Se alguém te perguntar com o que você quer gastar dinheiro, você provavelmente escolheria algo novo. Pode ser um carro, um sofá mais confortável, um celular mais moderno. Mas, e aquela revisão no carro que empurramos há semanas ou aquele reparo no telhado que só nos lembramos quando chove? Bom, como humanos, somos condicionados a decidir com base na comparação do valor que teríamos com uma compra em relação a algo que precisa de conserto. O mesmo acontece nos negócios – os mesmos motivadores humanos estão presentes e o resultado são decisões que nem sempre apoiam as metas comerciais de longo prazo.
Novas tendências de interiores
Sem dúvida, as tendências impulsionam a compra. Há 20 anos, uma ilha de cozinha não era um recurso, mas hoje em dia, muitas casas têm uma. Nas compras de tecnologia, como nuvem e virtualização, são as tendências que dominam as decisões de compra e elas surgem em ondas de popularidade e adoção. Há 5 anos, se você fosse um CIO sem uma estratégia de nuvem, provavelmente estaria desempregado. Porém, muitas decisões foram apressadas e hoje muitas empresas acabaram adquirindo uma tecnologia da qual se arrependem, que não oferece o valor prometido.
Processos ultrapassados e vazamento no telhado
Manter e ignorar a tecnologia legada é o equivalente a se deparar com um vazamento no telhado e passar uma tinta sobre a mancha de umidade ao invés de realizar o conserto. As empresas acabam tendo o mesmo desafio, mas não estão avaliando ou resolvendo a questão que causa o problema.
No centro desse cenário está sempre a dívida tecnológica. O problema é que as empresas estão gastando uma quantia desproporcional de seu orçamento para gerenciar esse débito: tecnologia antiga, processos complicados, atualizações lentas. Retomando o exemplo da nuvem – para muitos, ela prometia o fim dessa dívida, mas isso não aconteceu. Agora as empresas têm uma questão, o desperdício, pois a tecnologia foi provisionada e esquecida e os mesmos processos antigos continuam sendo seguidos. Ninguém queria ser um detrator da nuvem por ser visto como um retardatário. Assim, alguns assinaram contratos enormes de nuvem que não consomem.
Esta dívida pode se acumular porque as decisões são orientadas pela síndrome de FOMO, em vez de um caso de negócios para o ROI. É mais fácil mostrar uma economia e obter valor de algo que foi instalado recentemente, mas a novidade deste ano é a dívida tecnológica do próximo ano. Ela ocupa uma grande proporção do orçamento de uma empresa. De acordo com os números da McKinsey & Company, 40% do orçamento de uma equipe de TI é gasto em dívidas de tecnologia. Isso significa que todo ano é desperdiçada uma quantia impressionante na manutenção de tecnologia antiga. Sem um planejamento adequado, o impacto é cada vez menor em termos de valor e inovação.
Conte com os melhores
Mas então como as empresas devem controlar e minimizar esta dívida? Colocar seus melhores e mais talentosos profissionais no caso. Não interrompa o investimento em novas tecnologias, mas considere se a nova instalação fará o que promete em um, três ou cinco anos. Faça disso uma iniciativa essencial e deixe claro que a equipe que trabalha com isso é altamente confiável e vital. Eles precisarão planejar com antecedência, criar um plano robusto de ROI, não deixar a tomada de decisões para a última hora. Sempre será mais divertido comprar um sofá novo do que consertar o telhado. Mas se você não fizer isso, terá um grande problema a longo prazo.
Você realmente precisa da próxima grande novidade do mercado?
Assim como as tendências da moda que voltam a aparecer, no setor de tecnologia, a próxima grande novidade geralmente é a mesma coisa de sempre. A próxima jornada em que os clientes estão embarcando é a dos contêineres e do servidor bare metal, e como eles podem remover a virtualização da sua propriedade. Para tirar proveito disso, as empresas precisam ser ágeis, sem o ônus da dívida tecnológica e com orçamento disponível para investir. De qualquer forma, os líderes de tecnologia devem explorar novas modas, mas, para garantir o sucesso, precisam ter uma compreensão clara das metas comerciais e de como as tendências os ajudarão a alcançá-las, incluindo um roteiro, uma análise SWOT, um plano de saída etc.
Dilemas de design
Aqueles que já são grandes usuários da nuvem precisam garantir que estão maximizando seus investimentos. Há alguns anos, Andresson & Horrowitz levantaram o dilema do trilhão de dólares – mais de um trilhão de dólares é mantido "refém" na nuvem e nas empresas de software. A nuvem promete economia de escala, mas precisa ser utilizada exatamente como foi projetada e vendida, ou a economia se tornará uma falácia, e as empresas ficam presas ao contrato. Essas empresas correm o risco de estar em dois mundos sem saber em qual mundo querem estar, pois suas decisões foram baseadas em tendências e não em uma verdadeira transformação.
Tendências versus transformação
Infelizmente, assim como outras tendências, o ciclo de compras de tecnologia está inclinado para o nosso desejo por coisas novas. Embora isso seja compreensível – poucos querem dirigir a equipe de dívida tecnológica e gerenciar todos os problemas que surgem com o legado – é preciso parar. Uma vez que as empresas percebam isso na gestão e redução da dívida – é aqui que o capital pode ser realizado e onde o valor pode ser ganho – aí podemos até vislumbrar a vice-presidência de Redução de Dívida Tecnológica se tornando um cargo muito procurado!
Se pensarmos em comprar uma casa novamente, é preciso um orçamento e um roteiro para as questões de curto, médio e longo prazo. Questões como redecorar, limpar as calhas, consertar problemas estruturais, umidade ou o telhado, tudo isso precisa ser incluído. Na área de tecnologia, isso pode incluir a modernização de aplicações, mais inovação, implementação de plataformas para engenheiros de DevOps, simplificação do acesso para cientistas de dados de IA, uma migração completa para fora do HDD, implementação de uma nova ferramenta de IA generativa ou uma tranquilidade sólida para a segurança dos dados.
A construção de um plano sólido e de um roteiro de longo prazo que incorpore a tecnologia certa para gerar ROI é onde está o valor e é assim que é possível fazer a inovação acontecer.
Paulo de Godoy, country manager da Pure Storage.