Pesquisa realizada pela PwC Brasil em parceria com o Ibracon (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil) mostra que as empresas listadas na B3 estão mais comprometidas com a agenda ESG. Os resultados da 2ª edição da ESG no Ibovespa indicam um avanço da pauta, com 96% das empresas envolvidas no Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas) para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e com 67% também assinantes do GHG Protocol.
De acordo com o levantamento, 82% das pesquisadas divulgam as emissões de gases de efeito estufa inclusive na cadeia de valor, enquanto 7% divulgam as próprias emissões. Apenas 11% não divulgam as emissões.
"É nítido que há um avanço de 2020 para 2021 nas divulgações e na asseguração das informações contidas nos relatórios, mas devemos nos manter vigilantes para evitar que a divulgação seja meramente uma carta de boas intenções. Metas e ações devem acompanhar os relatórios de sustentabilidade das empresas, e as recém-chegadas no mercado de capitais já deveriam demonstrar maior alinhamento com as agendas ESG", afirma Mauricio Colombari, sócio da PwC Brasil e um dos responsáveis pela pesquisa.
A participação em índices de sustentabilidade aumentou consideravelmente. O levantamento mostra que 72% estão no ICO2/B3 e pouco mais da metade (56%) está no ISE/B3. Ao todo, 57% das empresas divulgam metas para a redução de gases causadores do efeito estufa, sendo 41% dos três escopos Net Zero, 37% de metas intermediárias, 20% dos escopos Net Zero 1 e 2 e somente 2% do escopo Net Zero 1.
Conforme o Acordo de Paris, é preciso reduzir em até 45% as emissões de gases causadores do efeito estufa para que o aquecimento global não ultrapasse 1,5 °C. Uma das ambições do acordo é que, até 2050, a transição para uma economia Net Zero esteja completa. De todas as empresas analisadas, no entanto, apenas 23% se comprometeram a neutralizar ou zerar as emissões até 2050.
"A incorporação de melhores práticas e atitudes que respeitem critérios socioambientais é urgente: os impactos das mudanças climáticas, caso nada seja feito, serão catastróficos para a humanidade, além de crises sociais e conflitos que já vivenciamos", ressalta o presidente do Ibracon, Valdir Coscodai.
A pesquisa revela também que mais de 80% das organizações priorizam o ODS da ONU de promover empregos dignos e crescimento econômico, enquanto de 60% a 80% dão prioridade à igualdade de gênero, consumo responsável, redução das desigualdades e combate às mudanças climáticas. Entre 40% e 60% têm como prioridade paz e justiça, inovação e infraestrutura, energias renováveis, saúde de qualidade, educação de qualidade, água limpa e saneamento, a vida sobre a Terra e parcerias para alcance das metas ODS. A erradicação da pobreza e da fome, cidades sustentáveis e a vida embaixo da água são prioridades para menos de 40%.
A pesquisa foi realizada de maio a agosto deste ano, com 88 empresas que compõem o índice Ibovespa, de diversas áreas da economia (setor financeiro, consumo, utilidade pública, materiais básicos, saúde, bens industriais, petróleo, gás, combustíveis, comunicações, tecnologia). Foram analisados os relatórios divulgados até o fim de junho de 2022, referentes aos anos de 2021 ou 2020. O valor de mercado das empresas em julho de 2022 ultrapassava US? 684 bilhões, ou 83% do valor de mercado das empresas negociadas na B3.
Em relação aos temas materiais, as empresas citaram as condições de trabalho ou capacitação e retenção de funcionários com 81% das menções. Em seguida vêm, ética e integridade (72%), mudanças climáticas (68%), impactos socioambientais (58%), diversidade e inclusão (57%) e inovação e tecnologia (51%).
Diversidade e inclusão
A pesquisa mostra que a divulgação de métricas de diversidade e inclusão também cresceu em relação ao levantamento anterior. Para as questões de gênero, 99% das empresas divulgam, pouco acima dos 97% registrados em 2020. O mesmo movimento se verificou em outras frentes de diversidade e inclusão: a divulgação das metas raciais saltou de 46% em 2020 para 69% no atual levantamento, a pauta de Pessoas com Deficiência foi de 49% para 63% e as relacionadas à agenda LGBTQI+ evoluiu de 10% para 35%. Apenas as metas geracionais registraram uma pequena queda, saindo de 88% na pesquisa anterior para 81% agora.
Contudo, a presença em posições de liderança e em conselhos de administração das empresas ainda é uma realidade distante quando o assunto é diversidade e inclusão. De acordo com a pesquisa, 90% das empresas divulgam informações de mulheres em posição de liderança e 83% o fazem para as posições em conselho. Mas 30% é o percentual médio de mulheres em cargos de liderança nas empresas que divulgam essa estatística, sendo 6% o mínimo divulgado e 75% o máximo. Para o conselho, 15% é o percentual médio de mulheres no conselho de administração, variando entre 0% e 33% das empresas que fazem divulgação.
Em relação a negros e negras, 49% divulgam a presença em posições de liderança e 14% o fazem para participação no conselho administrativo. A média de negros e negras em liderança é de 15%, sendo 0% o mínimo divulgado e 45% o máximo. Nos conselhos, 3% é a média de pessoas negras participando, com variação entre 0% e 20%.
"Os dados sobre diversidade racial e de gênero mostram que, mesmo com todas as discussões e ações em relação a esses temas nas organizações, ainda há um longo caminho pela frente para aumentar a presença de mulheres e pessoas negras em posições de liderança executiva e no conselho de administração das empresas", afirma Maurício Colombari.
Riscos e asseguração
A 2ª edição da ESG no Ibovespa mostra também que os riscos ambientais ocupam o primeiro lugar na lista de riscos divulgados pelas empresas, com 60% de menções, uma alta de 12 pontos em relação aos 48% registrados anteriormente. Em seguida, aparecem os riscos corporativos, com 60% (eram 69% em 2020). As menções à divulgação de riscos climáticos foram feitas por 51% das empresas (36% no levantamento anterior). Finalmente, foram citados os riscos macroeconômicos por 49% das empresas (48% em 2020) e as ameaças cibernéticas, com 28% (eram 45%).
A pesquisa também traz informações sobre a asseguração dos relatórios divulgados. As empresas indicaram que um terço (35%) não submetem seus informes a verificações, uma queda de oito pontos percentuais em relação ao levantamento anterior. O movimento por maior asseguração aparece nos demais dados da pesquisa: 42% asseguram as informações por auditoria independente e 23% fazem asseguração interna (eram 30% e 27% em 2020, respectivamente).
"Os relatórios de asseguração emitidos por auditores independentes agregam credibilidade e valor às informações. Esse movimento por maior asseguração mostra que o mercado está atento em fornecer informações que sejam transparentes, comparáveis e confiáveis. O Ibracon reitera seu apoio às divulgações de informações ESG para que os preparadores de relatórios corporativos e respectivos auditores independentes.