Presente na vida de todos, das mais simples às mais complexas operações cotidianas, a área de Tecnologia da Informação (TI) ainda é pouco compreendida por muitos, talvez pela complexidade que envolve. Ela permite desde o simples uso de smartphones e seus aplicativos, postagens em redes sociais, o pagamento com cartão de débito ou crédito, até a verificação de estoques, a contabilidade em tempo real de compra e venda, transações com ações, aplicações financeiras e avaliações do comportamento de uma pessoa assim como o acompanhamento de sua condição física através de sensores.
Trabalhando em TI há mais de três décadas, sempre tive dificuldade de explicar, por exemplo, para a minha mãe, as diversas disciplinas de TI que estão por trás de resultados aparentemente simples, mas que exigem ações complexas e atualizações constantes. Por isso, dois vídeos recentes fizeram tanto sucesso em redes sociais, sendo que um deles reflete em seu texto o que um profissional de TI vivência no seu dia a dia.
Todo dia você acorda e já está desatualizado, não importa o quanto você estude porque já vão ter 10 pessoas com a metade da sua idade que estão anos luz à sua frente. E apesar de você tentar fazer o seu melhor, o que acontece? Dá pau, dá bug, e os feedbacks são sempre que "não é o suficiente". Sempre a culpa é do "sistema".
O segundo, representa muito bem a forma como a maior parte das demandas chegam para TI:
– Qual o sabor do pastel que o senhor quer?
– Estou com pressa, só tenho 5 minutos, mas vai fritando aí que ainda vou decidir e daqui a pouco eu te falo.
Brincadeiras à parte, TI é uma carreira emocionante e sempre desafiadora. Temos a possibilidade de entregar produtos e automatizar serviços importantes e alguns imprescindíveis para o dia a dia de todos, podendo ser utilizados por diversos países e indústrias. Seja nas áreas de humanas, saúde, prestação de serviços ou tecnológicas, ser um profissional de TI nos dá a certeza de que deixaremos um legado que contribui para o desenvolvimento e o progresso
No mercado de seguros, independente do ramo, temos um leque de oportunidades para colocar a TI como o início, meio e fim para se viabilizar o negócio.
Existem duas áreas dentro da TI que não são tão lembradas pelos usuários, mas que são fundamentais para sustentar o negócio: infraestrutura e segurança da informação. A importância destas áreas é ímpar e elas estão sempre trabalhando à frente das solicitações de demandas do nosso dia a dia. Ferramentas de comunicação, telecom, nuvem, hiperconvergência, SD-WAN não são soluções colocadas no ar de um dia para noite em uma empresa com anos de mercado, sólida e madura tecnologicamente. Estas áreas estão sempre alguns anos à frente das demais para conseguirem suportar um aumento de volume e/ou fusões e aquisições. Em paralelo, a área de arquitetura de software e solução precisa trabalhar também com esta pegada de olhar para o futuro para garantir a escalabilidade, desacoplamento e atualizações tecnológicas tão necessárias no desenvolvimento deste novo mundo.
As arquiteturas corporativas e de integração são imprescindíveis para que a TI e a estratégia do negócio caminhem juntos, viabilizando negócios entre empresas de verticais distintas e desacoplando o que deve ser desacoplado. Quem já não ouviu falar de APIs? A API não nasce repentinamente. É preciso definir a estratégia, selecionar o fornecedor do portal, desenhar todo o modelo canônico, conhecer bem o negócio, definir as métricas e monitoração, para finalmente ter a sua prateleira repleta de informações que poderão ser consumidas como serviços prestados pela sua própria empresa ou pelos seus próprios clientes.
Trabalhar com métodos ágeis, com governança e suportado por uma tecnologia é o que temos de melhor hoje. Eu, que fiz o curso da Rational em 1995, RUP, velho método cascata, e também a certificação do Kanbam em 2018, sei que a transparência, rapidez na identificação do ponto do problema, acompanhamento do fluxo são incomparáveis neste mundo de mudanças constantes que vivemos.
Não dá para trocar o recheio do pastel enquanto se está atendendo a uma demanda, pois, por vezes você não tem o ingrediente e ainda vai ter que pesquisar para ver onde compra, custo, aderência, integrações, antes de utilizá-lo. A cada término de fritura, você até pode colocar um novo pastel, já com o recheio correto, mas o tempo para que o profissional prepare esse novo pastel é inevitável, saudável em alguns cenários, mas precisa ser levado em consideração. Do contrário, com certeza a qualidade ficará prejudicada.
Enfim, para que suas entregas sejam consistentes e escaláveis, é preciso ter reaproveitamento, governança, sólidos alicerces, empatia e comprometimento com o seu cliente e com a empresa. Se você tiver vários grupos de pessoas desenvolvendo a mesma coisa, em linguagens e tecnologias diferentes, apenas com o objetivo de entregar mais rápido, seu negócio não ficará no ar por muito tempo. O custo vai disparar, a sustentação ficará inviável, o conhecimento vai estar na cabeça de cada profissional – e, como falei anteriormente, eles são cada vez mais novos, excelentes e movidos a desafios. O conhecimento tem que ser corporativo, da empresa; é preciso experimentar e inovar. Isso tem que fazer parte do nosso DNA.
Enfim, sempre ouvimos que o mercado segurador é tradicional e fortemente regulado, mas isto não atrapalha em nada a criatividade, inovação e atualização tecnológica. Pelo contrário, desafia para que cada vez mais sigamos fortes na governança e transparência, flexibilização e habilidade em dosar as entregas comerciais, legais e técnicas.
Patricia Gargiulo, superintendente de TI da Icatu Seguros.