COVILHÃ, PORTUGAL — A estratégia da Portugal Telecom de entrar no mercado de data center e, sobretudo, na oferta de serviços em cloud não é única. Praticamente todas as operadoras do mundo estão seguindo o mesmo caminho. No Brasil, Telefônica, Embratel e a própria Oi têm grandes centros de dados e oferecem, em maior ou menor escala, serviços em cloud para empresas. O que difere a Portugal Telecom talvez seja a dimensão da estratégia. "Quando passamos a projetar esse data center em 2007, imaginamos aquilo que daria uma diferença competitiva para nós por muitos anos, e por isso pensamos grande", diz Zeinal Bava, CEO da Portugal Telecom e da Oi.
Além de ser um dos maiores data centers do mundo, as novas instalações da empresa em Covilhã vêm acompanhadas com uma agressiva estratégia focada no mercado corporativo e também na oferta ao consumidor final.
Um exemplo: há exatamente um ano, a Portugal Telecom anunciava o serviço SmartCloud, focado no segmento de usuários finais, que dava 16 GB de capacidade de armazenamento a clientes selecionados da Portugal Telecom. Depois de um ano, o serviço acumulou 113 mil usuários, 453 mil arquivos carregados diariamente, 165 TB de capacidade ocupada e 100 milhões de arquivos armazenados ao todo. Após um ano, o serviço será rebatizado de Meo Cloud, em linha com outros produtos da empresa na oferta quádruplo play, todos chamados de Meo, e deixará de ser um serviço acessível apenas por convite. A partir de agora, todos os clientes da empresa poderão aderir ao serviço. Segundo Zeinal Bava, ainda não há planos para lançamento de um produto semelhante no Brasil.
Segundo o executivo, as operadoras de telecomunicações têm hoje uma participação muito pequena no mercado de cloud no mundo. Menos de 10%, segundo ele, têm os serviços providos pelas empresas de conectividade, mas a tendência é que isso mude, pois as operadoras de telecomunicações estão em condições únicas de oferecer um serviço com um billing único, um único ponto de relacionamento com o cliente, empacotamento conjunto com a oferta de rede, além de já gozarem da confiança dos consumidores.
"Não acho que o nosso foco seja competir com empresas de IT, como Amazon Web Services, porque nossas ofertas de cloud são mais robustas, incluem atendimento, soluções end-to-end, coisa que as empresas de Internet não oferecem", disse.
Segurança
Ele concorda que as recentes denúncias de espionagem podem ter afetado a disposição de empresas e pessoas em migrarem seus dados para a nuvem, mas acredita que seja algo inevitável no longo prazo. "As questões de segurança podem ser endereçadas com mais proteção, ao passo que o uso de serviços em cloud dá às empresas ganhos muito significativos de custos e eficiência para empresas de todos os tamanhos", diz ele. Segundo Bava, Portugal não tem nenhuma legislação que torne o data center de Covilhã mais ou menos vulnerável a solicitações ou acesso de informações por parte de governos. "Não temos aqui nenhum ato patriótico", diz ele. Segundo Bava, contudo, a experiência da PT já mostrou que alguns dados precisam ser alocados mais próximos dos clientes por conta de desempenhos técnicos. "Dados cuja questão da latência seja mais crítica devem estar mais próximos aos usuários, por isso vamos trabalhar em conjunto com os data centers da Oi no Brasil".
O jornalista viajou a Covilhã a convite da empresa.