Há um bom tempo, nós, profissionais de TI, somos bombardeados por todos os lados para nos aproximarmos do negócio e para pensar nos processos e benefícios reais que o nosso trabalho pode oferecer às nossas empresas. Fomos bombardeados, na verdade, por quase todos os lados: o "negócio", na maioria das vezes, não abriu as portas para nós.
Mas, por que não? Afinal, como só nós sabíamos, a tecnologia poderia inovar, melhorar as empresas num salto adiante do futuro. A verdade, meus amigos, é que não estávamos preparados. A maioria de nós teve uma formação demasiadamente técnica e pouco humana para entender como fazer parte do… negócio. A maioria das empresas deixou a área de TI relegada à manutenção do ambiente produtivo. E ai de nós quando o ERP caía ou mesmo o serviço de e-mail. Tenho certeza de que você tem lembranças desagradáveis disso.
Tudo começou a mudar com o cloud computing. Se no início era nosso inimigo – "vai acabar com nossos empregos", "vai trazer riscos à segurança" etc – os profissionais de TI perceberam o óbvio: automatizar as camadas de uso de tecnologia em infra, plataforma e software promovia um salto gigante na qualidade e nas carreiras de todos nós. Deixamos de tomar conta da tecnologia para orientar como ela poderia ser usada.
E assim começou uma jornada que transformou nosso trabalho.
Começamos a ser reconhecidos pela qualidade. Mais serviços para os clientes de nossas empresas surgiram no digital: apps para celulares, análises de comportamento, os Business Intelligences e as experiências do usuário. Começamos a entregar novas soluções a nossas empresas. Ficamos importantes.
Estas mesmas tecnologias propiciaram o surgimento de novos concorrentes. Empresas digitais, uma espécie de retrofit das antigas "pontoCom", mas agora com cloud, plataformas modernas de dados e com uma quase infinita capacidade de processamento acessível facilmente. As empresas ditas tradicionais tiveram que correr, com o peso de seus legados sim, mas com uma capacidade de entrega que, quando focada, deu a elas a oportunidade de se reinventarem.
Foi a época da "transformação digital": nós, profissionais de TI, nunca fomos tão relevantes para orientar o caminho para que as empresas conseguissem correr, virarem "techs", mostrassem uma cara moderna, eficiente e produtiva, por meio de TI.
Mais ou menos neste momento, e me refiro a uns dez anos atrás, a geração de profissionais de TI formadas com tecnologias ditas digitais ganha poder nas empresas. O CIO não é mais o dono da transformação: surgem CTOs, CDOs e CSOs. A gente vai tomando conta do processo.
Finalmente, ganhamos relevância. O negócio nos ouvia.
Não mais que de repente, surge uma forma de Inteligência Artificial que vira o tema de inovação e de altíssimas expectativas no mundo todo: a AI generativa, já conhecida como GenAI. De repente, em uma velocidade que nem deu tempo de a gente se posicionar, todo mundo só falava disso. Parece mágica, mas as máquinas começaram a "entender" de tudo e nos ensinaram como se sábias fossem.
E as empresas que estavam no processo de se digitalizarem tiveram de rever suas estratégias e buscar um posicionamento radicalmente novo para incorporar GenAI em tudo: atendimento e entendimento do cliente, análise de vendas, criação de produtos, busca de ideias, entendimento do negócio… Todo o negócio se curva para TI buscando uma resposta imediata e arrebatadora para as implicações desta tecnologia.
E TI virou o negócio de todas as empresas.
Bancos agora são "empresas digitais que usam transações financeiras para entregar uma experiência para seus clientes"; idem escolas, instituições de saúde, comércio, manufatura etc. GenAI nos atinge de frente: não há de se falar mais em aproximação com o negócio. Agora o negócio é TI.
Estamos no meio disto tudo, viabilizando dezenas de projetos em nossos clientes que vão entregar, de alguma forma, esta expectativa de revolução em GenAI – amparada numa forte revisão de dados, governança e segurança. Mas é nesse ponto, e revisando a história como descrevi acima, que não saem de minha cabeça duas questões importantes.
A primeira: Estamos nós, profissionais de TI, realmente preparados para assumir a liderança de nossas empresas rumo a um futuro 100% digital? Além da tecnologia, o que teremos realmente de dominar?
A segunda pergunta é mais objetiva: e depois? Conforme a GenAI se desenvolve em alta velocidade enquanto escrevo este artigo, estamos preparados para os desdobramentos e evoluções que a tecnologia e a criatividade humana vão entregar nos próximos meses? E anos? Como faremos para continuar a ser o negócio?
Quem souber responder estas questões, por favor, me conte.
Maurício Fernandes, CEO e fundador da Dedalus.