Pecuária investe em tecnologia e inovação mais sustentável

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Imersa em um momento de transformação acelerada, impulsionada pela necessidade de inovação tecnológica e pela busca por maior eficiência e sustentabilidade, a pecuária intensiva é um desafio para o agronegócio brasileiro. Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo setor é adaptar soluções tecnológicas globais às especificidades do Brasil, especialmente no sistema de confinamento, uma modalidade relativamente nova e em rápido crescimento no país.

O agronegócio brasileiro tem historicamente liderado a produção agrícola global, beneficiando-se de tecnologias avançadas vindas de mercados mais maduros. Equipamentos como tratores e implementos, técnicas de manejo e sistemas de plantio, se adaptam mais  facilmente às condições brasileiras, são exemplos de inovações bem-sucedidas. Contudo, quando se trata da pecuária intensiva, a realidade é diferente.

"Na pecuária, tudo ainda está sendo construído. Não temos um exemplo consolidado no mundo tropical para replicar no Brasil. Estamos criando soluções do zero, enfrentando margens apertadas e desafios ambientais únicos para sermos sustentáveis", afirma Paulo Dias, zootecnista e CEO da Ponta Agro, empresa de tecnologia focada na gestão da informação e da precisão na pecuária, responsável pelo gerenciamento de informações de mais de 7 milhões de cabeças por ano em todos os sistemas produtivos.

Automação e IoT: a pecuária conectada

Um dos pilares da transformação digital na pecuária intensiva é a aplicação de automação e Internet das Coisas (IoT). Tecnologias avançadas, como sensores para monitoramento de temperatura, umidade e comportamento dos animais, aliados a softwares de análise de dados em tempo real, permitem maior controle e precisão nas operações. "Precisamos gerir o nosso ativo boi com máxima eficiência. Tecnologias que monitoram consumo, comportamento e até níveis de estresse animal vêm para ficar. O desafio é integrá-las a um sistema de gestão inteligente que facilite a tomada de decisão", destaca Dias.

A automação também se mostra crucial para otimizar processos repetitivos, como alimentação e manejo dos animais. Equipamentos automatizados podem garantir a distribuição precisa de ração, reduzindo desperdícios e melhorando a eficiência alimentar. Um dos exemplos que destacam as particularidades da pecuária brasileira é o uso predominante da raça Nelore, perfeitamente adaptada ao clima tropical. Enquanto países como os Estados Unidos utilizam raças como Angus, criadas em condições climáticas completamente diferentes, no Brasil, o Nelore é a base da produção. Isso exige que tecnologias e processos sejam moldados para atender às necessidades específicas desta raça, como seu comportamento em confinamento e o manejo para reduzir o estresse térmico. "Não podemos simplesmente copiar modelos de outros países. Temos o sol rachando, enquanto em outros lugares há neve e outras raças. A nossa genética, como a do Nelore, e o nosso ambiente demandam soluções completamente customizadas. Todo o crescimento tecnológico que vivemos está acontecendo com as nossas próprias pernas", ressalta o zootecnista.

A inovação não se limita a ferramentas sofisticadas, mas envolve a integração de dados e a tomada de decisões rápidas e precisas. Conforme explica Dias, conectar dados operacionais com sistemas financeiros e gerenciais é essencial para evitar a fragilidade dos processos: "A tecnologia sozinha não resolve os problemas. É preciso maturidade de gestão para utilizá-la de forma estratégica. Caso contrário, os números podem gerar mais pressão do que soluções."

Dias destaca que, apesar dos avanços, o conhecimento e a decisão final continuam sendo humanos. "A tecnologia não gera conhecimento sozinha, são as pessoas que fazem isso. Inteligência artificial pode ajudar na tomada de decisão, mas ela aprende de acordo com o que foi treinada. É preciso questionar e criticar as respostas que recebemos", reforça.

O boi como ativo e a importância do bem-estar animal

Na pecuária intensiva, entender o comportamento e as necessidades do animal é fundamental. Tecnologias para monitorar consumo, stress e desempenho têm ganhado espaço, mas sua integração ainda é um desafio. "É lindo ter informações sobre temperatura e comportamento do boi, mas isso só é útil se integrado a processos de gestão. Ainda estamos aprendendo a lidar com esses dados", comenta o CEO da Ponta.

Outro ponto crucial é a busca por sustentabilidade. Reduzir o impacto ambiental sem comprometer a produtividade é um desafio constante. Tecnologias como biologia molecular, avaliação genética e eficiência alimentar têm avançado na busca por animais mais eficientes, como o Nelore, que consomem menos e produzem mais, potencializando a produção e minimizando os custos.

O confinamento de gado no Brasil caminha para se tornar um setor cada vez mais tecnológico e sustentável. Por isso, conclui Dias, é necessário "tomar decisões diariamente, e a tecnologia deve ser uma aliada para que isso aconteça de forma rápida e precisa, diretamente no celular do gestor".

A adaptação tecnológica na pecuária intensiva brasileira requer inovação, planejamento e o desenvolvimento de soluções locais. Apesar dos desafios, o setor avança com potencial para transformar o agronegócio brasileiro e fortalecer sua posição global, sempre com foco na sustentabilidade e na eficiência.

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