As despesas correntes dos bancos brasileiros (excluindo-se os investimentos) evoluíram 7% de 2007 para 2008, ou seja, a mesma taxa de crescimento das transações bancárias. No mesmo período, o total das despesas correntes de TI sobre o total de despesas administrativas cresceu 3% e tiveram uma participação de 60% no total de gastos de TI, contra investimentos de 40%, ao passo que as melhores referências mundiais apontavam para uma relação inversa.
Pesquisa da Accenture realizada com CEOs revelou que o tópico "plataformas de TI obsoletas" foi um dos principais responsáveis pelo aumento os custos. Para a consultoria, os cinco pontos que as instituições financeiras devem concentrar o foco para se buscar a maior eficiência de TI são inovação, industrialização, integração, informação e infraestrutura.
"Mais do que se discutir se SOA [arquitetura orientada a serviços] ajuda ou não a empresa a ser mais eficiente é saber onde aplicar isso", observou Leonardo Framil, responsável pela área de serviços financeiros da Accenture e que atuou como mediador e coordenador de painel sobre "Eficiência de TI nos bancos" na Ciab Febraban, que terminou nesta sexta-feira, 19, em São Paulo.
Segundo ele, as instituições financeiras enfrentam atualmente um novo patamar de desafio, devido ao "impressionante" processo de sofisticação do sistema financeiro. Por isso, ele sustenta que a chave para se alcançar a eficiência da TI está na melhoria contínua da gestão de clientes e na governança estruturada. "Em 1980, uma instituição financeira tinha no máximo cem produtos financeiros, enquanto hoje elas têm mais de 350 produtos", compara.
Para o CIO do grupo Santander, Cláudio Almeida Prado, uma das principais barreiras para os bancos hoje é lidar, de um lado, com um ambiente altamente regulado, e de outro lado, com a flexibilidade necessária para atender o cliente. "Mas existe uma reflexão dos bancos para atender essa demanda."
Na opinião do diretor de tecnologia do Banco do Brasil, José Francisco Alvarez Raya, o grande desafio da área de TI é como ajudar a empresa a gerar mais receita com menos custos. Ele observa que nos dias atuais existem novos conceitos e tecnologias que devem já estar sendo discutidos e considerados com o intuito de tentar resolver a equação receita versus despesas. Como exemplo, ele cita o compartilhamento de caixas automáticos [os chamados ATMs], que, segundo ele, mais cedo ou mais tarde vai acabar acontecendo, por uma questão de eficiência operacional.
Raya diz ainda que os investimentos em back-office a que os bancos são submetidos "e que têm um custo violento precisam passar a pesar menos". Ele também chama a atenção para o fato de que, em função da crise e de exigências regulatórias, os bancos têm gasto muitos recursos em componentes de controle e gestão. "E isso tem de passar a ser feito de uma maneira mais inteligente. É preciso achar formas mais leves e baratas para atender as questões de controle. Se continuarmos usando as ferramentas tradicionais, os custos vão se tornar insuportáveis", disse o diretor de TI do BB, ao defender que os bancos têm que promover uma transformação no ambiente tecnológico para enfrentar esse cenário.
Essa opinião, porém, não é compartilhada por todos. Para o CIO do Banco Itaú Unibanco, Luís Antonio Rodriguez, "mudanças radicais na arquitetura de sistemas são extremamente difíceis e complexas no cenário que estamos vivendo hoje". "O processo de evolução é mais adequado, em vez de uma transformação radical das aplicações", defende. A mesma opinião tem o CIO do Banco Votorantim, Laércio Paiva Júnior, para quem grandes mudanças têm de ser feitas em pequenas porções, mas de maneira consistente e constante. "Eu diria que é apostar nas novas tecnologias, mas sem grandes rupturas." O CIO do grupo Santander, Cláudio Almeida Prado, vai na mesma linha de raciocínio ao dizer que não existe possibilidade de mudanças radicais na arquitetura e na infraestrutura, mas observa que essas transformações devem ser feitas na forma de se gerenciar a tecnologia.
O diretor de TI do Banco Brasil faz questão de esclarecer, porém, que quando fala em transformação não está se referindo apenas à infraestrutura tecnológica, mas também ao relacionamento com os parceiros e fornecedores. "Os fornecedores estão deixando de ser simplesmente fabricantes de hardware ou de caixas de software e se tornando prestadores de serviços. E essa mudança de perfil acaba modificando também o relacionamento que temos com eles", salienta Raya. "O core [da infraestrutura] de ser preservado, mas ao mesmo tempo precisa evoluir e numa velocidade cada vez maior", observa ele, ao alertar que os bancos têm de ficar atentos às mudanças que estão vindo por aí, como a tecnologia de cloud computing e a modalidade de venda de software como serviços (SaaS).
- Cenário desafiador