As vendas de computadores pessoais (PCs) nos Estados Unidos registraram forte queda em julho, segundo reportagem publicada pelo Financial Times nesta segunda-feira, 23. A demanda mais fraca que o esperado no início da temporada-chave, que é a volta às aulas, lança dúvidas sobre a sustentabilidade da recuperação o setor e pode forçar fabricantes de computadores a cortar drasticamente os preços dos produtos em todo o mundo, segundo analistas ouvidos pelo jornal britânico.
A forte demanda por PCs no ano passado, mesmo em economias em depressão, como a dos EUA e da Europa, levou a indústria mundial de tecnologia a acreditar que neste ano haveria uma recuperação rápida. A indústria taiwanesa, por exemplo, registrou expansão de 8,2%, desempenho que fez com que aumentasse a confiança dos fabricantes de PCs do país. A Acer, segunda maior produtora de computadores do mundo, em junho reviu a projeção de vendas para o terceiro trimestre para 15%, ante estimativa anterior de aumento de 10%.
Mas o cenário aponta para uma fuga de consumidores de PCs em volumes recordes, principalmente nos EUA. A própria Acer registrou uma forte queda nos embarques de PCs em julho, que ficaram 38% abaixo dos de junho, enquanto as vendas de PCs no período nos EUA foram 15% menores, em média, de acordo com Jenny Lai, analista da CLSA. Julho é um mês tipicamente lento para a indústria de PCs, mas o mais preocupante é que os últimos dados de vendas mostraram uma deterioração na primeira semana de agosto. "Agosto normalmente é o início da temporada de vendas com a volta às aulas, então isso é muito incomum", diz a analista.
Ao discutir as previsões para o terceiro trimestre na quinta-feira, 10, a HP destacou a fraca demanda para notebooks como um ponto de conflito, o que, segundo os analistas, tem sido agravada pela concorrência do iPad, da Apple. Ryan Lee, analista do Topology Re-search Institute, baseado em Taipei, em Taiwan, diz que a volta às aulas nos EUA "supostamente deveria impulsionar as remessas de PCs, e isso não é apenas lá". Segundo ele, alguns fabricantes de PCs se adaptaram à queda nas vendas, passando a empregar componentes menos potentes e mais baratos nos equipamentos, mas observa que se a demanda continuar fraca "é muito provável que terão de baixar os preços, porque não se pode fazer ajustes muito radicais nos componentes, sem que os consumidores percebam".
Para a analista da CLSA, o corte nos preços dos PCs devem girar em torno de 5% a 10%. E acrescenta: "Se houver um corte nos EUA, a indústria terá de reduzir os preços também em nível mundial".
A maioria dos fabricantes de PCs, no entanto, até agora parece imperturbável. A Acer mantém a previsão otimista e disse que a queda nas vendas registrada em julho deveu-se a ajustes temporários antes "da introdução de produtos mais competitivos, com nova CPU e chipset da Intel, a partir de agosto ou setembro". Michael Dell, presidente da Dell, por seu lado, disse na semana passada que "as tendências de demanda continuam favoráveis". Apenas a Asus, quinta maior fabricante mundial de PCs, admitiu que irá ajustar os preços em setembro, para refletir a queda nos preços dos componentes.
Apesar de a maioria dos fabricantes de computadores e dos fornecedores de chip vislumbrar um cenário sólido para o mercado de PCs, Shane Rau, diretor de pesquisa da IDC, diz que o "abrandamento" da demanda causa preocupação e que, por isso, 2011 continua a ser um ano "coringa" para a indústria do setor.
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