Quem estamos procurando: unicórnios ou camelos?

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Milhões de brasileiros pedem comida pelo iFood, táxi pela 99, ouvem Spotify com auxílio do Ebanx ou possuem conta no Nubank. Mas, o que essas empresas têm em comum? São exemplos conhecidos como unicórnios, startups que já alcançaram um valor de mercado superior a US$ 1 bilhão. Eles são alguns que alçaram esse status no ambiente extremamente competitivo das startups. Mas, apesar da jornada ser desafiadora, ainda há muito espaço para novas soluções. Afinal, o brasileiro ama tecnologia e o mundo também!

Segundo um levantamento da Fundação Getúlio Vargas publicado ano passado, o Brasil tem, em média, dois dispositivos digitais por habitante, são 242 milhões de celulares em uso no país, enquanto a população é contabilizada em 212,6 milhões de pessoas. Para se ter noção, essa quantidade absurda de devices confundiu até ministro em Brasília.

Brasileiros já se acostumaram com a adoção de novas soluções digitais. Contudo, do lado de quem empreende em inovação, o ecossistema ainda enfrenta vários entraves de ordem econômica e também política. Mesmo assim, temos bons exemplos de startups que tornaram soluções em negócios escaláveis e atraíram grandes investidores, colocando o Brasil no ranking global dos unicórnios. Hoje são 18 deles, distribuídos entre São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte.

Via de regra, os maiores desafios para uma startup está na fase de escala de sua solução, já que, normalmente, nessa etapa é necessário maiores investimentos e/ou acesso a novos mercados. Por isso, a internacionalização se apresenta como uma estratégia interessante para o crescimento exponencial da base de clientes, o que é um importante passo para se tornar um unicórnio.

Por muito tempo, a internacionalização foi considerada uma estratégia de longo prazo, dependendo primeiramente da consolidação da empresa no mercado nacional. Porém, com o aumento dos unicórnios, entendeu-se que estar presente em outros países era também uma estratégia de curtíssimo prazo. Ambos os movimentos eram a antítese um do outro: crescer rápido, queimando caixa ou crescer devagar, de forma sustentável.

As startups camelos são um ponto de equilíbrio entre os dois extremos: é possível escalar, inclusive para mercados internacionais, sem um burn cash violento. Já se tornou um movimento muito mais comum em comparação com a internacionalização, visto que faz parte de uma estratégia que prevê o crescimento acelerado com um equilíbrio financeiro. Ou seja, crescer mantendo a saúde do negócio também passou a ser observado como uma boa opção para os stakeholders.

O ecossistema global, que é hiperconectado, facilita que cases de sucesso rapidamente se tornem conhecidos fora do país. Foi assim com os unicórnios e parece que será assim com os camelos. Obviamente, são muitas as variáveis que precisam ser analisadas e estudadas antes de uma startup chegar a ser uma solução global. Contudo, o mais importante é que cai o mito de que isso só pode ser feito com muito capital.

As startups camelos que escolhem um crescimento menos acelerado, mas com menor captação de recursos externos e um olhar atento para os KPIs de saúde financeira, também já são capazes de trilhar esse caminho, graças à multiplicação de novos mecanismos, como incubadoras e aceleradoras que são, em sua essência, hubs de conexões internacionais. Não se trata mais do tamanho do bolso da startup, mas de sua capacidade de criar conexões em seus mercados de interesse. É aí que vale a língua internacional dos bons negócios: você pode não saber/poder fazer algo, mas deve se conectar com quem sabe ou pode fazer.

É a era da conexão e não apenas do cheque, do crescimento sustentável em lugar do crescimento rápido. Para uma cultura milenar, como a chinesa, em que prevalece o ensinamento de que para cortar uma árvore bem rápido é preciso gastar o dobro do tempo afiando o machado, ser mais lento e também mais resiliente, como o camelo, é tão bom e honrado quanto ser um unicórnio.

Tania Gomes, fundadora do GOVTECH.LAB.

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