Governo, governança e consciência

0

Uma queixa comum às práticas da governança corporativa é que elas podem introduzir ou aumentar a burocracia, principalmente quando olhamos o segmento de pequenas e médias empresas. Uma das causas dessa aparente rejeição se dá por uma percepção de rigidez nas estruturas de governança que poderá dificultar a adaptação rápida a mudanças ou a introdução de inovações. Associar "governança" com "governo"  também aparece como fonte de rejeição dos executivos, principalmente quando associado à burocracia e aos processos ineficientes no setor público. Muitas pessoas ainda confundem os termos "governo" e governança", talvez pela semelhança linguística – soar parecidos e ter origens etimológicas semelhantes – ou por serem usados de forma genérica em conversas informais, ou mesmo na mídia e nas redes sociais.

O termo "governo" é mais comumente associado às entidades públicas ou instituições que exercem autoridade em um território ou nação, sendo responsáveis pela criação e aplicação de leis, políticas públicas e administração do estado. Normalmente, é referência para pessoas que exercem esta autoridade. Já a "governança", refere-se ao processo pela qual autoridade, gestão, execução e recursos são exercidos nas organizações – públicas ou privadas. Muitas vezes, governo e governança são discutidos em conjunto na esfera pública, quando o governo é o responsável por estabelecer o modelo de governança.

Governança existe tanto no setor público  – Governo – quanto no setor privado, e pode ser aplicada em contextos diferentes, como corporativa, governança de TI, governança de Dados, governança ambiental e social. A não familiaridade com estes contextos podem levar à confusão no entendimento do termo.

A confusão tem se expandido na medida em que os princípios do ESG ou ASG (Ambiental, Social e Governança) passam a ser a "bola da vez". Tanto isso parece verdade que encontramos em uma grande quantidade de empresas um "departamento de ESG", localizado dentro do RH ou, às vezes, na área industrial, pois o entendimento é que se trata somente dos temas de inclusão e diversidade, ou a questão da sustentabilidade do meio ambiente, muitas vezes, associados a políticas públicas. O G da "governança" é deixado de lado.

Embora seja uma simplificação dizer que "governança é ter consciência", uma pequena análise da origem etimológica do latim nos remete à "conscientia", formada da junção de con (com) e scientia(conhecimento), nos fazendo refletir sobre a questão do que é a "governança", senão a capacidade de uma organização estar ciente de si mesma, de seus valores, princípios, objetivos e processos, assim como o entendimento do ecossistema ao seu redor.  Podemos ainda entender o significado de "governança" como a descrição ou o modelo da capacidade de uma organização de discernir o certo do errado, e a de tomar decisões informadas com base nessa compreensão.

Desta forma, para que tenhamos um país onde conceitos e práticas de governança (ou do ASG, como quiserem), sejam aplicados de forma consistente, coerente e com consciência, seja por governos e entidades públicas em geral, ou pela iniciativa privada em todos os segmentos  ou setores por organizações de qualquer tamanho, é preciso aceitar que o primeiro passo é  "ter consciência" do significado destes para as organizações – públicas ou privadas, para a sociedade e para o país. De outra forma, até podemos dizer que fazemos, mas é muito mais washing (lavagem) mercadológica do que realidade.

Enio Klein, influenciador e especialista em vendas, experiência do cliente e ambientes colaborativos com foco na melhoria do desempenho das empresas a partir do trabalho em equipe e colaboração. CEO da Doxa Advisers e professor de Pós-Graduação.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.