A adoção de inteligência artificial (IA) transforma a operação das organizações aumentando seu potencial competitivo. Entretanto, nem todas seguem a mesma abordagem. Quando analisamos as estratégias de implementação de IA, podemos classificá-las em três categorias metafóricas: Fogos de Artifício, Bala de Prata e Tiro Contínuo. Cada uma reflete uma mentalidade distinta sobre como integrar IA às operações e à estratégia de negócios.
Fogos de Artifício
As organizações classificadas como "Fogos de Artifício" abordam a IA com foco em criar grandes impactos imediatos. Elas geralmente investem em projetos pontuais que chamam a atenção do mercado e dos acionistas, mas que nem sempre geram benefícios sustentáveis ou tangíveis para os clientes.
Características principais:
-
Projetos isolados e de alta visibilidade interna.
-
Resultados frequentemente incertos e pouco sustentáveis.
-
Menor integração com clientes e limitada geração de valor estratégico.
Como principais vantagens tem-se que alavancam a imagem da empresa como inovadora, mas tem desafios como continuidade, construção de base sólida para uso estratégico de IA, hiperpersonalização das relações e geração de resultados comprovados.
Em resumo, organizações "Fogos de artifício" causam impacto imediato, mas não suficiente para transformar negócios a médio e longo prazos. É o caso de empresas que desenvolvem, por exemplo, um agente de atendimento, mas que não hiperpersonalizam a interação com o cliente, ou seja, usam IA, mas mantendo a tradição de gerar soluções de dentro para fora, ao invés de fora para dentro.
Bala de Prata
As organizações "Bala de Prata" veem a IA como a solução definitiva para resolver problemas complexos em uma única tentativa. Apesar de buscarem ferramentas que otimizem processos e aumentem receitas, frequentemente subestimam a complexidade de implementação e a necessidade de evolução contínua dos algoritmos, cultura empresarial, processos e implementação tecnológica.
Características principais:
-
Lideranças pouco engajadas com a transformação digital.
-
Expectativas irreais de retorno rápido e significativo sobre o investimento.
-
Baixa tolerância a falhas ou ajustes graduais.
Mesmo quando uma iniciativa tem sucesso inicial, essas organizações tendem a descredibilizar, de alguma forma, e desativar a IA. Nesses casos, mudar a mentalidade estratégica e sensibilizar as lideranças para a importância da evolução contínua são fundamentais. Caso contrário, a empresa corre o risco de ficar estagnada enquanto o mercado avança.
Sintetizando, são empresas que mantêm o olhar para dentro, correndo o risco de serem surpreendidas por um concorrente que saiba empregar IA de forma estratégica. Uma empresa de logística que implementa IA para otimizar toda sua cadeia de suprimentos, mas não considera a capacitação de funcionários ou a evolução contínua da solução, pode ser um exemplo dessa categoria.
Tiro Contínuo
Por fim, as organizações "Tiro Contínuo" adotam uma abordagem sistemática e iterativa para IA, investindo em aprendizado constante e melhorias progressivas. Elas enxergam a IA como um recurso estratégico que deve ser construído e escalado ao longo do tempo, integrando-se profundamente à cultura e às operações.
Características principais:
-
Implementação em desafios estratégicos com evolução gradual e baseada em dados.
-
Foco em aprendizagem contínua e melhoria de processos.
-
Integração da IA como parte central da estratégia empresarial.
Essa abordagem cria uma base sólida e escalável para o uso da IA, fortalecendo competências internas, promovendo inovação e garantindo maior resiliência a mudanças tecnológicas e de mercado. Porém, o principal desafio é manter o compromisso contínuo, promover a evolução cultural e colaborar entre equipes são fundamentais para o sucesso.
De forma geral, a empresa "Tiro Contínuo" adota uma abordagem mais robusta, que constrói bases sólidas e cria valor sustentável. Hipoteticamente, podemos citar como exemplo uma organização de varejo que começa utilizando IA para prever demanda em pequenas regiões, expande para personalização de ofertas e, eventualmente, automatiza toda a cadeia de suprimentos com base no aprendizado acumulado.
A decisão sobre qual abordagem seguir depende de vários fatores corporativos, mas principalmente culturais e de nível de engajamento com a IA. Entretanto, organizações que desejam utilizar a ferramenta de maneira estratégica devem considerar seriamente o modelo do "Tiro Contínuo". Ele promove a transformação gradual, permitindo que a empresa se adapte às incertezas do mercado, tire proveito de novas oportunidades e transforme, positivamente, seus colaboradores.
Vale uma avaliação das organizações para que compreendam suas nuances visando mitigar o que impacta sua evolução para um modelo competitivo da inteligência artificial, garantindo seu lugar no futuro da inovação e geração de resultados.
Ricardo Villaça, CAIO – Diretor de Inteligência Artificial da DRL AI.