A indústria do açúcar e álcool enfrenta um cenário de desafios crescentes. A alta competitividade, custos crescentes e a necessidade de adequação às exigências ambientais e sociais exigem uma busca constante por maior produtividade e eficiência. Neste contexto, a excelência em gestão operacional, aliada à automação e à inteligência artificial (IA), emerge como um fator crucial para maximizar a produtividade e sustentabilidade das operações.
Automação e eficiência operacional: um caminho para a excelência
O agronegócio opera em um ambiente complexo e dinâmico, lidando com desafios como sazonalidade e variações climáticas. A eficiência operacional é essencial para otimizar recursos, minimizar desperdícios e garantir uma produção contínua e sustentável. Isso inclui desde a gestão eficiente de processos até a manutenção preditiva de equipamentos e a capacitação constante da equipe.
A automação dos processos permite identificar e eliminar gargalos, ineficiências e oportunidades de melhoria em todas as etapas da produção. Por exemplo, a otimização do uso dos equipamentos assegura que eles operem em sua capacidade máxima, reduzindo paradas não programadas e aumentando a produtividade operacional. Consequentemente, os processos são executados de forma consistente, garantindo a qualidade do produto final.
Os benefícios tangíveis da automação são evidentes: um aumento de até 60% na produtividade e uma redução de custos em até 40%. Pesquisa da KPMG e SAE Brasil mostra que 44% dos produtores rurais reconhecem que a adoção de novas tecnologias resulta em melhor performance e redução de custos, e 33% consideram a Agricultura de Precisão como a principal oportunidade para o setor.
Integração da IA: o futuro da gestão operacional
A integração da inteligência artificial (IA) e do machine learning (ML) nos processos operacionais das agroindústrias eleva a eficiência a um novo patamar. A IA permite analisar grandes volumes de dados em tempo real, identificando padrões e tendências que suportam uma gestão mais eficiente e proativa. Isso possibilita uma tomada de decisão mais assertiva, baseada em dados concretos, e a antecipação de problemas antes que eles afetem a produção.
Por exemplo, algoritmos de IA podem prever a necessidade de manutenção de equipamentos, evitando paradas inesperadas e custos elevados de reparo. Além disso, a IA pode otimizar o uso de insumos agrícolas, como água e fertilizantes, garantindo um uso mais sustentável e eficiente dos recursos naturais.
Foco no desempenho humano: a nova forma de trabalho na Era da IA
Muitas das mudanças tecnológicas que estão acontecendo — o surgimento da IA Generativa, a ascensão de mundos virtuais, réplicas virtuais de nós mesmos e o desenvolvimento da Neurotecnologia que agora pode quantificar o cérebro — podem parecer retiradas diretamente das páginas de um livro de ficção científica, mas já estão se tornando uma realidade cotidiana. Reimaginar o trabalho sem fronteiras em meio a essas disrupções não é mais hipotético — ou opcional.
Já estamos operando em um mundo em que o trabalho não é mais definido por empregos, o local de trabalho não é mais um lugar específico, muitos trabalhadores não são mais funcionários tradicionais e os recursos humanos não são mais uma função isolada. Essas fronteiras, antes assumidas como a ordem natural das coisas, estão caindo e os modelos tradicionais de trabalho estão se tornando sem fronteiras. É hora de negociar as regras, construções operacionais do passado. Priorizar o desempenho humano pode ajudar as organizações a dar o salto necessário.
A pesquisa "Global Human Capital Trends 2024" da Deloitte, revela que um foco no fator humano está surgindo como a ponte entre saber quais mudanças estão moldando o futuro do trabalho e fazer coisas para trazer um progresso real em direção a acioná-las para criar resultados positivos. Fica claro pelas respostas de mais de 14 mil entrevistados, em 95 países, que quanto mais o trabalho se torna sem fronteiras, mais importantes as capacidades exclusivamente humanas — como empatia e curiosidade — se tornam necessárias e demandadas.
Há maneiras tangíveis pelas quais as organizações podem priorizar o desempenho humano:
- Pensar como um pesquisador: aproveitar novas fontes de dados e tecnologia para criar maior transparência a fim de promover a confiança da força de trabalho. Usar esses recursos em colaboração com capacidades humanas inatas, como resolução de problemas, pensamento criativo e inovação, para explorar, brincar e experimentar ideias que apoiem a maior realização de valor.
- Cocriar o relacionamento: colaborar com os trabalhadores para projetar práticas pessoais, microculturas e espaços digitais que sejam relevantes para eles e apoiem resultados humanos.
- Priorizar resultados humanos: superar a mentalidade da era industrial que levou à desumanização do trabalho e do trabalhador — por exemplo, ver o trabalhador como um número, uma caixa no organograma ou uma engrenagem no processo — para criar valor compartilhado para os trabalhadores, as organizações e as comunidades nas quais operam.
A disrupção tecnológica está ultrapassando a capacidade de muitas organizações e trabalhadores de imaginar novas formas de trabalho que tirem o melhor proveito dos humanos e da tecnologia. Consequentemente, muitas organizações podem enfrentar um déficit de imaginação. Para evitar esse déficit, as organizações precisarão dimensionar e operacionalizar o cultivo de capacidades distintamente humanas, como curiosidade, empatia e criatividade, e dar aos trabalhadores e equipes a autonomia para usá-las para moldar os tipos de trabalho que fazem. Tão importante quanto isso, os trabalhadores individuais provavelmente precisarão dessas capacidades para imaginar seus próprios futuros, à medida que a IA e outras tecnologias disruptivas assumem papéis cada vez mais proeminentes.
Sustentabilidade e Responsabilidade Social
A automação e a IA não apenas melhoram a eficiência operacional, mas também têm um impacto significativo na sustentabilidade e responsabilidade social das agroindústrias. A otimização do consumo de água e energia, a minimização de emissões de gases poluentes e o tratamento eficiente de efluentes são apenas algumas das práticas sustentáveis promovidas pela tecnologia.
A rastreabilidade da produção, possibilitada pela automação, garante que a cana-de-açúcar utilizada seja de origem sustentável, livre de desmatamento ilegal, facilitando a obtenção de certificações de sustentabilidade. Isso não só melhora a reputação da empresa perante os consumidores, mas também aumenta a confiança dos stakeholders e abre novas oportunidades de mercado.
Além disso, o mercado global de produtos biológicos agrícolas, que inclui biofertilizantes e biopesticidas, movimentou US$ 14,6 bilhões em 2023 e deve crescer para US$ 27,9 bilhões até 2028, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 13,8%, segundo o PitchBook. Esse crescimento reflete a crescente demanda por práticas agrícolas mais sustentáveis e eficientes.
Executivos de olho na IA
Uma pesquisa realizada com mais de 600 participantes pela KPMG e SAE Brasil revelou que 82% dos CEOs e altas lideranças acreditam que o impacto da IA será enorme no trabalho e em seus negócios. Mais de 37% pensam que o futuro incluirá pessoas colaborando com a IA, destacando a importância da co-inteligência — a colaboração sinérgica entre humanos e IA — para o sucesso futuro.
A jornada rumo à excelência em gestão operacional na agroindústria requer uma combinação de automação avançada, IA e práticas sustentáveis. Ao adotar essas tecnologias e práticas inovadoras, as agroindústrias não apenas melhoram sua eficiência e produtividade, mas também reforçam seu compromisso com a sustentabilidade ambiental e social. Esse ciclo virtuoso de melhoria contínua e inovação é essencial para garantir a competitividade e o sucesso a longo prazo no mercado global.
Francisco Loureiro, CEO e Presidente da Proudfoot Brasil.