A Softplan, uma das maiores empresas de software do país, vem apostando na diversidade do time como na acessibilidade dos softwares. "Fazer software requer muita dedicação, e fazer softwares que sejam acessíveis não é diferente. Mas isso é necessário. A tecnologia pode e precisa ser uma ferramenta de inclusão", destaca Maurício Sá Peixoto. Graduado em Gestão da Tecnologia da Informação, Maurício é deficiente visual e atua na área de programação da Softplan.
Ele trabalha como analista de testes, junto com outros dois profissionais que também têm deficiência visual. Eles atuam para garantir a acessibilidade dos programas desenvolvidos, ou seja, para que qualquer pessoa possa acionar normalmente botões, links por comandos do teclado, ter acesso às imagens por meio de textos alternativos, preencher formulários e etc.
Para Maurício, "a acessibilidade web precisa ser pensada desde o início do projeto e não como algo adicional que pode ser pensado depois". Ele complementa: "É preciso uma mudança de cultura por parte dos desenvolvedores, designers, gestores de projetos e os demais envolvidos na concepção do produto, para terem a consciência que pessoas com deficiência são usuárias dos sites e que, se os padrões de desenvolvimento web forem seguidos corretamente, a maioria das barreiras de falta de acessibilidade na web estarão resolvidas. Acessibilidade não é um favor e nem opcional, estando prevista, inclusive, na lei".
Para ele, a maior acessibilidade e a maior a inclusão passam também pela diversidade dos times de colaboradores das empresas. "Aqui na nossa equipe, estamos sempre buscando a inclusão, mostrando a importância de se ter uma equipe diversa e que respeite as diferenças", conclui o colaborador da Softplan.
Inserção no mercado
Na HostGator, um dos principais provedores de hospedagem de sites e outros serviços relacionados à presença online do mundo, há uma preocupação em oferecer igualdade de oportunidades. Todas as vagas na empresa são abertas a profissionais sem distinções, PCDs ou não, e todo o espaço físico da sede da empresa na América Latina, em Florianópolis, foi pensado na acessibilidade. Além disso, a empresa realiza treinamento técnico direcionado para os portadores com deficiência auditiva, para facilitar a integração aos processos da empresa. Há também um canal aberto para os profissionais compartilharem suas experiências e tirarem dúvidas, especialmente no período de experiência na empresa.
A Ahgora, empresa dedicada ao desenvolvimento de aplicações para aumentar a eficiência operacional das organizações, se dedica para oferecer igualdade de oportunidades. No momento, são três PCDs na empresa e a expectativa é aumentar ainda mais esse time nos próximos meses, já que as vagas são direcionadas a todos os públicos. Lucas Alves, que tem perda auditiva moderada, atua como auxiliar de produção na Ahgora. Ele acredita que o setor de tecnologia pode ser um bom caminho para a inserção de todos no mercado de trabalho. "A área de tecnologia oferece bastante oportunidade de emprego e traz a chance de ocupar uma boa posição no mercado", destaca o estudante de Engenharia Eletrônica.
Visibilidade para PCDs
Além de inserir pessoas com algum tipo de deficiência em ações cotidianas, a tecnologia ainda pode ser um meio para promover o debate sobre inclusão. A Women's March é um dos maiores movimentos mundiais à favor da causa de minorias. A organização planeja e executa debates e marchas principalmente sobre direitos da mulher. A nova plataforma, que será lançada nas próximas semanas, organiza e comunica as ações e é desenvolvida pela brasileira Cheesecake Labs, especializada em desenvolver aplicativos. A Women's March organizou a maior reunião de Pessoas com Deficiência da história dos Estados Unidos, e quiçá do mundo, em janeiro de 2017. As demandas levantadas na plataforma já existente do movimento são levadas às ruas com a intenção de reivindicar mais direitos.
Games para inclusão
Giovanna encontrou nos games uma saída para se exercitar, "já que não posso praticar esportes como os outros, minha atenção se volta mais para os games, que exercitar meu cérebro e me diverte também", conta a jovem, que tem uma leve deficiência na perna. A estudante de 16 anos sempre gostou de jogos. Quando conheceu o Comitê para Democratização da Informática (CPDI) percebeu a oportunidade de aprender a desenvolver, e sair do papel de jogadora para o de produtora. Foi assim que começou o curso Aprendendo a Programar; e em dois meses desenvolveu dois jogos diferentes "algumas vezes até pensei em desistir porque era um desafio pra mim, mas vi como o curso dava resultado e como há mercado de trabalho na área, e fui em frente". A jovem finaliza dizendo que agora, sempre que joga um game, tenta entender como ele foi feito.