Alinhamento estratégico da TI: afinal de contas o que é isso?

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Em nossos textos anteriores fizemos menção ao alinhamento estratégico entre TI e negócio, visto como algo positivo tanto na literatura acadêmica como de negócios. Mas o que seria alinhamento estratégico da TI? Como conseguir isso? Isso é possível?
Benko e McFarlan destacam a importância do alinhamento estratégico e entendem que isso só não ocorre porque não há a clara compreensão do que alinhar. Esses autores definem alinhamento estratégico como "o correto posicionamento das coisas em relação umas às outras" e indicam quais seriam as três coisas a serem alinhadas no caso da TI: o portfólio de projetos de TI, os objetivos de negócios da empresa e a realidade do ambiente mais amplo do negócio em constante mutação. Para eles, os objetivos do negócio podem ser categorizados em objetivos de curto prazo, de longo prazo e objetivos "peculiares", sendo que este último tipo de objetivo estaria relacionado com o ambiente sofrendo constantes mudanças, como as mudanças na fronteira da informação e novas formas de fazer negócio. Seriam, portanto, diferentes dos objetivos de longo prazo "normais", que tendem a projetar a realidade atual para o futuro.
Assim, não bastam projetos de TI bem sucedidos, mesmo que tenham sido implementados com eficiência.
Para entender, podemos usar analogias com fatos da História.
Durante a II Guerra Mundial, as ofensivas iniciais dos alemães contra os russos e dos japoneses contra americanos e ingleses tiveram grande sucesso, no começo. Contudo, embora fossem aliados, não fizeram nenhum esforço para alinhar as ações, agindo de acordo com objetivos próprios e de curto prazo. Por exemplo, se antes de iniciarem as campanhas, os japoneses tivessem, ao menos, simulado ou insinuado que atacariam a então União Soviética, não teria sido possível liberar centenas de milhares de soldados que estavam estacionados no Extremo Oriente e que foram utilizados para barrar o avanço alemão contra Moscou. No decorrer dos fatos, ambos acabaram derrotados pelos Países Aliados que, embora tivessem muitas divergências, planejaram as campanhas com razoável visão de conjunto (pelo menos bem mais do que os países do chamado Eixo).
Há, no entanto, autores que chegam a contestar a própria necessidade de um planejamento estratégico da TI. Entre eles, podemos citar Cláudio Ciborra que considera que o sucesso estratégico de aplicações de TI pode ser atingido por meio de um processo gradual e por tentativas, em vez de usar um modelo estruturado de planejamento. Os autores que defendem esse ponto de vista argumentam que as questões de eficiência são as promotoras das aplicações de TI estratégicas.
Alguns casos bem conhecidos de sistemas de informação bem sucedidos, com claros e reconhecidos impactos estratégicos não apresentam evidências de terem sido planejados, o que parece corroborar essa linha de pensamento. Segundo Ciborra, para que as empresas obtenham vantagens permanentes, é preciso caminhar na busca pela inovação. Para ele, o alinhamento seria possível quando se leva em conta o fator humano e o fato de que a TI está embutida nos arranjos sociais e administrativos das organizações. Ciborra sugere ainda que isso implicaria em um processo de planejamento da TI menos formalizado, com maior liberdade de experimentação, de uma postura e aprendizado com as falhas, sabendo tirar partido das oportunidades que surgem durante as tentativas.
Pesquisas que realizei ao longo dos últimos 10 anos em empresas que atuam no Brasil sugerem que o alinhamento estratégico é mais uma atitude, uma postura, do que uma técnica ou um procedimento formal. Isso parece caminhar na mesma direção que a afirmação de Luftman, para quem o alinhamento estratégico é um processo. Sendo assim, não seria fácil de ser replicado. Se a TI talvez esteja se tornando uma commodity, o alinhamento estratégico da TI não é. Assim, pode ser uma fonte de vantagens competitivas, por ser escasso e difícil de imitar.
Iniciativas como comitês de TI (que recebem as mais variadas denominações), quando adotadas com consciência e não por modismo, contribuem muito para essa "atitude de alinhamento estratégico".
Estes aspectos devem ser considerados quando se realiza uma análise crítica sobre o papel da TI nas organizações e quando se busca o alinhamento estratégico.

Fernando José Barbin Laurindo é professor da Fundação Vanzolini, entidade gerida por professores do departamento de Engenharia de Produção da Poli/USP email: fjblau@usp.br
www.vanzolini.org.br

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