Homens na faixa dos 30 anos de idade, com elevado nível de escolaridade, formados em diversas áreas, que empreendem para fazer aquilo que gostam, residentes no eixo Sudeste-Sul do Brasil e sem acesso a investimentos para iniciarem suas start-ups, mantêm o emprego para financiar seus empreendimentos com capital próprio. Este é o perfil do empreendedor digital brasileiro, de acordo com pesquisa encomendada pela RBS, maior grupo de comunicação do Sul do Brasil e um dos maiores do país, que promoveu nesta sexta-feira, 18, o Prêmio RBS de Empreendedorismo e Inovação (PREI).
A pouca participação de mulheres empreendedoras na área digital foi tema de debate na abertura do evento, que contou com a participação de Ana Gabriela, fundadora e CEO da Ezlearn Educacional, Nathalie Trutmann, diretora de inovação da FIAP, Andiara Petterle, da área de negócios digitais da RBS e Bedy Yang, do Brazil Innovators e do fundo norte-americano 500 Startups.
O principal problema apresentado por elas é escassez de mulheres estudando em cursos de engenharia e ciência de computação, além da dupla jornada, já que elas, em sua maioria, têm de se dividir profissionalmente para se dedicar à família. Mas segundo Bedy Yang, essa situação está mudando. "Nas 250 empresas empreendedoras onde o fundo tem investimento, 35% das mulheres participaram da criação ou têm cargos na da alta direção das start-ups."
Perfil do empreendedor
A pesquisa aponta que a pirâmide social dos empreendedores digitais é diferente do perfil da população brasileira. Além de majoritariamente homens (75%) e com idade entre 20 e 30 anos (61%), a pesquisa identificou que 86% dos empreendedores digitais pertencem às classes A e B. Já entre a população brasileira, as mulheres são ligeiramente mais numerosas e a classe C é a maioria, inclusive entre os internautas.
Com elevado nível de escolaridade, já que 95% possuem superior completo ou estão cursando, o empreendedor digital brasileiro curiosamente não necessita de formação em tecnologia, sendo comunicação social o curso mais frequentado, opção de 32%. Grande parte dos entrevistados (70%) busca nos cursos de pós-graduação o conhecimento para gerir seus negócios, principalmente em administração/gestão empresarial e marketing, preferência de 59% dos participantes. "O meio digital no Brasil é identificado como mídia e atrai profissionais da área de comunicação, diferente do que acontece em países como os Estados Unidos, por exemplo, em que os profissionais de tecnologia é que dominam esse segmento", analisa Fábio Bruggioni, CEO de internet e mobile do grupo RBS.
Com relação às áreas de atuação, nota-se um equilíbrio entre negócios de conteúdo (26%), social media (25%) e web e mobile (25%). Apesar da expansão de negócios transacionais, como sites de compras coletivas, leilões virtuais e e-commerce, esse tipo de empreendimento representa apenas 9% dos projetos dos empreendedores digitais entrevistados. Além das características naturais de um "entrepreneur", como criatividade, iniciativa e inovação, os empreendedores digitais brasileiros precisam ter uma boa visão estratégica e de modelo de negócio para se adaptar ao mercado e pagar as contas no fim do mês.
As principais dificuldades que eles encontram são a falta de investidores, sejam eles públicos ou privados, e a falta de mão de obra qualificada, principalmente em tecnologia. "A pesquisa mostra que a falta de investimentos e de políticas de incentivo do governo faz com que os empreendedores deixem a inovação em segundo plano", destaca Bruggioni. "Para viabilizar seu negócio, o profissional precisa colocar sua ideia em prática rapidamente para ter retorno e, no mínimo, conseguir se manter, não sobrando tempo nem recursos para investir em inovação", acrescenta o executivo.
A maior motivação apontada pelos entrevistados para empreender é trabalhar com o que gosta (79%). Assim, não é raro encontrar empreendedores digitais que, além de enxergar as oportunidades e desenvolver o plano de negócios para suas idéias, trabalham, financiam e abrem as portas de suas próprias casas para o desenvolvimento do projeto.
Outros dados relevantes identificados na pesquisa são a região onde os empreendimentos digitais estão concentrados e a idade das empresas: 93% localizam-se no Sul e no Sudeste e têm menos de três anos de vida (74%). O estado de São Paulo desponta como o maior polo brasileiro de empreendimentos digitais, com 62% do total de projetos do país. As start-ups são, em média, fundadas por dois sócios (39%) e contam com cerca de cinco pessoas trabalhando nelas (36%). Do início até o lançamento do produto, 38% dos empreendedores levam de sete a 12 meses de trabalho.
A pesquisa realizada pelo M. Sense Pesquisa e Inteligência de Mercado entrevistou 770 empreendedores digitais no Brasil entre setembro e outubro. Como empreendedor deste setor considerou-se o fundador de uma empresa ou idealizador de projeto no meio digital.
Ganhadores
Doze empresas foram escolhidas como finalistas do Prêmio RBS de Empreendedorismo e Inovação (PREI). Os três vencedores foram: o mineiro Diego Gomes, 27 anos, com o projeto Everwrite, que analisa dados de múltiplas fontes para ajudar produtores de conteúdo a identificar o que usuários de internet procuram nos buscadores. Como prêmio, ele ganhou R$ 50 mil para investir no seu projeto e uma viagem para o Vale do Silício, nos Estados Unidos.
O projeto Ledface, tecnologia de crowdsourcing, modelo de produção que utiliza a inteligência e o conhecimento coletivo da internet para resolver problemas e criar conteúdo, do campinense Horácio Poblete, ficou em segundo, e o projeto Igluu, portal e aplicativo mobile que auxilia consumidores e varejistas a comparar preços e comprar produtos, do carioca João Leal, ficou em terceiro. Eles ganharam R$ 25 mil e R$ 10 mil, respectivamente. Além disso, a Endeavor, organização fomentadora de empreendedorismo, irá disponibilizar aos três vencedores apoio técnico para promover o desenvolvimento dos projetos digitais.