O Brasil ganhou um forte aliado para colocar em prática o seu plano de internacionalização da indústria de tecnologia da informação. É a Índia, que ganhou fama no mundo pelo modelo bem-sucedido de exportação de TI, é a nação que mais fatura com a terceirização de serviços de software, hardware e call center, com movimento anual de cerca de US$ 20 bilhões e que tem metas para elevar a receita de offshore para US$ 60 bilhões até 2010. O país de Mahatma Gandhi quer somar sua experiência com a criatividade das empresas brasileiras para explorar novos mercados e busca parcerias para possíveis joint ventures.
Gigantes como Infosys, Wipro e empresas de médio porte estão avaliando o mercado brasileiro e têm interesse de operar aqui, informa o cônsul-geral da Índia no Brasil, Yogeshwar Varma. Elas querem trilhar o caminho da Tata Consultancy Service (TCS), subsidiária de tecnologia do conglomerado Tata, que desembarcou no país no final de 2002 por meio de uma joint venture com a brasileira TBA, e da Satyam Computer Services, que se instalou aqui no ano passado. Ambas são companhias com operações globais e que faturam acima de US$ 1 bilhão.
?Temos muito interesse em fechar acordos de colaboração na área de tecnologia da informação com o Brasil e estamos buscando parceiros para joint ventures?, afirma Varma. Ele diz que a indústria brasileira de TI é muito criativa, tem custo competitivo de mão-de-obra e pode ser uma grande aliada para ajudar a Índia a entrar com mais força na Europa. Hoje os indianos são muito fortes nos Estados Unidos, mercado que responde por mais de dois terços do faturamento de suas exportações. Já no velho continente, a penetração é pouco representativa.
A Índia fornece serviços para Inglaterra, Irlanda e outros países europeus, mas o volume de negócios na região ainda é muito pequeno para o potencial do continente. ?A Europa não foi tocada ainda e tem muitas oportunidades lá?, constata o cônsul indiano, que aposta nas habilidades dos brasileiros para entrar nesse mercado. Ele reconhece que os profissionais brasileiros perdem por não dominarem o idioma inglês, mas acredita que esse problema vai ser resolvido e enxerga outros pontos fortes do país como capacidade de inovação e afinidade com as línguas espanhola e italiana. Os grandes alvos da Índia na Europa são Espanha, Itália e Alemanha, que segundo Varma, são mercados com grande demanda por bons serviços de TI.
O interesse da Índia pelo Brasil não é só para disputar o mercado externo. As empresas querem vir para cá também para explorar as oportunidades locais, que segundo a IDC ainda tem muito espaço para crescer. Segundo Maurício Monteiro, analista de mercado da consultoria no Brasil, cerca de 50% do faturamento do País com TI, que no ano passado foi de aproximadamente R$ 35 bilhões, ainda vêm da venda de hardware. Os negócios com serviços geraram uma receita de R$ 12 bilhões, sendo que o outsourcing contribuiu com R$ 4 bilhões.
Para ajudar os dois países em acordos de colaboração na área de TI, o governo indiano está promovendo encontro de negócios com empresários das duas nações. Em março deste ano, o consulado levou cinco empresas brasileiras para participar da feira InfoSoft 2006, realizada na cidade de Chennai. Varma anuncia que uma segunda missão está prevista para o segundo semestre. Desta vez, o consulado espera levar para Índia de 20 a 25 empresas brasileiras para reuniões de negócios durante uma grande feira de TI. Serão selecionadas companhias de médio porte para possíveis joint ventures.
Durante levantamento realizado no ano passado sobre o mercado de exportação de TI da Índia, o analista da IDC constatou que há empresas médias que faturam US$ 200 milhões avaliando o mercado brasileiro.
Algumas manifestaram interesse em vir para o Brasil, caso haja uma oportunidade de parceria ou joint venture com companhia nacional de porte semelhante. Entre estas estão: ITC Infotech, Caritor, Sonata Software e vMosksha. Todas têm clientes globais, inclusive no Brasil.
Revisão do modelo de negócios
O interesse da Índia em estabelecer alianças com o Brasil não é por acaso. O país descobriu nos serviços de TI uma mina de ouro e investiu pesado nesse mercado para conquistar sua liderança, com a criação de um modelo de exportação que foi muito bem-sucedido. Mas após mais de 20 anos, reinando sozinha, a competição bateu à porta, com a chegada de outras nações emergentes, como é o caso da vizinha asiática China, Rússia e o próprio Brasil. O novo quadro exige uma reação, com mudanças na operação e parcerias com outros países. Nesse cenário, o Brasil pode ser visto mais como um aliado que um concorrente.
Monteiro observa que a Índia se destacou nesse mercado com a oferta de serviços básicos, sem muita inteligência e por oferecer mão-de-obra abundante a preços competitivos. Com a chegada dos novos jogadores, as empresas não poderiam reduzir os custos dos serviços e que o caminho que elas encontraram foi agregar valor às suas soluções e se especializar em produtos para mercados verticais, como setores de telecomunicações, finanças e manufatura. A revisão do modelo também passa por adoção de políticas mais agressivas de recursos humanos para reter talentos, já que a valorização dos profissionais começou a gerar um grande turn over nas companhias.
Com parte dessa nova estratégia, as empresas passaram a olhar outros locais para instalação de centros de desenvolvimentos globais. O Brasil, por estar mais próximo dos Estados Undidos que a Índia, e levar vantagem no fuso horário, está sendo visto como um potencial aliado dos indianos. Tata e Satyam têm planos arrojados para transformar o Brasil em sede mundial para fornecimento de serviços de TI, unindo experiências e talentos dos dois países.