Definir o que é uma cidade inteligente não é uma tarefa fácil. Há muitas definições disponíveis, e mesmo depois de muitos anos da primeira menção de Smart City na literatura, ainda falta uma definição formal. A "cidade inteligente" é um conceito complexo e heterogêneo que envolve o uso da inovação baseada em TICs para melhorar a qualidade de vida no espaço urbano. Alcançar a cidade inteligente é um processo em vez de uma solução técnica específica, e é verdadeiramente "uma nova forma de governar".
Sendo um conceito tão fluido, a definição de uma cidade inteligente tem sido objeto de muitas obras acadêmicas. Em um artigo recente apresentado no ICEGOV/2019 em Melbourne, Austrália, denominado "uma taxonomia de iniciativas de cidades inteligentes", os autores coletaram treze definições diferentes na literatura especializada.[1]
Uma simples análise estatística do texto de tais definições indica os elementos-chave que são necessários para uma cidade inteligente. Considerando o conceito heterogêneo, consolidamos algumas das definições existentes, considerando alguns elementos-chave que precisam estar presentes em uma cidade inteligente. Uma nuvem de palavras de tal análise é apresentada na figura abaixo.
Como podemos ver, os temas relacionados à tecnologia, bem como os relacionados à qualidade de vida para os cidadãos e o ambiente urbano, destacam-se da imagem.
Com base nesses elementos e entendendo que uma cidade inteligente é uma entidade complexa, o quadro abaixo sumariza os principais objetivos que são esperados para termos uma cidade inteligente.
Muitas das questões relacionadas com o desenvolvimento da cidade inteligente são semelhantes às de uma implementação de um eGOV (governo eletrônico). Em uma fase inicial, ambos desenvolvem sistemas semelhantes em paralelo — principalmente informações e serviços on-line. Por exemplo, a nível nacional, as pessoas podem solicitar benefícios sociais online e fazer as suas declarações de imposto de renda também online. Nas cidades, as pessoas podem solicitar online, um alvará de construção ou abrir um negócio.
Historicamente, quando os governos começaram a oferecer e-serviços aos seus cidadãos, descobrimos que a tecnologia também poderia ser usada em um sentido mais amplo, não só para fornecer melhores serviços de cidadania, mas também para melhorar a qualidade de vida dos habitantes da cidade e promover o desenvolvimento socioeconômico. Ao invés de limitar essas iniciativas a automatização dos fluxos de trabalho do governo e reduzir a burocracia, acadêmicos, engenheiros, decisores políticos e outras partes interessadas, viram ai a oportunidade de criar um novo modelo para operar e gerenciar uma cidade, com base nas promessas de novas tecnologias de TI, tais como IoT (Internet das coisas), redes de telecomunicações avançadas e as capacidade de processamento e armazenamento de dados na nuvem.
A cidade inteligente diverge do e-Gov em grande parte devido às necessidades geradas pelas atividades diárias das populações concentradas em áreas urbanas — O primeiro emprego, ruas iluminadas, água encanada e outros serviços públicos. Estas necessidades também incluem serviços de controle de tráfego, controle de qualidade do ar e saúde, gestão de resíduos, entre tantos outros.
Atualmente, as Smart Cities e o e-Gov podem ser vistos como conceitos entrelaçado. Eles compartilham muitos objetivos e tecnologias, enquanto ao mesmo tempo, eles podem ter suas áreas de atuação exclusivas. Um objetivo comum é reduzir os custos e o consumo de recursos, permitindo ao governo engajar-se de forma mais ativa com seus cidadãos. Por outro lado, automatizar de forma inteligente algumas funções da cidade, pode não ser parte dos deveres do governo, mas essa automação torna a cidade mais inteligente.
Uma vez que são empreendimento semelhantes, as cidades inteligentes e o governo eletrônico sofrem o mesmo tipo de desafios de implementação. A evolução da cidade inteligente em diferentes níveis de maturidade é comparável aos níveis do e-Gov. Portanto, as lições aprendidas na implantação de e-Gov podem também serem aplicadas nas inciativas de implantação uma Smart City.
Por isso, uma cidade inteligente não é apenas um alvo ou uma série de artefatos a serem construídos. É um processo complexo que requer visão de longo prazo, comprometimento e vontade política dos líderes da comunidade e dos demais atores envolvidos nos serviços que uma cidade requer.
Mas, provavelmente, o fato mais importante sobre uma implementação da Smart City é que o processo requer uma nova forma de governar. Sem essa transformação na estrutura governamental, e na mentalidade dos principais atores envolvidos, projetos de Smart City tendem a se tornar apenas mais um modismo político tecnológico, do que uma efetiva contribuição ao desenvolvimento sócio econômico de uma cidade.
Lorenzo Madrid, presidente do Smart City Business Institute – USA.
* Colaborou para este artigo a Sra. Linda Bower.
[1] Charalampos Alexopoulos da Universidade do Egeu, Yannis Charalabidis da Universidade Técnica Nacional de Atenas, Gabriela Viale Pereira da Universidade de Danúbio Krems, e Lorenzo Madrid do Smart City Business Institute, "uma taxonomia de Iniciativas de cidades inteligentes, "ICEGOV, Sydney, Austrália, 20-22 de fevereiro de 2019. https://dl.acm.org/citation.cfm?id=3326402