Uma das principais questões discutidas durante esses últimos meses, desde que o covid-19 se instalou entre nós, é como as empresas podem ou devem se posicionar para minimizar os efeitos da consequente crise econômica. Inequivocamente, esses impactos, maiores ou menores, tiveram um papel relevante nas empresas, de qualquer tamanho ou mesmo segmento.
A realidade vivida pelo mercado, que já era difícil mesmo antes da atual crise, por conta de problemas que vão desde o caixa até a modelos de negócio que não eram adequados às perspectivas econômicas; foi levada pelos efeitos da pandemia sobre a economia à agudização sem precedentes de suas consequências para as empresas, comprometendo, em muitos casos, a própria capacidade de sobreviver.
Dentre os problemas crônicos encontrados em nossas organizações, há processos de trabalho e gestão que não privilegiam a colaboração e o trabalho em equipe e pouco uso da tecnologia para melhorar a eficácia na execução – por alguns chamados de uso do digital ou transformação digital – se destacam como causas raiz relevantes para que se tenha pouca resiliência e flexibilidade na adequação dos modelos de negócios à volatilidade que vivemos. Em especial, nesse momento particular de pandemia.
Sobrevivência é, sem dúvida, a palavra de ordem para executivos e empresários neste momento de retomada nos negócios. Contudo, sem visão de crescimento futuro, qualquer movimento poderá ser em vão para preservar a empresa ao longo do tempo. Neste sentido, vejo quatro perspectivas para que os planos de retomada tenham sucesso: saúde e bem-estar dos funcionários, proteção do caixa, preservar seus negócios com os melhores clientes, garantir que o modelo operacional continuará a dar conta da demanda, com a preservação do ecossistema de fornecimento e produção. Cada uma se apresenta como um desafio por si só, muito mais se considerarmos as interdependências existentes entre elas.
Existe, contudo, uma lacuna significativa para que estas questões sejam abordadas com a assertividade adequada: as consequências são conhecidas. Isto é, os efeitos da pandemia causaram marcas indeléveis e bem determinadas. Mas como avaliar onde e como se pode intervir para mitigar ou até elimina-las daqui para frente?
A resposta está na chamada arquitetura corporativa. Muitas vezes, de forma equivocada e associada somente à tecnologia da informação, esta abordagem é mais amplamente entendida como uma prática de otimização de negócio, tendo em vista a estreita relação de arquitetura de negócio, performance da gestão, pessoas e também arquitetura de processos associada à tecnologia da informação.
A base das mudanças necessárias para uma retomada consistente está no entendimento de como a empresa está construída hoje, quais as vulnerabilidades que causam ou poderão causar impacto e a proposição de mudanças para que estas sejam mitigadas ou eliminadas. O entendimento de que a arquitetura corporativa é uma ferramenta chave para a construção de manutenção de negócios saudáveis é um passo importante para que situações que estamos passando hoje possam ser corrigidas. E, se não evitadas, que tenham respostas mais rápidas no futuro.
Uma das lições que se pode aprender em situações como a que vivenciamos hoje é que crises são fenômenos cíclicos. Com causas diversas, mais ou menos graves, elas ocorrem de tempos em tempos, e o despreparo e a falta de investimentos na sua própria organização poderão levar a prejuízos mais relevantes do que o valor que seria investido para minimizar seus efeitos. Preparação e organização têm retorno certo sobre o investimento.
É como a fábula dos três porquinhos. A casa de palha, rápida e barata de construir, não resiste ao primeiro sopro do lobo, enquanto a de tijolo, de maior investimento e que deu trabalho para construir, ficou lá, de pé, apesar dos esforços do lobo. Quanto custa ao dono da casa reconstruí-la a cada vez que o lobo aparece?
Enio Klein, influenciador e especialista em tecnologia, vendas, experiência do cliente e ambientes colaborativos com foco na melhoria do desempenho das empresas a partir do trabalho em equipe e colaboração. CEO da Doxa Advisers e Professor de Pós-Graduação na Business School SP.