Não há segredo algum ao dizer que a Inteligência Artificial (IA) tem sido uma das maiores revoluções tecnológicas dos últimos tempos. Já faz um tempo que o assunto vem ganhando projeção e ampliando seu espaço nos debates públicos. No entanto, o que antes era vista como uma ferramenta restrita a áreas específicas, atualmente permeia praticamente todos os setores de uma empresa. É justamente aqui que reside uma dúvida que vem me afligindo: como as equipes de engenharia, além dos desenvolvedores individuais, estão reagindo a essa revolução?
Uma pesquisa recente da GitHub, em parceria com a Wakefield Research, traz mais luz a esse debate. No mundo todo, engenheiros já estão aderindo às inúmeras opções que a IA proporciona para seus projetos. Mais de 97% dos entrevistados, em quatro países — EUA, Brasil, Alemanha e Índia —, já utilizaram essas soluções no ambiente profissional. É um número bem expressivo, beirando à totalidade.
É verdade que as ferramentas de IA no desenvolvimento de software já trouxeram ganhos significativos. Com base nessa pesquisa, observamos que muitos profissionais ganham em um quesito valioso no século 21 – leia-se economia de tempo -, o que lhes permite focar em tarefas mais criativas e estratégicas, como o design de sistemas e a colaboração em equipe. Contudo, observou-se uma opinião consensual: a IA, sozinha, não faz milagres. Se as corporações desejam utilizar todas as vantagens proporcionadas pela tecnologia, é necessário incorporá-la ao desenvolvimento dos processos.
Na contramão desse pensamento, há pouco, tive acesso à pesquisa da MindMiners, empresa de tecnologia especializada em consumer insights, intitulada "IA: Problema ou Solução?". Segundo o estudo, 56% dos entrevistados acreditam que a IA já está gerando impactos na sociedade. Além disso, 33% dos respondentes estão receosos de perderem seus empregos para esta tecnologia. É uma emoção que não pode ser ignorada, mas sim debatida e esclarecida.
A IA não veio para substituir desenvolvedores. Pelo contrário, poupa os profissionais de tarefas repetitivas e demoradas, permitindo que eles se concentrem no que realmente importa — a inovação. Ao automatizar tarefas, a ferramenta libera tempo para que os profissionais invistam em aspectos que realmente fazem a diferença: a criação de soluções inovadoras, melhoria da experiência do usuário e a resposta a desafios complexos do negócio. Resumindo, aperta-se menos parafuso e entende-se mais o motivo das tarefas em execução. E isso é algo que empresas com visão de futuro já entenderam.
Essa inteligência se mostra ainda mais transformadora quando é integrada à cultura organizacional. Incorporar essa tecnologia em todas as fases do desenvolvimento é o caminho para que as empresas realmente aproveitem seu potencial. As equipes que conseguem fazer isso de forma estratégica já estão colhendo frutos, com melhorias claras na qualidade de códigos, prazos mais rápidos para a entrega de projetos e maior facilidade para adotar novas linguagens de programação.
Além disso, a IA traz benefícios como mais segurança e eficiência no desenvolvimento. Não só facilitando a adaptação a novas linguagens e a compreensão de códigos complexos, mas também elevando a qualidade das entregas. Num mercado cada vez mais competitivo, saber usá-la é um diferencial gigante para qualquer profissional.
Com isso, fica evidente que a IA não é mais uma tendência — ela já faz parte da realidade do desenvolvimento de software. Quem se recusar a se adaptar não estará necessariamente ficando para trás, afinal, existe espaço para todos os modelos de pensamento no mercado. Contudo, aqueles que abraçarem essa transformação estarão trilhando o caminho da inovação, ao lado daqueles que lideram essa jornada. E mais do que tudo, é hora de promovermos algo que só nós humanos – com a nossa inteligência – podemos fazer: dialogar e criar elos entre pessoas.
Joel Backschat, CIO da multinacional brasileira FCamara.
