Este é um mês particularmente importante no Brasil e em muitos países do mundo, pois comemoramos o Dia das Mães. Além de ser uma homenagem merecida, essa data nos convida a refletir sobre o papel essencial que elas desempenham em nossas vidas. Por isso, especialmente neste mês, tomo a liberdade de compartilhar com vocês um pouco mais da minha história e de como minha mãe foi meu primeiro – e mais importante – exemplo de liderança e resiliência.
Muito jovem, ela foi posta à prova e teve que se reinventar para seguir em frente. Tornou-se figura central em minha vida, moldando não apenas minha personalidade, mas minha identidade como líder e profissional. Com uma trajetória marcada por desafios, ela nos ensinou, por meio de suas ações, que a verdadeira liderança se manifesta na adversidade.
Éramos uma família de quatro filhos, pai e mãe. Ela, então com seus 29 anos, ficou grávida do quinto filho. Nossa família vivia um momento de prosperidade. Meu pai era um jovem muito ambicioso e inteligente, que desenvolveu um negócio na área de mineração e enriqueceu muito, muito rápido. Nesse movimento, saímos de uma cidade pequena e nos mudamos para Brasília, a capital federal.
As coisas pareciam correr dentro da normalidade. Porém, logo após minha mãe completar o quinto mês de gravidez, nossa família teve que passar por uma profunda transformação. Meu pai nos abandonou. De um dia para o outro, dormimos com todo o conforto de uma vida familiar estruturada e abastada e acordamos, praticamente, sem nada. E a pergunta que pairava era: "e agora, como pagar a casa, alimentar os filhos, educação, enfim, tudo"?
O fato é que quando meu pai nos deixou a vida que conhecíamos desmoronou. E, por isso, minha jovem – e grávida – mãe teve que se tornar, rapidamente, em lastro. Tornou-se nossa âncora e nosso farol. Mostrou-nos o caminho e, ao mesmo tempo, como trilhá-lo.
A resiliência que ela demonstrou não foi apenas sobre sobreviver; foi sobre se reinventar. A cada ônibus que pegava para fazer cursos e buscar trabalho, ela nos mostrava que a liderança começa em pequenos atos de coragem. Seu esforço para garantir que tivéssemos educação e valores foi a semente do que nos tornamos. Ela nos guiou pelo exemplo de sua fortaleza. E assim educou cinco filhos.
Olhando para trás, vejo que, instintivamente, ela nos deu como lição princípios de liderança que podem ser aplicados em qualquer organização e que permeiam estruturas, processos e relações de sucesso aonde quer que eu vá.
- "Nunca pegue o que não é seu, mesmo que tenhamos que passar fome nós nunca vamos fazer isso!" Aposto que você também já deve ter ouvido isso de seus pais. Para mim, essa é a tradução de Integridade, isto é, remete à importância de liderar com ética. Um líder deve sempre ser transparente e honesto, mesmo em tempos difíceis – talvez, quanto mais complexos os tempos, mais íntegra a liderança deve ser.
- "Somos uma família, por isso temos que cuidar sempre uns dos outros." Eu traduzi na minha vida como Teamwork: a ideia de que devemos cuidar uns dos outros se reflete na essência do trabalho em equipe. Um líder eficaz cria um ambiente onde todos se sentem valorizados e apoiados.
- "Qualquer coisa que vocês façam na sua vida, sempre façam o seu melhor." Para mim, isso é essencialmente a Busca pela Excelência: o incentivo a sempre fazer o seu melhor é um pilar fundamental da liderança. A excelência deve ser a meta, inspirando não apenas resultados, mas também encorajando os outros a aspirarem ao seu máximo potencial.
Esses princípios, que minha mãe incorporou de forma natural em nossas vidas, sustentam a base não apenas da minha liderança, mas a lente pela qual entendo que nossa sociedade deveria se estruturar. São valores tão arraigados e potentes em mim, que não me enxergo longe deles. Foi a partir dessas bases que ela formou seus cinco filhos com educação e dignidade para serem pessoas boas, honestas e gentis.
As mães são, de fato, a força invisível que molda o caráter e a ética de uma geração. Elas ensinam que liderança não é apenas sobre estar à frente, mas também sobre servir, apoiar e inspirar. Fica aqui o meu tributo em vida à minha mãe, Dona Zô – que, aos 84 anos, segue sendo o centro de nossa família -, e a todas as mães brasileiras, latinas, americanas, europeias, africanas, asiáticas e indígenas que desempenham um papel incomensurável na formação de indivíduos e na construção de uma sociedade mais justa.
É simplesmente impossível não amá-las!
Washington Botelho, Presidente da JLL Work Dynamics para a América Latina.