Uma resolução aprovada na semana passada pelo Conselho Estadual de Educação de São Paulo permitirá que as escolas de ensino médio ofereçam até 20% da carga horária na modalidade a distância. A medida só é aplicável ao estado e vale tanto para colégios públicos como particulares. Entretanto, a secretaria de educação de São Paulo já informou que a medida não será implementada nessa gestão por "não considerar a educação a distância adequada ao ensino médio".
Para o presidente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, a medida é "extremamente negativa" e "contraria todos os princípios educacionais". "A eficiência da educação a distância é discutida até mesmo no caso da formação de professores, não tem nenhum sentido aplicá-la na educação básica", argumenta.
O sociólogo aponta que a relação entre professor e aluno é fundamental para o desenvolvimento do estudante. "A escola não é só um espaço de acesso a conteúdos, mas de relações essenciais para o desenvolvimento do jovem como cidadão", defende.
Cara aponta ainda que no estado de São Paulo, onde há meios suficientes para garantir a educação presencial, não é necessário investir nessa modalidade.
A especialista em educação a distância da Universidade de Brasília (UnB), professora Maria de Fátima Guerra, diz que vê a medida com "otimismo e preocupação". "A educação a distância amplia possibilidades, mas ao mesmo tempo é preciso trabalhar os alunos, educar para isso. Há uma postura diferente para se trabalhar a distância, não são todos que tem esse perfil. É preciso ter muita disciplina e responsabilidade", aponta.
Ao mesmo tempo, Maria de Fátima acha que a medida pode contribuir para diminuir o preconceito que existe hoje com a educação a distância, além de estimular a autonomia do aluno, permitindo que ele "assuma mais responsabilidade sobre o processo educativo". Ela lembra que a modalidade não se resume a uma simples transposição do conteúdo para o ambiente virtual. "Até o material didático é diferente, é todo um procedimento diferenciado", alerta.
Cara ressalta que o ensino médio, ao lado da educação infantil, é uma das etapas mais problemáticas do sistema educacional e precisa, antes de tudo, de uma reformulação. "Primeiro precisamos construir uma agenda nacional para o ensino médio para depois pensar em como utilizar ferramentas a distância como complemento do processo. O uso de tecnologias é extremamente positivo, desde que não substitua a missão do ensino médio", avalia.
A presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apoesp), Maria Izabel Noronha, afirma que a resolução do conselho é precipitada e "inaceitável". "Primeiro nós temos que avançar muito em termos de identidade do ensino médio. Na nossa avaliação, a educação básica não pode ser de forma alguma feita à distância. A relação entre professor e aluno ficaria quebrada", acredita.
A Agência Brasil entrou em contato com o Ministério da Educação (MEC) que preferiu não se posicionar sobre o assunto alegando que os conselhos estaduais têm autonomia para tomar decisões.