Definitivamente as NFTs estão na moda! Recentemente, o jogador Neymar e o cantor pop Justin Bieber se tornaram notícia por terem comprado as NFTs do projeto Bored Ape Yacht Club. Os dois investiram somas significativas, com destaque para Neymar que comprou dois NFTs da Bored Ape Yatch Club por R$ 6 milhões.
Um outro bom exemplo é do projeto de NFT "Everydays: The First 5000 Days", que já movimentou mais de 70 milhões de dólares. A obra é uma "colagem digital" com 5000 imagens da cultura pop organizadas cronologicamente.
Costumo dizer que as NFTs fazem parte do combo de tecnologias do metaverso, aquelas que mais recebem, e vão receber, atenção e investimento das empresas nos próximos anos.
A NFT mistura a complexidade do mundo das finanças e da tecnologia em uma só sigla. A expressão em inglês, non fungible token, tem sido traduzida para o português como "token não fungível". Por algum motivo que desconheço, as pessoas não traduzem a palavra token o que, vamos combinar, não ajudaria muito. Qualquer palavra do lado de "não fungível" vai ser difícil de entender. Então, pra não ficar nessa definição opaca, toda explicação sobre NFTs vem com algum tipo de analogia ou exemplo prático. Destaco uma dessas analogias para representar as melhores que li por aí.
Ah, é importante abrir um parêntese: as analogias são uma ótima forma de simplificar as coisas, mas ao mesmo tempo, justamente por simplificar demais, deixam de levar em consideração aspectos importantes. O problema maior é quando os exemplos e analogias são entendidos como a definição do conceito em si. Isso é algo que vem acontecendo com as NFTs. E qual seria a analogia para explicar NFT?
Imagine que você é dono da cadeira cativa número 34 de um grande estádio. Chegou o dia da final do campeonato e você foi lá para assistir presencialmente à partida. Eis que ao chegar, você encontra outra pessoa ocupando a sua cadeira. Você diz que é sua e a pessoa rebate e diz que, na verdade, é dela e mostra um papel que comprova a afirmação. Indignado, você chama a polícia e, na frente de uma autoridade, vocês mostram seus comprovantes. Passo seguinte, o policial precisa ligar pra alguém que vai consultar, em um banco de dados, o código e as assinaturas nos papéis, para confirmar quem, de fato, é o real dono daquela cadeira. Mas, apesar de parecer o mais acertado a fazer, a ação gera dúvidas: E se a pessoa que atender for amiga do intruso? E se o policial for amigo do intruso?
As NFTs são uma solução para esse tipo de problema. Ao invés de registrar uma propriedade em um banco de dados privado ou do Estado, você registra suas propriedades "na internet", "na nuvem", de forma transparente, descentralizada, independente e acessível a todos.
Um scanner de NFTs e a decisão sobre quem expulsar do estádio seria imediata e automática, sem intermediários. Assim como você registra o NFT, o que te dá direito a ocupar a cadeira de número 34 do estádio, você poderia registrar carros, imóveis, documentos pessoais, bens, e até arquivos de computador e aqui também entram as obras de arte digitais). Esses são os tais itens "não fungíveis".
Resumo da analogia: NFT é um contrato registrado na internet que te dá direito a um lugar único em uma fila. O que você ganha por ocupar esse lugar? Isso varia de NFT para NFT.
Cada projeto tem seus benefícios e suas vantagens. É importante lembrar que NFTs são compradas apenas com criptomoedas, ou seja, são uma forma de fazer mais pessoas quererem ter bitcoin, ethereum e outras moedas digitais.
Apresentada a explicação e a analogia, fica claro que, como tudo nos dias de hoje, criou-se um debate bastante polarizado em torno das NFTs. Acompanho de perto o assunto, e percebo que já se formaram duas bolhas: a das pessoas que odeiam NFTs e a das pessoas que amam NFTs. Pessoalmente, ainda não vejo nenhum motivo para amar ou odiar a tecnologia.
A primeira conclusão é óbvia: é muito mais complexo do que parece. Quando escuto alguém resumindo as "NFTs simplesmente como imagens ou figuras sendo vendidas na Internet", acho uma pena. Esse tipo de visão não estimula a curiosidade para entender as inovações em potencial da tecnologia. NFT não é uma revolução inédita que vai enriquecer pessoas rapidamente e sem esforço. Por outro lado, não é uma bobagem qualquer, uma futilidade sem futuro que não serve pra nada. As NFTs são uma forma de confiar mais na tecnologia do que no Estado, algo que, convenhamos, já vem acontecendo, não é de agora.
Será que isso é bom?
De qualquer forma, ao que tudo indica, nos próximos anos, teremos mais projetos de NFTs do que nunca. Por aqui, eu vou analisando os mais relevantes detalhes dos bastidores.
Miguel Fernandes, CTO e co-fundador da Witseed.