A integração de pagamentos e segurança digital estão reconfigurando o mercado financeiro na América Latina, com destaque para o Brasil, que lidera inovações como o Pix, Open Finance e o desenvolvimento da moeda digital Drex. Para 2025, visualizo três macrotendências que envolvem novas tecnologias e modelos de negócios: jornada digital embarcada, identidade digital descentralizada e pagamentos instantâneos aliados a novas modalidades de crédito alternativo. Esses elementos, alinhados à agenda evolutiva do Banco Central (BC), podem consolidar um ecossistema financeiro mais simples, seguro e justo no próximo ano. Vamos entender o porquê e ficar de olho nas tendências.
Jornada digital embarcada
Primeiro, é importante esclarecer que essa jornada consiste na integração de soluções digitais à experiência do cliente, com o objetivo de automatizar e digitalizar ao máximo as interações, proporcionando eficiência, praticidade e uma experiência intuitiva, muitas vezes sem a necessidade de intervenção humana. Esse conceito está transformando especialmente a relação dos consumidores com serviços financeiros. No Brasil, o Pix exemplifica essa evolução ao viabilizar pagamentos instantâneos, reduzir custos e impulsionar o comércio eletrônico, além de oferecer mais comodidade e autonomia durante as transações.
Agora, com a incorporação de novas camadas de segurança, como autenticação biométrica e inteligência artificial (IA), a adoção desse conceito deve intensificar no próximo ano, já que tem contribuído para tornar os processos de pagamento ainda mais fluídos e confiáveis. Nesse contexto, a proteção, cada vez mais demandada pelos usuários, está integrada a uma jornada antifraude no fluxo transacional, combinando dados em tempo real, aprendizado de máquina e autenticação contínua para mitigar ataques. Esse avanço é especialmente relevante em cenários de rápida adesão de pagamentos instantâneos, como no Brasil, onde o Pix já registrou 250 milhões de transações em um único dia.
Na América Latina, onde o setor informal ainda tem forte presença, os pagamentos digitais estão desempenhando um papel crucial na formalização econômica. Exemplos como feiras livres utilizando QR Codes e pequenos comerciantes adotando terminais de pagamento conectados ao Pix e seus congêneres na Colômbia e no México refletem essa transformação.
Identidade digital descentralizada
Neste cenário, podemos ter um olhar mais cirúrgico para o Brasil. No panorama de aceleração de tokenização na economia e avanço do Open Finance, simultaneamente a adoção de ferramentas de IA, os modelos de identidade digital descentralizada (IDD) ganham relevância como tecnologia fundamental para garantir privacidade e melhor usabilidade com autonomia do usuário. O Open Finance, por exemplo, liderado pelo Banco Central, possibilita que consumidores compartilhem dados financeiros de forma segura e com consentimento explícito, criando novas oportunidades para personalização de produtos e serviços por bancos e fintechs.
Este contexto permite a implementação de modelos de negócio com monetização de dados, oferecendo novas oportunidades de geração de valor. Bancos e fintechs podem personalizar produtos e serviços com base em informações disponibilizadas pelos próprios consumidores, para criar ofertas alinhadas às suas necessidades específicas. Esses modelos de negócios permitem, por exemplo, negociações de crédito mais atrativas e seguros customizados, ampliando a eficiência do mercado financeiro.
Vale ressaltar que, com o lançamento de ativos digitais em 2025, incluindo a infraestrutura do Real Digital (Drex) e instrumentos tokenizados da categoria RWA (Real World Asset), o Brasil avança na construção de um ecossistema robusto. As validações da segunda fase do Piloto da nova moeda prometem consolidar blockchain, smart contracts (contratos inteligentes) e agentes de IA como base tecnológica, enquanto os modelos de IDD e credenciais verificáveis tornam-se fundamentais para autenticação segura e interoperabilidade.
Pagamentos instantâneos e crédito alternativo
Os pagamentos instantâneos, por sua vez, também continuarão a evoluir em 2025, agora mais integrados ao Open Finance e modalidades de crédito especializadas. Além da integração do Pix aos processos de pagamento nas trilhas de cartão ou integrado em wallets, viabilizando uma nova experiência com melhor fluidez. Esse avanço abre espaço para o crédito alternativo, que utiliza dados não tradicionais, como reputação em redes sociais e histórico de pagamentos, o que permitirá a concessão de crédito a públicos específicos, como microempreendedores e trabalhadores informais, mesmo em cenários econômicos voláteis.
A combinação desses elementos, aliada ao trabalho de especialistas em análise de risco, tem o potencial de criar um sistema mais inclusivo. Contudo, garantir a segurança será um desafio e exigirá o uso de algoritmos de aprendizado de máquina capazes de detectar e prevenir fraudes rapidamente. Por isso acredito que soluções baseadas em dados em tempo real, como análises comportamentais, aumentarão a precisão na identificação de transações suspeitas. Na América Latina e no Brasil, por exemplo, a escalabilidade dessas tecnologias viabilizará a digitalização de mercados antes inacessíveis, como comunidades rurais e periféricas, facilitando o acesso ao crédito de forma ágil e segura para agricultores e pequenos comerciantes.
Em suma, as tendências para 2025 indicam uma aceleração na transformação do ecossistema financeiro do Brasil e da América Latina, ancorada na convergência entre pagamentos e segurança digital. Ao alinhar essas inovações à agenda do Banco Central, o mercado financeiro brasileiro tem a oportunidade de liderar globalmente em inclusão e proteção virtual. Mas esse sucesso dependerá de esforços contínuos para mitigar fraudes e promover a educação financeira, garantindo que as tecnologias beneficiem amplamente consumidores e empresas.
Marcelo Queiroz, superintendente de estratégia e inovação da ClearSale.