Estamos às vésperas da implementação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que finalmente vai fazer com que a privacidade dos dados dos cidadãos deixe de ser um projeto para se tornar uma cultura dentro das organizações e no País. O momento é de alta conexão e de transformação digital, e é justamente por essa expansão a passos largos que as pessoas não devem deixar que seus dados fluam soltos.
O alerta deve ser feito principalmente às novas gerações, que são nativas digitais e estão acostumadas a transitar em ambiente online, mas muitas vezes desconhecem os riscos de ter um dado pessoal mal utilizado por terceiros. Na união europeia, o tema é abordado de maneira específica há muitos anos. A diretiva que determinou a criação de leis de privacidade e criação de autoridades de proteção é do ano de 1995. Anos mais tarde, em 2016, foi aprovada a GDPR, que é a principal fonte de inspiração para a LGPD.
O principal motivo para a criação dessas leis é regulamentar o uso de dados pessoais, impedindo que os mesmos sejam utilizados de maneira desvirtuada ou tendenciosa, como ocorreu no escândalo envolvendo Cambridge Analytica nas eleições americanas de Donald Trump. A situação é muito séria e desafiadora pois há casos em que o uso de dados não se limita a influenciar pessoas com campanhas de marketing para aquisição de um determinado produto ou serviço. O alerta máximo é para ações que podem chegar a impactar o futuro de uma nação, por exemplo, com o direcionamento de fake news para que eleitores indecisos se posicionem a favor de determinado candidato a cargos públicos.
Essa tática psicológica de guerra, infelizmente, funciona com cidadãos que ainda não foram educados a checar a veracidade das informações antes de internalizá-las e compartilhá-las. São ações como esta que ferem diretamente o poder de decisão das pessoas e podem comprometer até mesmo a soberania dos países. Considerando esse cenário, acredito é preciso criar uma nova cultura dentro das empresas, promovendo principalmente a educação do público interno e externo.
As pessoas precisam aprender a usar os próprios dados de maneira responsável. Disponibilizar informação pessoal online equivale a jogar um bumerangue. Você disponibiliza uma informação, ela volta de diversas formas, podendo ser inclusive na forma danosa da manipulação de opiniões.
Felizmente, na contramão de organizações que se apropriam de dados de terceiros para influenciar pessoas, sem que as mesmas estejam cientes ou tenham autorizado, importantes empresas já perceberam o valor de respeitar a privacidade alheia. Isso, inclusive, é uma forte tendência de diferencial no mercado.
Digo isso porque acredito que cada vez mais as pessoas vão deixar o quesito preço em segundo plano para priorizar o estabelecimento de relações com companhias que prestem serviço com respeito aos direitos dos titulares de dados. O tempo todo ouvimos dizer que dado é o novo petróleo e sendo um bem de tanto valor merece ser tratado com muito mais respeito tanto pelos titulares como pelas empresas que o manipulam.
Simone Santinato, DPO da Etek NovaRed Brasil.