Black Friday 2024: um convite à reflexão com a ajuda de Cazuza

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A Black Friday brasileira de 2024 está cada dia mais próxima, juntamente com os panetones nas gôndolas dos supermercados e a certeza de que o fim do ano se aproxima. No dia 29 de novembro, muitos consumidores estarão de frente para suas telas, sejam essas dos smartphones, tablets ou laptops, ou irão às lojas físicas em busca das melhores ofertas. Com a data, chega aquele bombardeio de estímulos ao consumo. Recebemos mensagens nas redes sociais, no e-mail, whatsapp e até mesmo via SMS. Para onde você olhar vai ter algo te convidando a consumir.

É preciso estar de olho se as ofertas são vantajosas ou até mesmo se são reais. Acho que todos nós conhecemos alguém que fez uma compra na data e, posteriormente, percebeu que era mera maquiagem. Para 2024, de acordo com a pesquisa Niq Ebit, 24% dos consumidores que disseram não ter a intenção de gastar, durante essa festividade varejista, afirmaram que o motivo principal é não acreditar que existam descontos.

Como não cair em furadas

Exatamente por essa e outras questões que me proponho a chamar a atenção para a seguinte reflexão: realmente precisamos de tudo isso que estamos pensando em comprar? Muitos podem responder: "Ah, mas não é pra mim". Então, reformulo a reflexão: "Seu filho, sua família e sua casa estão realmente necessitando desse item ou desses itens?" Vontade a gente tem mas, acredite em mim, é uma sensação passageira. Não precisa ser seguida pela conclusão da transação.

Deixe-a passar, desvie a atenção ou use táticas de compreensão para ver se a vontade é real – ou se não passa de um mero estímulo externo. Um recurso que recomendo aos meus mentorados é o seguinte: como diriam os canadenses, sleep on it, isto é, durma uma noite sem fazer aquela aquisição. Se o pensamento permanecer, é porque a vontade é maior, ou seja, pode ser avaliada com mais carinho.

Já a necessidade é diferente. Trata-se de algo que queremos já faz tempo, estamos realmente precisando para algum fim específico e, com certeza, vínhamos pesquisando o preço. E aqui, nesse ponto específico, o discernimento é um exercício bem mais objetivo do que subjetivo (isto é, se o preço estiver realmente bom e você precisa, vale a pena).

Cautela com o universo digital

Além dessa reflexão sobre vontade e necessidade, acho imprescindível lembrar de alguns cuidados que sempre precisamos ter com links de whatsapp e redes sociais, pois podem ser golpes para acessar seu celular. De acordo com o DataSenado, as fraudes cibernéticas atingiram 24% dos brasileiros com mais de 16 anos em um intervalo de 12 meses. Estamos falando de 40,85 milhões de cidadãos.

Outro ponto a ser observado é a respeito das promessas de preços milagrosos. Elas podem estar vindo de empresas que não existem de fato, mas que processam seu pagamento, desaparecem e o consumidor nunca recebe nem o produto, nem o dinheiro de volta. O Procon tem uma lista de sites que você deve evitar (consulte-a clicando aqui).

Atenção especial ao endividamento

Neste ano, em especial, o que chamou a minha atenção foram os grandes sites oferecendo também cartão de crédito com descontos especiais para o cidadão fazer suas compras naquele marketplace. Imagine o efeito que pode ter uma campanha com uma atriz famosa, com 49 milhões de seguidores em uma rede social, indicando ao espectador que ele "pague com crédito em até 20 vezes". Foi imediata a minha associação àquela música do Cazuza, na qual ele canta: "…que os homens armaram, pra me convencer, a pagar sem ver".

Esse tipo de oferta é muito preocupante em um país como o Brasil, em que as contas em atraso são um constante gargalo. De acordo com a pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em maio de 2024, 78,8% das famílias brasileiras estavam endividadas. Esse é o maior nível desde novembro de 2022. Segundo o Serasa, por meio do Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas do Brasil, esse mesmo índice cresceu 16% entre agosto de 2021 e o mesmo mês em 2024.

Precisamos estar atentos àqueles que querem nos convencer a pagar sem ver. Há um grande perigo aí: e se o novo portador do cartão de crédito não tiver dinheiro para arcar com essas novas parcelas que não estavam previstas no seu orçamento? Devemos nos lembrar sempre: usamos esse meio de pagamento para uma compra, mas depois precisamos honrá-la – seja em uma ou mais parcelas. E, infelizmente, preciso dizer que, se alguém atrasar essa quitação, estamos diante de um dos juros mais altos e cruéis do mercado.

Para esta Black Friday, recomendo boas economias ao não gastarmos os nossos recursos sem necessidade – e consequentemente, evitando a desorganização das nossas finanças. Para quem deseja saber mais sobre como conter as tentações de compra, não se deixar levar pelos impulsos e aprender sobre comportamentos financeiros saudáveis, indico buscar apoio profissional, seja de um mentor, de um psicólogo especialista em dinheiro ou de um planejador financeiro. Certamente, é um investimento em si próprio que proporciona mais estabilidade – e no longo prazo, gera até economias para quem poupa.

Luciana Pavan, fundadora e idealizadora do 90 Segundos de Finanças.

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