A maior fabricante de chips da China, a Semiconductor Manufacturing International Corporation, também conhecida pela sigla SMIC, anunciou a criação de uma joint venture com o principal centro de pesquisas em microeletrônica belga e a Qualcomm, gigante americana que produz chipsets para dispositivos móveis. Em comunicado, a companhia disse que o objetivo com o novo centro é desenvolver e produzir novas gerações de semicondutores para smartphones e servidores.
Quatro meses atrás, o governo chinês aplicou multa de US$ 975 milhões à Qualcomm, sob a alegação de que ela violou a lei anti-monopólio, e a obrigou a reduzir drasticamente o valor das taxas de licenciamento para seus chips cobrado de fabricantes de smartphones chineses. Anteriormente, a Qualcomm já havia contribuído com a empresa chinesa no desenvolvimento de chips.
O acordo para formação da joint venture vai permitir que a Qualcomm utilize mais empresas na China para produzir chips e opere no maior mercado de smartphones do mundo. Ele também pode ser uma tática da empresa para melhorar as relações com o governo chinês, de acordo com analistas ouvidos pelo The New York Times. "A Qualcomm fez um enorme acordo com o governo chinês, a partir da perspectiva de que necessita vender na China", disse Willy C. Shih, professor de tecnologia e gestão de operações na Harvard Business School. "À medida que ela ajuda a SMIC a fabricar chips, melhora a sua capacidade de vender os chips no país."
A joint venture terá também como parceira a Huawei Technologies, fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicações.
Interesse econômico
A Intel, rival da Qualcomm, já havia anunciado no ano passado que vai investir US$ 1,5 bilhão na Tsinghua UniGroup, uma empresa controlada pelo Estado que emergiu de uma relativa obscuridade para se tornar uma espécie de campeão nacional do chip. Também no ano passado, a IBM concordou em licenciar a uma empresa chinesa de tecnologia de chip avançado que funciona em servidores.
As novas parcerias de grupos americanos com empresas chinesas representam uma ruptura com a abordagem da última década, quando os principais fabricantes de semicondutores se recusavam a montar seus laboratórios de pesquisa e centros de produção na China, em grande parte, para proteger a propriedade intelectual, que custa bilhões de dólares por ano para ser criada. Para o governo chinês, o interesse em aumentar e melhorar a produção local é de cunho econômico. Em 2013, a China importou US$ 232 bilhões em semicondutores, mais do que gastou com petróleo.
"A Qualcomm realmente fez um belo acordo com o governo chinês", disse Mark Hung, analista da área de semicondutores do Gartner. Ele cita um acordo anterior com a SMIC para fabricação de chips, bem como o anúncio do ano passado de um fundo de US$ 150 milhões para investir em empresas chinesas.
O acordo, no entanto, pode gerar pressão por parte de alguns dos parceiros da Qualcomm, como a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, uma grande fabricante de chips que há muito tempo trabalha em estreita colaboração com a fabricante americana na produção de processadores.
Procurada pelo jornal americano, a Qualcomm se recusou a fornecer quaisquer detalhes financeiros sobre o acordo, mas o descreveu como um empreendimento importante é que "deverá ter um longo ciclo de vida".