Eu tenho o privilégio de acompanhar a indústria financeira e o dia a dia dos processos nos bancos há alguns anos. Por definição, um banco é a instituição que intermedia o dinheiro entre poupadores e aqueles que precisam de empréstimos, além de fazer a custódia do dinheiro. Eu conheci os bancos cumprindo apenas esse papel, desenvolvendo serviços financeiros como conta corrente, saques, empréstimos, investimentos e muitos outros.
O que mais me impressiona na jornada da indústria financeira no Brasil é como ela se tornou uma das mais inovadoras se comparada com o resto do mundo. Nosso País virou referência para muitos mercados e economias mais maduras, que ainda entregavam um portfólio limitado e básico aos seus clientes. Como um exemplo, no fim da década de 90, viajar para os Estados Unidos e utilizar um ATM materializava a limitação de transações disponíveis, com saque e recibo. No mesmo período, no Brasil, tínhamos um leque de serviços muito maior.
A indústria não parou por aí. O ambiente político e econômico desafiou as instituições que precisavam ser ágeis em seu tempo de resposta para se adaptarem a mudanças de planos e processos. Em todo esse caminho, o uso da tecnologia foi fundamental e isso ficou evidente com a chegada de tecnologias disruptivas como Cloud, Big Data, Machine Learning, IA, entre tantas outras.
E a indústria financeira, novamente, foi colocada à prova. Nasciam os bancos digitais, livres do "legado", o que permitia imprimir outra velocidade, uma estrutura de custos diferente e um novo modelo de relacionamento para atender uma geração digital com outras expectativas e necessidades. E a agência física foi parar nas mãos dos correntistas por meio dos seus smartphones. Nesse ponto, a rede mudou, o perímetro de segurança mudou e o número de ataques e golpes cresceu. Isso fez com que a Segurança passasse a ser uma grande preocupação e uma prioridade. Antes bastava ter um cofre de última geração!
Assim como vimos algumas tecnologias serem sentenciadas à extinção pela chegada de outras mais disruptivas, os bancos, tidos como tradicionais, eram questionados sobre sua sobrevivência diante da chegada dos digitais e das FinTechs em modelo exponencial. Mas os bancos conseguiram imprimir velocidade em suas jornadas de transformação, com parceiros de tecnologia e, hoje, vão muito além do que imaginávamos. É impressionante observar o uso de dados de forma massiva para que novas informações gerem a capacidade de encantar o cliente antes mesmo deste imaginar o que precisa naquele momento. Eles souberam aproveitar e gerar valor nessa relação, abrindo um campo vasto de oportunidades, como a criação de um shopping virtual de produtos e serviços, gerando carteiras digitais, cartões personalizados e ativos digitalizados com o uso da tokenização.
Além disso, muitas instituições seguem uma forte agenda de ESG, chegando, por exemplo, a disponibilizar uma plataforma digital para crédito de carbono, com fundos que possuem este lastro. E os bancos ainda estão testando "as águas do cross-industry", com investimentos e aquisições diversas, como empresas de games, tecnologia, desenvolvimento e tantas outras.
Mas a coisa não para por aí. A realidade é que as organizações de serviços financeiros têm uma jornada de transformação complexa e contínua pela frente para se manterem competitivas. Com o parceiro, conhecimento e a tecnologia certa, esta será uma jornada que vai preparar as organizações para um futuro centrado em tecnologia. Realidade essa que já é possível ver em alguns bancos, mais maduros, que colocam sua visão de tecnologia nos seus RIs – Relatórios para Investidores.
Dentro da jornada de transformação digital do setor, eu vejo dois grandes desafios:
– O primeiro é que agora os Bancos precisam pensar e operar como empresas de TI e sempre se atualizar sobre as novas abordagens, soluções e produtos que as novas tecnologias possibilitam. Mas como fazer isso? É importante que as empresas possam contar com parcerias com provedores de soluções de infraestrutura de TI para transformar, acelerar e, até mesmo, operar seu ambiente de missão crítica. O suporte externo é importante para que as empresas acelerem o conhecimento do time interno de TI e iniciem a transformação.
– O segundo é a necessidade de modernização da arquitetura de backoffice e do legado para se tornarem mais orientados a dados e resilientes diante de potenciais ameaças de segurança. Eles também precisam atualizar e simplificar os sistemas bancários básicos para acelerar as melhorias na experiência do cliente; tirar o máximo proveito da computação em nuvem para acelerarem em escala as inovações e, com maior uso de dados, entregarem mais valor para clientes e acionistas.
Tem sido uma oportunidade excelente acompanhar esta jornada e poder cocriar com líderes de um setor que tanto nos provoca com oportunidades disruptivas a cada momento. O que tenho visto é uma indústria, que carrega uma sólida experiência de décadas, se abrindo para a ruptura, provocando e abraçando a mudança, se unindo às novas gerações, trazendo a diversidade em sua total potência e assumindo a sua vocação de ser uma "metamorfose digital".
Roberto Voi, Diretor de Serviços para Mercados Financeiros da Kyndryl.