O termo Governança Corporativa surgiu em 1991, usado pela primeira vez como título de um livro lançado nos Estados Unidos por Robert A. G. Monks, que traz sugestões de boas práticas corporativas. Na obra, Monks afirma que empresas que trilham o caminho de uma cultura corporativa democrática podem viver muito tempo e se tornam mais resistentes aos impactos das crises e recessões da economia, já que estão mais próximas dos investidores. Com a difusão dos conceitos de ESG (environmental, social and governance, ou ambiental, social e governança, em português), o "G" tem se mostrado como uma ferramenta para quem busca garantir a confiabilidade perante o mercado. Sobre o tema, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) divulgou um estudo sobre ESG para "futuras reflexões", donde se extrai que os riscos não-financeiros estão sendo cada vez mais considerados por investidores em seus processos de tomada de decisão – assim, a agenda corporativa sobre ESG deve considerar de forma mais significativa a governança sustentável e a integridade corporativa. Em sua essência, a Governança Corporativa ajuda a criar e estabelecer um conjunto eficiente de mecanismos, de forma a contribuir para um desenvolvimento econômico sustentável. Essas boas práticas buscam alinhar uma cultura de geração de resultados e de valor, desde que devidamente atreladas a princípios éticos, como os da equidade e da transparência.
Essencial para qualquer empresa, a Governança Corporativa pode gerar inúmeros benefícios a médio e longo prazos. Ela não só facilita os processos de tomada de decisão por parte dos investidores, como também é crucial para se estabelecer um plano de gestão saudável e sustentável. Suas boas práticas permitem converter princípios básicos em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, auxiliando no posicionamento perante o mercado, funcionando como um indicador de confiabilidade e influenciando diretamente nos setores mais estratégicos da empresa.
Quando bem estruturada, a Governança Corporativa se firma como um ciclo virtuoso, que gera frutos com o passar do tempo, causando impacto positivo a todos os envolvidos. E para que surta o efeito desejado, é necessário fixá-la como parte integrante da cultura da sua organização. Dessa forma, os colaboradores vão encarar a observância a esses princípios como algo essencial ao sucesso do negócio, e não apenas como um mero cumprimento de regras e controles. A partir do momento que a cultura organizacional evolui, toda a empresa passa a ter ciência de que a Governança Corporativa é o melhor caminho para o desenvolvimento coletivo.
Para dar a real dimensão de como a Governança Corporativa influencia a saúde da empresa e pode ser utilizada como um indicador de confiabilidade, destaco os quatro princípios básicos estabelecidos pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), cuja adoção adequada resulta em um clima de confiança, tanto internamente, quanto nas relações com terceiros:
- Transparência: é preciso ter o desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam de seu interesse, e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. Não se restringir ao desempenho econômico-financeiro, contemplando os demais fatores (inclusive os intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que conduzem à preservação e à otimização de valores.
- Equidade: dar tratamento justo e isonômico a todos os stakeholders, levando em consideração seus direitos, seus deveres, suas necessidades, seus interesses e as suas expectativas.
- Accountability: prestar contas de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, assumindo integralmente as consequências de todos e quaisquer atos, atuando com diligência e responsabilidade.
- Responsabilidade corporativa: zelamos a curto, médio e longo prazos pela viabilidade econômico-financeira da organização, reduzindo as externalidades negativas e buscando o aumento das positivas em nossos negócios e operações, levando em consideração os capitais financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental e reputacional.
O comprometimento de todos é o que dá combustível para buscar os melhores resultados. Com Governança Corporativa, torna-se mais simples reforçar a solidez e a determinação da empresa em zelar pelas melhores práticas de mercado. Dessa forma, é possível levar inovação e se dedicar a construir novas possibilidades.
Priscila Alvarino Rodrigues, Head of Legal da NEO.