A governança de tecnologia digitais sofreu uma rápida mudança nos últimos anos, tentando – sem sucesso – acompanhar a evolução das tecnologias e seus empregos. Assim, enquanto a tecnologia avança, vejo que a sua governança anda em caminhos tortuosos.
Vamos voltar uns quinze anos atrás. O início de tudo que vou tratar aqui foi a quebra dos conceitos convencionais de desenvolvimento-teste-homologação-produção. A gente desenvolvia software, mudava arquitetura, implementava tecnologias, enfim, em um contexto controlado, seguindo um roteiro muito rígido em prol da estabilidade do ambiente: testes, validações, aprovações e, finalmente, o grande dia do "roll-out", quando o mundo passava a usar aquela engenhoca, meses ou anos depois de sua concepção original.
Em 2009 surgiu o devops, uma ideia de integrar o desenvolvimento contínuo com a operação. Integrar é pouco: misturar, fundir. Sem devops não teríamos a velocidade nem a escala de desenvolvimento e uso de tecnologia que temos hoje. O mundo de 2009 e o mundo de 2024 são muito diferentes, graças ao bom emprego de devops. Bom emprego…
Charles Darwin, ao surpreender um mundo em fortes mudanças no século 19, mostrou que a vida se transforma através de eras num processo natural de evolução das espécies (me perdoem os criacionistas presentes por esta óbvia analogia). Uma leitura popular desse enorme passo científico é achar que a evolução é fruto do acaso e que o caos gera ordem. Mas não é assim; estude um pouco mais a teoria da evolução das espécies e você vai identificar que o meio tem um impacto predominante no controle das mutações que ali fazem sentido ou não. É o meio que, fundamentalmente, controla e comanda a mudança das espécies para que fiquem mais adaptadas àquela realidade.
Com tecnologia deveria ser igual. De alguma forma o meio deveria controlar a evolução dos sistemas. Porém, acredito que pelo entusiasmo (sempre ele…) em ter a liberdade criativa e a agilidade operacional das técnicas de devops, o que se vê em geral é o caos. Devops e suas derivações requerem controle-e-comando, um termo que tentou ser enterrado, mas sobreviveu e agora retoma sua importância.
Sem controle, ambientes se transformaram de forma errada. Hoje, a vasta maioria dos ambientes tem pelo menos um destes sintomas: é complexo, frágil, inseguro, caro, sem performance, só escala a alto custo, não se sabe como funciona e quando quebra, não se reestabelece como imaginado (Backup? Pra quê? Rs).
Sem comando, a conexão com a realidade se dilui. Enquanto as demandas de negócio rumam para um lado, a tecnologia vai para outro. Só pelo acaso se encontram. Acaso e caos.
É com respeito ao meio que as espécies e os sistemas devem se transformar. Não há ordem implícita num ambiente descentralizado em que cada parte tem um viés e uma visão diferente do desafio. Somente com foco e uma ação central é que se leva um sistema a se adaptar à realidade, com robustez, segurança, baixo custo, alta performance, escalabilidade e resiliência: um sistema com eficiência operacional. É somente assim que conseguimos exercer, dinâmica e estruturalmente o pragmatismo.
Da forma que vejo o mundo, devops é o motor de nosso mundo tecnológico. E como toda grande ideia, requer um emprego correto, estruturado e robusto. Conhecimento, bom senso, sensibilidade, visão completa do meio, controle sobre o sistema e um comando único para seguir são necessários. Não há alternativas ou atalhos.
Se a natureza é pragmática e somos parte dela, é bom a gente se comportar antes que a extinção de algumas espécies se concretize.
Maurício Fernandes, CEO da Dedalus.