Muitas empresas correm o risco de desperdiçar os benefícios oferecidos aos colaboradores móveis, devido ao recrutamento de perfis inadequados, má administração e falha na oferta de recursos apropriados de comunicação. A má administração, em especial, pode ter implicações sérias no sucesso de um trabalhador móvel ? com um impacto negativo tanto por excesso, quanto por falta de comunicação. A carência de contato regular pode elevar o nível de estresse e a sensação de isolamento desse profissional, enquanto o excesso de controle (conhecido como microadministração) pode minar a confiança.
As conclusões são de um estudo recente, intitulado ?Compreendendo e Gerenciando a Mão-de-Obra Móvel?, realizado por especialistas de psicologia ocupacional da Pearn Kandola, sob o patrocínio da Cisco Systems. O estudo analisou os desafios de negócios e interpessoais dos trabalhadores móveis e englobou cinco regiões: Europa Ocidental, Rússia e Comunidade dos Estados Independentes; Europa Central e Oriental; Oriente Médio e África; além da América do Sul e Caribe Ele revela as características dominantes na personalidade dos colaboradores móveis eficientes, além de examinar as influências culturais. Além disso, destaca as melhores práticas administrativas, abordando os desafios específicos que esses profissionais enfrentam. Isto é importante se considerarmos que os funcionários móveis representarão um quarto da população ativa mundial até 2009, de acordo com o IDC.
?Como o fenômeno do trabalho móvel continua a crescer, as organizações devem garantir a liderança adequada para administrar as equipes de funcionários móveis?, comentou Stuart Duff, psicólogo ocupacional da Pearn Kandola e autor do relatório. ?Os gerentes não podem cair na armadilha de tratar os funcionários móveis da mesma forma que os alocados no escritório. Eles precisam ser comunicadores eficientes e construtores de relacionamentos, com um estilo de administração adaptável, que eles possam moldar às personalidades na sua equipe. As organizações também devem garantir que as ferramentas e os recursos corretos estejam disponíveis para os trabalhadores móveis, oferecendo-lhes a mesma conectividade que a dos profissionais nos escritórios?, completou.
Para os especialistas de Pearn Kandola, os trabalhadores que prosperam e têm sucesso dentro dos papéis móveis são geralmente automotivados, flexíveis, extrovertidos e independentes. Esses são os atributos que as organizações devem buscar nos empregados móveis, no momento de recrutá-los. Existem vários perfis de personalidade que poderiam ter sucesso em um ambiente de trabalho móvel, abaixo estão alguns exemplos:
? Um indivíduo que busca estímulos ? extrovertido, motivado pelo contato com pessoas;
? Indivíduo forte ? emocionalmente estável, baixo nível de tendência à neurose e flexível sob pressão;
? Um indivíduo curioso e investigador ? criativo, aberto a novas idéias, gosta de variedade de experiências;
? Tomador de decisão independente ? mantém uma atitude independente, gosta quando há confiança em seu trabalho sem supervisão;
? Um indivíduo que executa atividades com disciplina ? consciencioso e automotivado.
Segundo a Pearn Kandola, um gerente de sucesso precisa confiar em suas equipes móveis, possibilitar que elas administrem sua própria carga de trabalho e enfatizar os resultados práticos em vez das atividades. Os gestores também devem fazer a sua parte ao estabelecer uma ética de trabalho móvel dentro da organização e manter uma comunicação regular com os funcionários móveis. Para isso, diz os especialistas, é imperativo que se ofereça o mesmo acesso a recursos de comunicação disponíveis para os trabalhadores nos escritórios.
Os especialistas observam que, para evitar o isolamento e a falta de motivação, é preciso promover a visibilidade dos funcionários móveis dentro da organização. Também é importante incentivar fóruns para a interação social entre os colegas. Por exemplo, mensagens instantâneas e ferramentas de presença são uma boa forma de criar um sentimento de inclusão nos trabalhadores móveis. As instalações de vídeos também podem reduzir este sentimento de separação.
Culturalmente, o estudo identificou que a distribuição dos funcionários móveis varia muito na Europa Ocidental. Por exemplo, há uma diferença significativa na adoção do trabalho móvel entre o norte e o sul. A variação é de 46% na Holanda e 45% na Finlândia, a 17% na Espanha e 8% em Portugal. No entanto, isto pode ser explicado, até certo ponto, por um grau de ?prontidão a rede? do país (a propensão para que países explorem as oportunidades oferecidas pelas tecnologias da informação e comunicação), além das diferenças culturais que também têm um papel importante.
Nos países em desenvolvimento e emergentes, nos quais a penetração da telefonia móvel está superando a comunicação por meio dos serviços fixos, há um ambiente produtivo para o crescimento das tecnologias de legado e para a introdução de práticas do trabalho móvel. Entretanto, o estudo descobriu que enquanto o Oriente Médio e alguns países africanos estão capitalizando o estilo de vida, com os benefícios balanceados entre o trabalho e a vida pessoal, outros como Argentina, Brasil e México, que possuem culturas altamente voltadas ao diálogo, com uma forte preferência por comunicações face-a-face, tiveram uma adoção mais lenta do trabalho móvel. Somente empresas maiores e organizações multinacionais oferecem o suporte necessário nesses países.
As culturas do sul da Europa e da América Latina são orientadas ao diálogo, enquanto as dos países escandinavos, sul-africanos e norte-americanos são orientadas a dados. Nas culturas do primeiro tipo, as organizações tendem a ter estilos de trabalho que facilitam a comunicação face-a-face e, nesses casos, as relações se constroem e se mantêm com mais facilidade. As empresas relacionadas dentro das culturas voltadas para dados tendem a enfatizar a produtividade e a eficiência e, como resultado, podem promover o trabalho autônomo, as comunicações breves e o uso de tecnologia, o que está bem próximo do estilo do ?trabalho móvel?.
Diretamente relacionado com a aceitação geográfica do trabalho móvel, o estudo também cita duas culturas onde a mão-de-obra móvel tem sucesso. As culturas ?femininas? estão mais pré-dispostas devido ao fato de homens e mulheres dividirem as responsabilidades de cuidados com os filhos, e por isso tendem a aceitar práticas mais voltadas para a família, como o trabalho móvel.
Na América Latina, a maior parte dos pesquisadores acredita que os trabalhadores móveis podem lidar com mais facilidade com suas emoções negativas. Os dados obtidos a partir de entrevistas apontam que manter um espaço pessoal beneficia o colaborador a lidar com as dificuldades: estar longe de uma pessoa com a qual não se relaciona bem é visto como algo proveitoso e acredita-se que é possível demonstrar mais abertamente as emoções negativas quando se está sozinho.
Os pesquisadores também acreditam que estes trabalhadores estão abertos a novas experiências se comparados aos que ficam internos. Por não ficarem o tempo todo no escritório, eles convivem com situações diferentes e adquirem uma outra visão que se torna benéfica.
A principal preocupação dos trabalhadores móveis da América Latina são quatro:
? A importância em balancear vida-trabalho. Estes trabalhadores tentam ao máximo separar sua vida pessoal da sua vida profissional;
? Eles podem se sentir excluídos e esquecidos por seus colegas do escritório;
? A necessidade de acesso às informações que eles precisam para dar conta de seu trabalho;
? Alguns trabalhadores móveis acham que ao ficarem um grande tempo com um cliente em particular podem dividir a sua lealdade e passam a se identificar mais com o seu cliente do que com sua própria empresa.
Em relação aos empresários, o estudo aponta que na América Latina os aspectos mais importantes na condução das equipes de trabalhos móveis são a comunicação e o entendimento. Os gerentes precisam se dedicar mais tempo aos empregados remotos para assegurar que suas necessidades estejam sendo compreendidas e satisfeitas. Além de terem em mente que esses trabalhadores nem sempre têm o mesmo acesso à informação que os seus colegas de escritório.
Por outro lado, os chefes e gerentes devem se assegurar de que estão em contato com seus colaboradores móveis e conhecem bem as áreas em que eles desempenham suas funções. Finalmente, sempre terá que ser levado em conta o fato que a falta de comunicação é um risco a se enfrentar em um ambiente diferente das relações face-a-face.
?Esse estudo destaca a necessidade das empresas abordarem uma série de questões para fazerem com que a mão-de-obra seja a mais produtiva possível?, disse Carlo Torales, gerente de Comunicações Unificadas da Cisco para a América Latina. ?É importante garantir que os funcionários móveis estejam equipados adequadamente com a tecnologia de comunicação apropriada. Por exemplo, ferramentas de presença e vídeo podem ajudar a reduzir o sentimento de isolamento, oferecendo aos funcionários móveis acesso e visibilidade dos membros de sua equipe que estejam on-line. Além disso, as organizações também devem se concentrar no desenvolvimento de gerentes experientes, selecionar os candidatos corretos e oferecer os recursos e o suporte para a criação de uma mão-de-obra móvel de sucesso?, conclui.