O Departamento de Justiça (DoJ) dos Estados Unidos disse na segunda-feira que pode não precisar de ajuda da Apple para desbloquear o iPhone usado por um dos atiradores no atentado em San Bernardino, na Califórnia. A divulgação levou a juíza federal Sheri Pym, da Corte Distrital Federal da Califórnia, responsável pelo caso, a adiar a audiência que estava marcada para esta terça-feira, 22.
O órgão do governo disse que um "colaborador externo" demonstrou um caminho para que o FBI possivelmente desbloqueie o smartphone usado pelo atirador Syed Rizwan Farook. A Apple tem se mantido irredutível na recusa de colaborar com as autoridades norte-americanas para desbloquear o iPhone, alegando preocupações com a privacidade e segurança dos usuários de seus smartphones.
O Departamento de Justiça disse que enquanto testa o método de desbloqueio, para ver se ele funciona, "a necessidade de a ajuda da Apple" deve ser desconsiderada, segundo o The New York Times, que teve acesso ao documento. O DoJ acrescentou que irá apresentar um relatório da situação até 5 de abril, informando sobre o seu progresso.
A suspensão deve dar uma trégua nas discussões sobre como e quando as autoridades podem solicitar o acesso a dados digitais coletados e armazenados por empresas de tecnologia. A Apple e o governo dos EUA trocam farpas desde o mês passado, quando a fabricante recebeu uma ordem judicial exigindo que "enfraquecesse" a criptografia do iPhone para que os policiais pudessem ter acesso aos dados.
O caso tem sido visto como um divisor de águas no debate sobre privacidade e segurança.
A Apple se opôs à ordem judicial, argumentando que isso poderia abrir um precedente para forçar a empresa a quebrar a criptografia de muitos iPhones, comprometendo assim a privacidade de seus consumidores e a sua segurança do produto.
Neste mês, o presidente Barack Obama disse que as autoridades responsáveis ??pela aplicação da lei devem ser capazes de coletar legalmente informações de smartphones e outros dispositivos, e criticou a posição de empresas de tecnologia como a Apple sobre a criptografia.
O novo método pode adiar, mas é improvável evite um confronto envolvendo a criptografia entre as empresas do Vale do Silício e o Departamento de Justiça. "Isso só vai adiar a disputa inevitável sobre se o governo pode forçar a Apple a quebrar a segurança de seus dispositivos", disse Alex Abdo, advogado da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU).
A briga judicial entre o governo dos EUA e a Apple, independentemente de seu resultado, aumenta a probabilidade de que o Congresso Nacional crie uma legislação para tratar do assunto.
Em uma teleconferência na segunda-feira, 21, um oficial federal, que falou aos jornalistas sob a condição de anonimato, disse que o governo legalmente tem o direito de explorar todos os métodos, inclusive de terceiros, para tentar desbloquear o iPhone. Depois de esgotadas todas as opções, então ele pode voltar aos tribunais para obrigar a Apple a ajudar a desbloquear o dispositivo.
No entanto, um executivo da Apple, que também falou sob a condição de anonimato, disse que a Apple vai querer saber mais sobre a ajuda externa do governo para quebrar a criptografia do iPhone e verificar se tal método pode contornar os recursos de segurança da empresa.
Mas a Apple diz que vai continuar a proteger os dados de seus usuários. Em um evento para o lançamento do iPhone SE, sucessor do iPhone 5S, com tela de 4 polegadas, na segunda-feira, na sede da empresa. Na ocasião, o CEO Tim Cook enfatizou que a empresa tem como filosofia a proteção da privacidade dos usuários. "Esta é uma questão que afeta a todos nós e não vamos recuar diante desta responsabilidade", disse ele.