Chicago é conhecida como a cidade dos ventos, do lago Michigan, da pizza deep dish e do Willis Tower, um dos edifícios mais altos do mundo. Entretanto, não são seus atributos superlativos que estão atraindo os olhares do setor de food service e de automação nos últimos dias. A metrópole estadunidense recebe até esta terça-feira (21/05) o NRA (National Restaurant Association) Show.
Desembarcamos em solo norte-americano na semana passada, a convite da organização, ao lado de 250 brasileiros também engajados no segmento de tecnologia, automação, food service e varejo alimentar. No sábado (18/05), durante as Education Sessions, participamos de um bom debate sobre tendências geracionais. A reunião discutiu as preferências dos consumidores em diferentes faixas etárias, para várias cozinhas e alimentos, nos Estados Unidos.
Hábitos alimentares: da geração baby-boomer à alfa
Durante a apresentação, tivemos acesso às cozinhas mais amadas pelos americanos (mexicana, italiana, chinesa e japonesa), à tendência de surgimento de pratos novos e autênticos, como o birria (natural do México, feito com carne de cabra ou boi marinada), e as diferenças geracionais nas preferências alimentares.
De acordo com estudos compartilhados, as gerações mais jovens, como a Gen Z e os Millennials, são mais abertas a experimentar novos sabores autênticos e globais, enquanto as anteriores preferiam pratos mais familiares e tradicionais. Há ainda uma crescente demanda dos consumidores por experiências alimentares novas e emocionantes.
Essa mesma rodada de conversa abordou a tendência emergente da alimentação guiada pelo bebê para a Geração Alfa, em que os "pequeninos" são introduzidos a alimentos sólidos, além de serem permitidos a se alimentarem sozinhos. O apresentador discutiu o impacto potencial dessa mudança nas preferências e experiências alimentares da Geração Alfa, sugerindo que eles podem ser mais abertos a experimentar uma variedade maior de sabores e texturas desde cedo.
Claramente, quem veio antes exerce influência sobre quem está chegando. No Brasil, temos um caso prático que é a ascensão da comida oriental, como o sushi, altamente difundido e adaptado ao paladar brasileiro. Os mais novos já "surfam" nessa ampla gama de opções de restaurantes e deliveries – um caminho aberto há bastante tempo.
De maneira sucinta, podemos destacar que as gerações mudam, assim como os hábitos e comportamentos alimentares. Estudos apontam que a Gen Y e a Gen Z tendem a consumir menos carne e laticínios em relação aos baby boomers. O mercado precisa estar atento e aberto a essas transformações.
Inteligência artificial a serviço do varejo alimentar
Uma das experiências debatidas a respeito do eixo Loyalty (fidelidade no consumo), à qual tivemos acesso, acontece justamente na hora do pagamento. Ao passar o cartão, seja o físico ou pelo celular, o cliente é convidado a fazer um breve cadastro. Notamos que a inteligência artificial está se expandindo muito, com soluções mais diversas e criativas, inclusive na hora de pagar.
Em 2023, vimos de uma forma mais simples a aplicação por controle de voz (voice commander), a partir de uma imersão no trabalho da Sound Hound. Neste ano, há mais empresas usando a IA e Chat GPT, não apenas no primeiro atendimento ou para sanar dúvidas, mas também registrando pedidos, integrando com o PDV (ponto de venda) e os aplicativos de entrega.
Não é segredo algum dizer que a inteligência artificial está caminhando a passos largos. E estamos vendo isso diariamente aqui, no NRA Show, desde o momento em que entramos. No entanto,não se debate esse assunto isoladamente, mas sim o associando com diferentes frentes das operações, como segurança, desenvolvimentos de novas features em sistemas e até meios de pagamentos. Não há como tratar de um tópico sem trazer os demais.
Dentro de food service, o PDV e o delivery podem colher informações do cliente final, que poderão ser revertidas, de forma inteligente, para os negócios que estão por trás. A IA pode nos ajudar, de uma maneira indescritível, possibilitando experiências hiper personalizadas no momento do consumo e até mesmo na navegação em sites, apps e redes sociais.
Futuro do food service
Ainda no sábado, participamos de uma apresentação sobre o futuro da indústria de serviços de alimentação, focando nas principais tendências e inovações que moldarão o segmento até 2030. Os palestrantes Tony Smith, da Restaurant365, Liz Moskow e Joe Pollock, ambos da Technomic, discutiram cinco elementos principais que vão nortear o setor: desejo por conveniência, ânsia por experiência, apetite por aventura, vontade por bem-estar e sustentabilidade.
O debate destacou a crescente demanda por conveniência por meio de tecnologias como drive-thru, entregas por terceiros, aplicativos (mobile) e quiosques. Os speakers discorreram ainda sobre o desejo por experiências imersivas na gastronomia, desde conceitos de restaurantes únicos até o uso de realidade aumentada.
De acordo com a palestra, existe claramente uma tendência de buscar sabores aventureiros e globais, como o emprego de híbridos naturais de frutas e vegetais. A apresentação enfatizou o crescente foco no bem-estar holístico, incluindo alimentos funcionais, a nutrigenômica (área da Nutrição que estuda como a dieta pode influenciar o genoma de indivíduos ou grupos populacionais) e dietas personalizadas com base em dados de saúde.
A sustentabilidade continua como um capítulo urgente da nossa indústria. Iniciativas como a redução do desperdício de alimentos, o uso de energia renovável e a exploração de fontes alternativas de proteína, como a carne cultivada em laboratório, foram debatidas nesta edição do NRA Show.
Araquen Pagotto, CEO e fundador da Web Automação.