Por que o Threads, nova ferramenta do Instagram para concorrer com o Twitter, dita o futuro das redes sociais?

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Já imaginou uma Internet descentralizada, que devolve o controle aos usuários e garante que as comunidades criadas e a interação entre elas seja maior do que qualquer empresa isolada? Este é o conceito do ActivityPub, protocolo que dá base ao Threads, rede social baseada em texto do Instagram lançada recentemente e que quer concorrer diretamente com o Twitter.

Resumidamente, esse padrão permite que um usuário do Facebook, por exemplo, consiga interagir com uma publicação do TikTok, seja por meio de curtidas, comentários etc, sem necessariamente ter um perfil ativo nesta segunda rede. Sendo assim, não teríamos mais os "amigos do Facebook" e "seguidores do Twitter", seriam todos uma só comunidade.

Diferente do que muitos pensam, o conceito por trás do ActivityPub não é uma tecnologia nova. Ela nos remete aos primórdios da internet e tem base em ideias antigas sobre como seriam as redes sociais. Um outro exemplo que nos ajuda a entender essa dinâmica é a troca de e-mails, atividade esta que hoje fazemos de forma super automática. Uma pessoa que tem o e-mail @gmail pode tranquilamente trocar mensagens com alguém cuja conta seja do @hotmail ou de qualquer outra empresa. É isso que o ActivityPub nos promete: descentralização. Pleno poder para interagir com quem quisermos em seja qual for a plataforma.

Outro diferencial está em o usuário poder carregar para onde quer que seja a sua "comunidade". Hoje, podemos, sim, conectar por meio da nossa lista de contatos no celular seguidores e amigos de uma rede para a outra, mas isso apenas se essas tais redes estiverem sob o mesmo guarda-chuva. Podemos, por exemplo, exportar contatos do WhatsApp para o Facebook e Instagram, mas isso porque todas elas pertencem à Meta. A ideia é que, independentemente de qual seja a empresa proprietária da plataforma para qual vamos migrar, consigamos levar junto os perfis de quem seguimos e interagimos.

A pergunta que fica é: para qual caminho as redes sociais vão seguir a partir de agora? Estamos vendo acontecer em tempo real o desmonte de plataformas bastante populares entre os usuários da internet, como é o caso do Twitter que, desde a aquisição pelo Elon Musk, tem passado por mudanças que desagradam os usuários, como compra de selo de verificação e mais recentemente o limite de visualização de tweets por dia. O mesmo acontece com o Reddit, tida por muitos como uma das últimas plataformas que de fato era controlada pelos usuários e com arquitetura P2P (peer-to-peer), mas que nos últimos dois meses tem se autodestruido e passado por mudanças catastróficas na tentativa de se tornar rentável.

Vale ressaltar que o poder de toda e qualquer rede social são as pessoas que fazem parte dela, ou seja, as comunidades digitais. São elas que vão dar status, base de dados para que ela possa crescer e que vão dar remuneração a partir dos anunciantes. O que acontece é que empresas que controlam redes como Twitter e Reddit, citadas acima, têm tomado decisões extremamente não populares entre suas comunidades digitais, estas que, como eu disse, são o seu principal ativo. Claro, podem se tratar de estratégias que façam sentido para o negócio da companhia, mas se não tiverem sinergia com o que usuários esperam, o resultado será a evasão desse público. E sem comunidades digitais não há rede social.

Isso nos indica que o futuro das redes sociais é menos controle de plataforma e mais controle de usuário. E uma resposta clara a essa tendência é justamente o protocolo ActivityPub. Como temos visto, grandes players têm buscado reinventar os modelos atuais de interação, como é o caso do próprio Instagram, uma das maiores redes sociais da atualidade, que está lançando uma resposta ao Twitter baseada nesse protocolo. É mais poder e segurança para o usuário final e ainda mais força para as comunidades digitais.

Trata-se também da combinação perfeita do que entendemos como omnichannel, já que há tempos se fala sobre ter uma comunicação diversificada em todas as redes sociais. Mas pensemos, se a rede social é descentralizada, com serviços interconectados, logo temos uma comunicação só. Assim, será possível impactar as comunidades digitais ao mesmo tempo e de uma só vez.

Kim Nery, CCO e diretor de Criação da Pira.

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