo e 5 bilhões de telefones, se existisse 0,01% de probalidade, nós notaríamos um aumento significativo nos casos de câncer".
O gerente geral de certificação e engenharia de espectro da Anatel, Marcos Oliveira, disse que a posição da agência segue a orientação da OMS. Portanto, está descartada qualquer propaganda ou campanha no sentido de alertar a população sobre esses possíveis riscos, até porque seria como admitir que há riscos, quando na verdade o que se tem são indícios. "Enquanto os indícios de danos à saúde não se transformarem em evidências científicas, não há razão para mudarmos as atitudes que temos tomado", diz ele.