Ainda precisamos de caixas eletrônicos? Veja como a tecnologia tem inutilizado as ATMs

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O Brasil tem vivenciado uma verdadeira revolução tecnológica no setor financeiro com o surgimento e a popularização de métodos de pagamento instantâneos, como o Pix. Essa modalidade, lançada pelo Banco Central em 2020, é amplamente adotada pela população brasileira, tornando-se uma forma de pagamento eficiente e, na maioria das vezes, sem custos adicionais. Com isso, surge uma reflexão: ainda precisamos de caixas eletrônicos (ATM)? Afinal, se o Pix tem facilitado tanto as transações, será que as tradicionais máquinas de autoatendimento ainda fazem sentido em um contexto de inovação digital tão acelerado?

A única certeza que temos é que o brasileiro dificilmente deixará de lado o dinheiro em espécie, ou seja, os caixas eletrônicos podem até diminuir consideravelmente, mas não deixarão de existir. Outro ponto essencial, é que para a população que recebe alguma modalidade de auxílio do governo, como o Bolsa Família, ou mora em locais precários de tecnologia ou mais distantes dos centros urbanos, é preciso aproveitar qualquer oportunidade quando se desloca até uma cidade maior para sacar e levar suas cédulas para casa. Para este tipo de reflexão, não devemos esquecer da dimensão continental do Brasil. A acessibilidade facilmente encontrada em metrópoles como São Paulo dificilmente é uma realidade também em cidades menores. Segundo o estudo realizado pelo IDEC, a região norte, por exemplo, possui um dos menores índices de acesso à internet do país. De acordo com o relatório, 17% das residências não têm acesso à internet; esse indicador sobe para 50% entre as classes D e E. Logo, em um cenário como esse, é impossível abrir mão das máquinas offline.

Segundo o Banco Central, existem, aproximadamente, 154 mil caixas eletrônicos no Brasil, no entanto, esse número vem caindo: houve uma queda de 26% no número total de máquinas desde julho de 2016, ainda de acordo com o BC. Não podemos negar que a digitalização está transformando os hábitos de uso de ATM pela população, mas, ainda sim, os caixas eletrônicos desempenham uma função importante: o atendimento àqueles que não possuem acesso à tecnologia ou que preferem realizar operações físicas. Para uma parcela da população idosa, por exemplo, ou pessoas com menos familiaridade com o mundo digital, o caixa eletrônico ainda é um recurso fundamental.

Entretanto, mesmo para a parcela da sociedade menos digitalizada, o aumento da inclusão bancária digital e a facilidade no uso de smartphones vêm reduzindo gradualmente a dependência dos caixas eletrônicos. Quando comparamos o Brasil com outros países, fica evidente que a inovação digital nos serviços financeiros tem avançado rapidamente por aqui, frente a outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o processo de digitalização também tem sido acelerado, mas de maneira um pouco mais lenta. Embora a utilização de caixas eletrônicos continue bastante presente, o mercado de pagamentos mobile tem crescido com o uso de aplicativos. Segundo estudo recente da ATM Industry Association (ATMIA), principal associação comercial sem fins lucrativos que representa a indústria global de ATMs (Automatic Teller Machine), estima que o número total de caixas eletrônicos nos EUA esteja entre 520 mil e 540 mil. Ou seja, eles têm quase quatro vezes mais máquinas que nós.

Perspectiva de futuro

Embora os caixas eletrônicos ainda desempenhem um papel importante em muitas regiões, especialmente em áreas com pouca conectividade ou para uma parcela da população mais conservadora no uso da tecnologia, a perspectiva de futuro nos aponta para a substituição parcial, porém significativa dessas máquinas por soluções digitais, como o Pix. A velocidade de transação, a eliminação de taxas e a conveniência do pagamento por meio de dispositivos móveis são elementos que tornam o Pix, e outras soluções semelhantes, uma alternativa cada vez mais vantajosa.

Além disso, a tendência de digitalização pode reduzir custos operacionais para bancos e empresas de tecnologia, já que não será mais necessário manter e operar uma vasta rede de caixas eletrônicos espalhados pelo país. Por outro lado, a transição digital requer uma educação financeira mais ampla e políticas públicas que garantam a inclusão digital de toda a população, para que a migração para o mundo sem dinheiro físico ocorra de maneira inclusiva e eficiente.

Renan Basso, co-fundador e diretor de negócios da MB Labs.

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