Os sinais iminentes de recuperação da economia global neste último trimestre e as perspectivas positivas para 2010 acenam com uma melhora significativa do cenário para a indústria de semicondutores. A expectativa para o ano que vem é que o setor atinja, no mínimo, o mesmo patamar de crescimento de 2008, mas com grande possibilidade de superar o desempenho registrado naquele ano.
No caso do mercado brasileiro, o cenário não é diferente. A retomada da confiança do consumidor e das linhas de crédito, que devem ter reflexos também nas vendas de computadores no país, são alguns dos fatores que prometem beneficiar o setor como um todo. "O comportamento da importação de semicondutores está muito relacionado à demanda e fabricação de bens finais no país, como PCs e equipamentos eletrônicos. Como a indústria está otimista para 2010, o mercado de chips deve ter um bom desempenho", avalia Francisco Rosa, diretor de componentes da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).
De acordo com dados da entidade, as importações de semicondutores devem totalizar US$ 3,18 bilhões neste ano, cifra 21% inferior a registrada em 2008, quando as compras externas de chips ficaram em US$ 4,04 bilhões. Entretanto, de abril a outubro, as importações registram avanço expressivo, saltando de US$ 219,4 milhões para US$ 363,5 milhões, alta de 65,67%, o que mostra que está havendo uma recuperação do mercado mês a mês.
Além disso, apesar de novembro apresentar desempenho sazonal inferior a outubro, o que não foi diferente neste ano, o resultado do mês pode ser considerado positivo, já que as importações de chips movimentaram US$ 332,2 milhões, bem acima dos US$ 264,7 milhões registrados em novembro do ano passado. Mesmo para dezembro, mês tradicionalmente de desempenho menor, as importações de chips devem registrar US$ 192 milhões, alta de aproximadamente 25% ante o mesmo mês de 2008.
Incentivos fiscais
Além da recuperação das vendas de automóveis e dos aparelhos de linha branca – que utilizam chips em larga escala –, graças às políticas de incentivo do governo como a redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), o setor de chips também pode comemorar a renovação da MP do Bem, que prevê a isenção de PIS e Cofins para PCs vendidos no varejo por até R$ 4 mil. As projeções indicam que a renúncia fiscal deve contribuir para um aumento de 20% a 30% das vendas de computadores no mercado brasileiro em 2010, totalizando cerca de até 15,5 milhões de PCs vendidos.
A retomada do mercado de celular é outro fator que deve influir para o aumento da demanda para a indústria de chips. Depois de alguns meses fracos no primeiro semestre, a venda de celulares voltou a aquecer no segundo semestre. Neste ano, a produção de celulares deve ficar em 62 milhões de aparelhos, queda de 15% ante 2008, enquanto que a expectativa é crescer entre 10% e 12% em 2010, chegando a algo próximo de 70 milhões.
Retomada gradual
Uma das que vê boas perspectivas para o ano que vem é a Qualcomm. Segundo o diretor-geral da companhia no Brasil, Paulo Breviglieri, após um primeiro trimestre complicado, devido à baixa demanda por celulares, as vendas começaram a retomar no fim do segundo trimestre. "Depois disso, foram crescendo trimestre a trimestre." O executivo observa que no Brasil o negócio da companhia é muito focado em 3G e que esse mercado tem avançado bastante, tanto com a venda de aparelhos como modems de banda larga móvel.
De acordo com Breviglieri, em 2010 as vendas de celulares, em número de unidades, devem cair ou, no máximo, se igualar ao resultado de 2008. Entretanto, ele acredita que as vendas de modems 3G, que utilizam chips da empresa, devem crescer. "As vendas de modems continuam a ser um negócio muito interessante e estão crescendo rápido. E têm respondido por um percentual significativo da nossa receita no país", diz.
Para 2010, Breviglieri acredita que os negócios serão impulsionados também pelo aumento nas vendas de smartphones. "Nossa expectativa é otimista. Devemos ter um crescimento acelerado no ano que vem", diz ele, sem arriscar um percentual.
Outra que enxerga um cenário favorável para 2010 é a fabricante chips para celulares Texas Instruments. Como as demais empresas do setor, ela classifica 2009 com um ano complicado para os negócios, o qual prevê encerrar com queda no faturamento entre 10% e 15%. "Se o quarto trimestre for muito bom, o que está se confirmando, a queda deve ser mais próxima de 10% a 11%", estima Alexandre Mota, presidente da Texas Instruments para América do Sul. O executivo diz que o Brasil sentiu os efeitos da crise como todos os países, mas entende que aqui os efeitos começaram mais tarde e terminaram antes.
Ele diz que a partir do segundo trimestre já começaram os sinais de melhora nas vendas e que no trimestre seguinte já registrou um forte crescimento de cerca de 20%.
De acordo com Mota, as vendas de chips da empresa estão sendo puxadas principalmente pelos medidores elétricos de energia, seguidas por aparelhos de localização para automóveis e por celulares. Para 2010, além de acreditar que a demanda por chips para medidores elétricos se manterá, o executivo vislumbra uma melhoria no cenário para celulares. "Com isso, acreditamos que poderemos ter um resultado até 20% superior."
Volta do crédito
Já a gigante mundial de chips Intel, fabricante de microprocessadores para computadores, avalia que o mercado em 2010 será muito superior ao deste ano, quando suas vendas de chips da empresa praticamente se mantiveram no mesmo patamar de 2008.
A razão para esse otimismo é a recuperação das vendas de PCs, que, segundo Oscar Clarke, presidente da Intel no Brasil, deverão crescer entre 25% e 30% em 2010. O executivo aponta a maior demanda por PCs do segmento corporativo, em razão da necessidade de renovação do parque de computadores em 2010, atrelada ao maior poder de compra das classes C e D, devido à volta do acesso mais fácil ao crédito, como os motores desse crescimento. A companhia também estima uma retomada nas vendas de servidores para 2010.
Com esse ambiente mais propício, a Intel estima obter bom crescimento no Brasil em 2010. E a aposta num cenário mais favorável é tanta que, ao contrário deste ano, em que manteve o mesmo volume de investimentos de 2008, ela planeja aumentar entre 15% e 20% o capital de investimento em 2010. Com isso, montante de recursos aplicado no Brasil – que ela não revela – será 55% do total destinado para a América Latina.
- Otimismo com retomada