Tudo é moda. Já foi blockchain, já foi metaverso. Agora é a vez da Inteligência Artificial (IA), da criptografia quântica e dos computadores quânticos. E não me entenda mal — todas essas tecnologias têm seu valor e, no tempo certo, serão cruciais para o avanço da cibersegurança. Mas o que me preocupa é a pressa em discutir o futuro enquanto o presente está completamente vulnerável.
Estamos, muitas vezes, tapando o sol com a peneira. Temos discussões entusiasmadas sobre técnicas sofisticadas, mas ignoramos que há empresas que sequer aplicam patches de segurança com regularidade. Há ambientes críticos sem uma política estruturada de gestão de vulnerabilidades, sem monitoramento contínuo de tentativas de phishing, e onde as políticas de segurança da informação ou não existem, ou estão desatualizadas.
O hype tecnológico cria uma ilusão de acessibilidade. Ouve-se por aí que a criptografia quântica vai resolver todos os problemas, mas poucos sabem que, por ora, ela só se aplica a dados em trânsito — e não aos dados armazenados. A maioria das organizações ainda precisa resolver questões muito mais imediatas, como segmentação de redes, controle de acessos, autenticação multifator e conscientização dos usuários.
É como se você só quisesse um aspirador de folhas para limpar o quintal, mas não tem nem uma vassoura em mãos. O feijão com arroz da segurança ainda é deixado de lado por uma busca cega por soluções de ponta, caras e, muitas vezes, impraticáveis na realidade atual da empresa.
Falar de futuro é importante, mas não se sustenta sem uma base sólida no presente. Investir no básico não é atraso: é inteligência estratégica. Antes de correr atrás da próxima grande tendência, olhe para o seu ambiente, arrume a casa, revise seus processos e fortaleça sua estrutura.
Porque, no fim das contas, segurança não se faz com moda. Se faz com consistência, disciplina e responsabilidade.
Isabel Silva, Security Business Development Director da Add Value.
