De um lado, o aumento exponencial do volume de dados processados no mundo e o altíssimo nível de energia que estas instalações requerem. De outro, a pressão do mercado e da sociedade por ações de mitigação das emissões de carbono para conter as mudanças climáticas. O mercado de data centers vive um momento crucial de expansão, tentando encontrar equilíbrio entre crescer e os desafios da sustentabilidade.
O consumo de energia é ponto central dessa discussão. Ele deve aumentar cada vez mais com o avanço da Inteligência Artificial (IA) generativa e da ampliação da economia digital, que requerem infraestrutura de TI com alto desempenho e que, por consequência, produz muito mais calor para processar toda essa avalanche de dados.
Construídos há mais de 10 anos, a maioria dos data centers possui uma capacidade crítica de carga de TI inferior a 10 megawatts (MW). Hoje, não é incomum ouvir desenvolvedores anunciarem novas construções de 100 MW ou mais. As novas tecnologias estão impulsionando a escala extrema para novos desenvolvimentos, com requisitos agora variando de 300 MW a mais de 500 MW.
Com isso, os critérios de localização mudam drasticamente, com foco mais proeminente na disponibilidade de energia e prazos de entrega do que acerca de outros fatores. A escolha é estrategicamente orientada para lugares com potência de transmissão disponível, baixos custos de energia e fontes de energia renováveis abundantes, como eólica, fotovoltaica e até hidrogênio.
Mais do que isso, o equipamento altamente especializado necessário para suportar a IA vai transformar o design das instalações tradicionais também por dentro. A começar pela densidade do rack, que é a quantidade de equipamentos de informática instalados em uma estrutura metálica. À medida que aumenta a densidade do rack, com mais equipamentos e maior potência, sobe também a necessidade de resfriamento. Essa é outra mudança significativa, especialmente com a refrigeração líquida, muito mais eficiente que a refrigeração do ar.
E como fica a sustentabilidade?
Diante desse cenário de mudança e crescimento de mercado, como enfrentar pressões para minimizar o impacto ambiental das operações, mantendo uma fonte de alimentação confiável? A resposta aqui é uma só: aportar soluções eficientes de sustentabilidade para data centers que já existem e para aqueles que estão em desenvolvimento.
Os data centers sustentáveis são centros de dados que operam a partir de um consumo energético eficiente e com baixa pegada de carbono. Isso se dá por meio do uso, em especial, de fontes renováveis de energia, que reduzem as emissões de CO2 e o impacto ambiental. Além disso, é possível empregar tecnologias que permitam uma operação mais eficaz e eliminem desperdícios, ou seja, mais automação, sistemas de refrigeração modernos, entre outras ações.
A disponibilidade de energia é uma questão fundamental para a operação de data center, tanto quanto a de fibra óptica. A questão da energia é tão crítica que países como Estados Unidos e Holanda estão restringindo a implantação de novos data centers em algumas localidades. Isso abre oportunidades em outras regiões, como América Latina, com destaque para o México e o Brasil.
Nos próximos três anos, vamos testemunhar o crescimento acentuado do setor no Brasil. De acordo com o relatório de Data Center no país, da JLL, o mercado de data center é liderado por Campinas, enquanto o Rio de Janeiro está se consolidando com novos projetos em implantação. Para se ter uma ideia, está previsto para 2025, no estado fluminense, um investimento superior a 2 bilhões de reais em operações da CloudHQ, Equinix e Scala.
Por isso, é importante destacar que o planejamento de sustentabilidade para um data center verde tem que nascer antes até da escolha do terreno, fazendo parte dos projetos desde a concepção, como uma premissa inegociável. Isso porque a demanda energética, além de ser o maior custo para implantação, também representa um custo operacional elevado e impacta na performance de toda a operação. Reduzir 15%, 20% ou 30% no consumo de energia é uma cifra astronômica para qualquer empresa, ainda mais para um data center.
O primeiro passo para quem quer ser sustentável
É comum as empresas não saberem por onde começar sua jornada de sustentabilidade. Isso é ainda mais frequente nos operadores de data centers, devido à carência de indicadores e métricas no setor. É importante que isso seja definido desde a partida: quais informações, qual plataforma usar para controle dos dados e, assim, poder comprovar a eficiência do empreendimento verde. As certificações verdes, tais como a ISO 14001 e a LEED, são excelentes escolhas que contemplam também esse segmento, e que selam formalmente os compromissos das empresas que atuam neste setor com a agenda sustentável.
Para demonstrar a eficácia e fundamentar o investimento em iniciativas sustentáveis, é essencial estabelecer métricas claras e realizar medições regulares que permitam avaliar a implementação dessas práticas. Além disso, a elaboração de um plano de ação alinhado à estratégia da empresa é fundamental para que sejam definidas as prioridades de cada uma das iniciativas. Outro ponto muito importante é a seleção sustentável de fornecedores para aquisição de serviços e materiais, sendo crucial priorizar empresas que adotem práticas sustentáveis, contribuindo para uma cadeia de valor mais responsável. Para além dos impactos ambientais do consumo de energia e água, é preciso levar em conta outros aspectos para um empreendimento ser considerado sustentável. A sustentabilidade nos dias de hoje tem como base uma visão mais holística, que implica em uma responsabilidade socioambiental quanto à geração de negócios. Sabemos que existe um tempo de maturação deste novo conceito, mas é tempo de avançarmos. A transformação acontece todos os dias, das pequenas às grandes decisões no âmbito empresarial.
Luciana Arouca, Head de Serviços de Sustentabilidade da JLL e César Mello, Diretor de Projetos e Obras da JLL.