5 anos de LGPD: o básico ainda não está sendo feito

0

A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) completou cinco anos, mas privacidade no Brasil ainda está na sua fase de adaptação. Um primeiro ponto que eu sempre observo é: a maioria esmagadora da população ainda não está sabendo sequer que existe uma lei que trata desse tema. Está na dúvida? Faça você mesmo. Pergunte no metrô: "sabe dizer o que é o Código de Defesa do Consumidor?". Uma quantidade razoável de pessoas saberá a resposta. Pergunte sobre a LGPD e você certamente receberá mais questionamentos do que afirmativas.

É fundamental que a população seja educada sobre o assunto para que a proteção de dados passe a pautar os mais diversos segmentos da sociedade. Do mesmo modo que o assunto ainda parece atingir apenas algumas bolhas, muitas empresas ainda estão completamente tranquilas em não terem se atualizado para as normas da LGPD, justamente pelas sanções que caminham a passos lentos. A primeira multa aplicada pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), no valor total de R$ 14.000 pelo porte de microempresa, não pareceu surpreender os executivos e é um exemplo claro de como o profissional de Data Protection Officer (DPO) faria a diferença para evitar a penalização.

Entre a enormidade de coisas que ainda estão para acontecer, se eu tivesse que escolher apenas uma coisa pela qual começar, começaria por educar a população de uma forma geral, jogando com força para fora de nossa "pequena bolha" o conhecimento de algo tão relevante como os direitos que o cidadão pode exercer sobre seus dados pessoais.

Eu me lembro que era bem jovem quando saiu o Código de Defesa do Consumidor e, na época, havia até programa de TV cobrando os supermercados por não colocar os preços na prateleira. Chegava a ser meio comédia, mas o ponto é: o povo aprendeu! Será que a LGPD atingirá esse nível? Potencial, tem, mas a informação ainda precisa ser melhor difundida.

No mundo corporativo, temos de tudo um pouco, em todos os níveis. De empresas pequenas, médias e grandes que não fizeram nada, a empresas de todos os tamanhos que estão adiantadas, preocupadas com automação para ciclo de vida de dados, gestão proativa de riscos de terceiros e por aí afora. Empresas que não sabem o que é um DPO e empresas que nomearam um executivo com poder de decisão para tal e que efetivamente exercem influência positiva nos novos projetos. E isso também está relacionado ao déficit na criação de uma cultura preventiva, considerando que a restrição orçamentária ainda é o principal entrave para investimentos em tratamento da privacidade de dados entre 72% das empresas, segundo relatório da  Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes).

Ainda assim, há dez anos trabalhando com segurança de informação, observei uma evolução impressionante nesse mercado. O que antes era tratado como custo e chateação, virou parte fundamental em todos os negócios, imprescindível para a operação e até para a sobrevivência das empresas. É questão de tempo para que empresas e internautas comecem a visualizar de maneira palpável sobre os riscos que o mundo digital proporciona e investir em medidas preventivas de proteção dos dados. E quanto mais tecnologia, inteligência artificial, compartilhamento de informação, mais haverá necessidade de se impor limite a tudo isso, mais será necessária uma operação de privacidade eficiente que sustente a tudo sem que a coisa toda desmorone completamente, considerando o aumento da superfície de risco.

Quem saiu na frente sempre será beneficiado de inúmeras formas. Para o futuro muito, mas muito próximo mesmo, todos que estão apegados em não fazer nada, em breve terão sérios problemas em prestar seus serviços a quem fez e também está de olho no nível de segurança de terceiros antes de realizar qualquer transação.

Os que construíram empresas lindas, rentáveis e prósperas do ponto de vista de negócio, se tornarão incapazes de obter investimentos em suas startups-unicórnio ou serem comprados, por terem sua credibilidade enfraquecida com a negligência da segurança.

Mesmo as empresas pequenas que achavam que passariam despercebidas, foram surpreendidas pela notícia da primeira sanção com um negócio de pequeno porte e precisarão lidar com uma fiscalização que não discrimina nem tamanho e nem segmento.

A privacidade será tão grande, imprescindível e relevante quanto o mercado de segurança de informação é hoje. Quem viver, verá!

Simone Santinato,  DPO & Diretora de Serviços de Consultoria da NovaRed.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.