A Tecnologia da Informação está presente em todas as áreas da economia, dando suporte a processos dos mais simples aos que gerem um incontável volume de dados. Entretanto, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), até 2020 o segmento precisará de 750 mil novos profissionais para alcançar a meta de elevar sua participação no PIB do país para 6,5%. Esse cenário é preocupante e comprova que a oferta de especialistas em TI crescem de modo muito mais lento do que a demanda, tornando esse gap cada vez maior. E como resolver isso? A formação acadêmica é o caminho para a solução?
Essa formação é muito mais complexa atualmente do que na década de 80, por exemplo. Além do conhecimento tecnológico, que deve abarcar a constante inovação e integrar as ferramentas e tecnologias que aceleradamente surgem no mercado, torna-se cada vez mais importante e diferenciador a formação e o desenvolvimento das habilidades humanas, os chamados soft skills. Eles são, sem dúvida, o maior desafio enfrentado pelas empresas com os profissionais das gerações X e Y. Segundo as contratantes, a técnica pode ser ensinada, já essas questões humanas, nem sempre.
O terceiro ponto desafiador é a qualidade de ensino. Hoje o Brasil paga a conta de um período que fingiu formar profissionais de TI. Há sim inúmeras vagas, mas também inúmeras pessoas disponíveis no mercado que não preenchem os requisitos básicos para as oportunidades. Isso é reflexo desse período infeliz para a formação de mão de obra brasileira em tecnologia.
Tendo em vista nosso cenário, cabe às instituições anteciparem-se às tendências de TI e isso não é algo futuro, é pra já. A demanda de hoje não é a mesma que teremos daqui a poucos meses. Além das questões técnicas, também entra aqui a necessidade de abordagem das habilidades humanas. Liderança, gestão, relacionamento e habilidade para lidar com conflitos, aceites e negativas são alguns deles, que devem estar imersos no dia a dia acadêmico das faculdades de TI. E vale lembrar que abordagens pontuais, em palestras, por exemplo, não são suficientes. Estudar ética é chato, vivê-la, não. Ser reconhecido por essas habilidades é engrandecedor e motiva os alunos.
Simultaneamente, as empresas também têm seu papel e estão em uma linha tênue neste cenário. A reclamação vinda desse setor faz sentido, mas a mudança não vai existir com o esforço de um só lado. As parcerias entre universidades e empresas precisam ir além das palestras e da liberação de softwares para estudo, é preciso ter interação, conversas e projetos mais elaborados. Isso abre portas para os dois, com debates de questões importantes para companhias e experiência para os alunos. Ainda, provê correções imediatas, com as organizações apontando melhorias no conhecimento dos alunos em um ambiente ainda mais seguro do que um estágio, que também é de suma importância. Tal interação é fundamental para evoluirmos no preparo de profissionais de tecnologia no país.
Vale lembrar, ainda, que a formação de um profissional não acaba com o término do curso. Além da graduação, a formação continuada também é um desafio a ser superado. Isso é resolvido em partes no âmbito acadêmico, com cursos de extensão e pós-graduação, porém, esse ponto só estará integralmente sanado com a participação da empresa, novamente. O dia a dia é uma grande escola e as companhias que investem na capacitação de seus profissionais estão um passo à frente no mercado.
Em suma, a solução para o "problema" da formação em TI é sim da universidade, mas não apenas dela. É imprescindível que o mundo corporativo auxilie no desenvolvimento do profissional que deseja. Hoje, nenhum dos lados faz isso mal, porém, não fazem juntos. O mercado precisa compreender que o ambiente acadêmico por si só não basta, é preciso investir em seus colaboradores com cursos extras e treinamentos adequados às suas necessidades. O mundo corporativo não tem paciência para essa pós-formação e ela é extremamente necessária. A academia dá a base; a prática, o acabamento. Há ajustes na capacitação de um profissional que só o dia a dia oferece.
Maurício Pimentel, coordenador-geral da BandTec